Quem estava, viu.
De 18 a 21 de abril aconteceu o 5º R Design RJ/ES em Campos dos Goytacazes. Polêmico (a começar pelo debate sobre o suposto plágio da marca) e isolado (o único evento do tipo que também acontece todos os anos no primeiro semestre é a ExpoCone Design Norte-Nordeste), o R caiu nas graças do autor que vos fala por tratar de um tema que tem virado tabu nos últimos tempos: o mercado de trabalho e o lucro. Sempre foi costume brasileiro ter vergonha do lucro, e não é segredo pra ninguém que estude organizações que esta atitude é uma das causas de um certo “travamento” no desenvolvimento da indústria nacional. Como as pessoas admiram quem tem ideais, e ganhar dinheiro não é exatamente um ideal muito romântico, empresas passaram a mascarar suas naturezas por trás de atividades sociais ou culturais. Mas todo mundo tem que botar comida na mesa, e o designer não é exceção. Assim, em tempos de discussões pra todo lado sobre o papel do designer em relação à sustentabilidade, atividades sociais e o engajamento idealístico, o tema do evento – “venda seu peixe” – foi mais que pertinente: foi uma lufada de ar não-viciado direto pros pulmões.
As opções profissionais dos designers (com exceção de moda) de uma maneira geral não costumam variar, e giram ao redor das seguintes opções:
– Criar carreira em um escritório de prestação de serviços em design (agência de publicidade, empresa de design, escritório de arquitetura, etc);
– Criar carreira em um departamento de design dentro de uma empresa, para atender demanda interna (editoras como Abril, indústrias como Wolkswagen e Electrolux);
– Ser 100% autônomo (trabalhar sozinho, sem dividir tarefas nem dividendos com ninguém – aqui se inclui quem monta Empresa Individual);
– Montar uma empresa de design (com 1 ou mais sócios).
Cada caso possui suas particularidades, que variam de acordo com a área de atuação. Um ilustrador, por exemplo, quase com certeza trabalhará como autônomo, prestando serviços para editoras, agências e quem mais tiver interesse, sempre como terceirizado. Isto é necessário porque, na ilustração, pode-se passar um mês se trabalho nenhum, seguido de um mês com jornadas diárias de 15 horas, sem fins de semana, apenas para atender a demanda. Além disso, não importa se o ilustrador está na cidade do contratante ou em Kuala Lumpur – o que importa é que mande o serviço no prazo (abençoada internet!).
O mesmo não vale para quem deseja trabalhar com mobiliário, atendendo micro e pequenas indústrias. Neste caso, como a maior parte das empresas é familiar, com cultura mais conservadora, é fundamental o contato direto do designer com a própria – e, provavelmente, todas as negociações serão feitas diretamente com o proprietário da empresa (e sua esposa, seu sobrinho, seu irmão…). Se o designer não souber “vender seu peixe” nesse caso, é como diriam meus colegas gaúchos: um abraço pro gaiteiro. Se educá-lo para o design dá trabalho, pelo menos a recompensa vem em dobro: as MPEs (micro e pequenas empresas) são as que menos utilizam o design, mas ao mesmo tempo, correspondem juntas a uma parte assombrosa do PIB brasileiro. Um tremendo nicho de mercado, portanto.
Quem esteve no R pode ver depoimento de quem trabalha com todas as pontas desse prisma, e os contrastes que a perspectiva de cada um traz ao tema. Posso soar um tanto suspeito – afinal, a palestra de abertura foi minha – mas é difícil encontrar um mix tão bom de palestrantes. Ou o cidadão carece em didática, ou superestima o próprio material, ou se perde em pirotecnias visuais, “engrupindo” quem está assistindo, que sai feliz mas sem aprender nada. Ponto pra Corde, a comissão organizadora do R Design.
E ponto para a delegação Poliana, por mais um fabuloso campeonato de Sacovelocidade nos corredores do alojamento (na busca por fotos significativas do evento, não resisti e selecionei esta. A felicidade nos rostos das jovens me traz alegria ao coração!).