Certas coisas são o que Jung chamou de sincronicidades, eventos que acontecem de forma tão bem casada que os reconhecemos como algo mais do que uma coincidência pura e simples. Há poucos dias atrás fui gentilmente convidado pela Mônica para atuar como colaborador aqui no designGráfico ? convite que me deixou agradecido e envaidecido, aliás ? e isso coincidiu com a preparação de um evento que não é marcante apenas para mim mas para todo mundo que estudou artes ou design na PUC, o aniversário do prof. Urian Agria e a exposição organizada para comemorar essa data: Urian Coletivo 70|50.
Para quem não teve a sorte de conhecer esse Velho Mestre, Urian Agria veio lá das margens do Amazonas em sua piroga para o Rio de Janeiro lá pelos idos dos anos 50 para estudar Belas Artes na então Universidade do Brasil (atual UFRJ) e já foi se intromentendo em tudo quanto era movimento político, estudantil e artístico. E não saiu mais. Ativista da cultura e do povo brasileiro, foi pegar um monte de moleques de classe média para cima na Zona Sul do Rio e transformá-los em gente. Ou seja, foi dar aula na PUC-Rio. Aula de pintura.
Só que o Urian é um péssimo “professor”. Talvez um dos piores que eu já tenha visto. Isso, claro, se considerarmos como “professor” alguém que pega o aluno e o molda em alguém socialmente aproveitável, respeitável e enquadrado, cheio de conhecimentos prontos, aprovados e comprovados na cachola. Isso Urian nunca fez. Ele não nos pegava no colo, dava um chute no traseiro. Não nos jogava um pacote de conhecimentos no colo mas nos instigava a descobrir o que queríamos conhecer e a correr atrás desse conhecimento; e a colocá-lo em prática. Sendo um péssimo “professor”, Urian tornou-se um grande Mestre. Mais do que ensinar a pintar, desenhar e ilustrar (e isso ele também conseguia fazer maravilhosamente) Urian nos mostrou o que era ser gente, cidadão e brasileiro.
E o resultado disso foi a efervecência cultural que a PUC viveu nos anos 90: Cuca, Coletivo Cultural, Gesta, Cordão do Boitatá, Noventania, MPB PUC, Terra Vista, Semana de Arte e Psicologia, Diário de Bordo, Semana de Sociologia, Canta João do Vale, Tempo de Reflexão, Manifesta Paixão, Cambralha. Suas palavras, idéias e atitudes se espalharam como tentáculos por todos os cursos em grupos de estudo interdisciplinares, música armorial, teatro, literatura, pintura e mais.
Foram 50 anos de carreira como artista e mestre de rapazes e moças que através da sabedoria simples pura e bela (ainda que dotada de uma boa dose de sacanagem) desse velho índio vieram a se tornar mais do que simples profissionais mas sim seres humanos capazes de não contribuir com a sociedade mas sim questioná-la e transformá-la em algo que não se afaste do coração humano. Humano e, fundamentalmente, brasileiro porque, como reza uma de suas famosas frases de efeito “nós já somos um povo, p#®R@!”.
Urian reside no Recife onde continua atuando na formação de jovens nas várias comunidades carentes da capital pernambucana, mostrando que aos 70 anos ainda tem muito, muito o que fazer pela frente.
Comemorando os 70 anos de idade e os 50 de carreira, a exposição Urian Coletivo 70|50 traz um pouco dessa história em fotografias e vídeos, trabalhos de Urian e seus alunos, além de uma série de eventos mostrando que frutos foram trazidos desse trabalho, nas palavras do próprio “como nos velhos tempos, agitando idéias, encontros, realizações, realimentando nosso axé individual e coletivo”.
Urian Coletivo 70|50Solar Grandjean de Montigny (PUC-Rio)
Rua Marquês de São Vicente, 225, Gávea – Rio de Janeiro
Abertura: quinta-feira, 13/agosto/2009, 19h
Encerramento: 17/setembro/2009, 17h
Programação: www.urian.com.br
Contatos: [email protected]