Tanto propaganda, quanto jornalismo, quanto design gráfico, quanto relações públicas, quanto artes cênicas, quanto artes plásticas, e quanto outro montão de áreas, são da área da comunicação. Podemos dizer que temos a
- comunicação escrita,
- comunicação ilustrada,
- comunicação falada,
- comunicação em grupo,
- comunicação em massa,
- comunicação consigo mesmo,
- comunicação por ação,
- comunicação impressa,
- comunicação química,
- comunicação pelo tato,
- comunicação por símbolos,
- comunicação por sons,
- comunicação por cultura material,
- comunicação por imagens,
- comunicação pelas artes
- etc
- etc
- etc
Se você é jornalista, deve ter estudado Teoria da Comunicação, e deve ter aprendido que diferentes áreas dão diferentes enfoques ao que se entende como comunicação. Uma coisa é certa: comunicação é condição para que exista a sociedade, comunicação dá dinheiro e comunicação todo mundo quer fazer.
Os meios como podemos comunicar, o tipo de mensagens que enviamos, o código utilizado, a escolha do conteúdo, o tratamento dado à mensagem, e assim por diante, mudam de área pra área.
O que diferencia o design gráfico de outras áreas, é o enfoque visual dado à comunicação e não apenas o verbal. Tanto o jornalismo, a propaganda e o design gráfico se aproximam, quando se trata da preocupação com a apresentação visual da informação. Isso gera esse tipo de disputa, onde um acha que tem mais direito ou primazia no tratamento visual da mensagem. Alguns profissionais formados nas faculdades de comunicação social querem ser diretores de arte. Os designers gráficos também. Quem deve ser responsável pela comunicação visual, dentro de uma agência de comunicação?
Eu defendo que você pode cuidar da apresentação visual, independente da sua profissão. Você pode ser pipoqueiro, cuspidor de fogo, publicitário, médico ou advogado e pode emitir mensagens visuais desde que você tenha competência pra isso. E a competência para emitir esse tipo de mensagem depende de alguns requisitos, dentre eles:
Conhecimento fundamental sobre
- objetivos de comunicação
- emissores de mensagem (incluindo suas habilidades de comunicação, atitudes, nível de conhecimento, posição no sistema social e no contexto cultural)
- receptores da mensagem (idem acima)
- canais utilizados
- mensagem (elementos e estrutura do código visual, conteúdo, tratamento visual da mensagem)
- codificação e decodificação de mensagens através da percepção visual
- processos de previsão da reação comportamental à mensagem visual, usando empatia, papéis sociais e contexto cultural
- processos de interpretação de mensagens visuais e seus condicionantes culturais (semiótica)
- técnica de representação visual (por meio de computadores, softwares gráficos ou por outros instrumentos)
- técnicas de produção gráfica
Dentro do conhecimento fundamental sobre a mensagem, podemos alistar também conhecimentos sobre
- elementos visuais (ponto, linha, plano, formas, cor, tipografia, texturas, padrões, imagens de toda natureza)
- princípios de composição (unidade, ritmo, harmonia, escala, proporção, equilíbrio, figura/fundo, enquadramento, hierarquia, modularidade, grid, diagramas, tempo)
Quando possível, é desejável que também tenha conhecimentos sobre
- história da arte e da comunicação por imagens
- antropologia cultural
- sistemas de informação visual
- imagem sequenciada
- desenho e ilustração
- interação humano-computador
- mercadologia
Se uma pessoa tem essas competências, ela tem toda liberdade pra emitir mensagens visuais e até participar de um concurso público que exija esse tipo de habilidade.
Então, qual a diferença entre um curso de publicidade/propaganda e um curso de design, se nos 2 cursos, as competências “fundamentais” são ensinadas? A diferença principal é o tempo. Numa faculdade de publicidade (tomando a Universidade Federal do Paraná como exemplo), os alunos tem 2 disciplinas para aprender sobre elementos visuais e princípios de composição. Isso significa 180 horas no total (4 créditos de 45 horas). No curso de design gráfico, da UFPR, os alunos gastam 1260 horas (28 créditos de 45 horas) para aprender esse mesmo conteúdo, podendo se dedicar a ele com mais profundidade e detalhe.
Em compensação, o curso de Publicidade tem conteúdos que o design gráfico não tem, como
- Sociologia,
- Filosofia,
- História Contemporânea,
- História da Mídia,
- Sociedade e Cultura,
- Comunicação e Tecnologia,
- Planejamento em Comunicação e Marketing, Comunicação Integrada,
- Introdução à Publicidade e Propaganda
- Psicologia do Consumidor
- Língua Portuguesa I
- Redação Publicitária
- Produção Publicitária em TV, Áudio e Cinema
- Técnicas de Veiculação (Mídia)
- Técnicas Básicas de TV
Como pode se notar, esses conteúdos são essenciais para um publicitário, mas no que diz respeito à construção de mensagens visuais gráficas, eles não são suficientes. Como algumas pessoas preferem trabalhar como diretores de arte, pode ser necessário complementar a faculdade de publicidade com um curso de design, ou estudando como auto-didata.
E o contrário também pode acontecer: um profissional formado em design gráfico, que queira trabalhar em agência de propaganda, também pode precisar estudar conteúdos que são dados em faculdades de comunicação social, para entender a relação entre as mensagens visuais e os demais fatores da comunicação, como contexto cultural, objetivos, suporte/mídia, atitude, conhecimento e habilidade do receptor etc.
Essa comparação que eu fiz, foi baseada na realidade da UFPR, universidade da qual faço parte. Se vocês conhecerem outras realidades, e quiserem contribuir para a discussão, fiquem à vontade, seria legal ter outros pontos de vista, mesmo discordantes, pra crescermos juntos =)
Ricardo Martins