Gráficos x Diversão

Atualmente há uma grande discussão correndo na indústria de jogos eletrônicos. Profissionais e jogadores discutem uma questão que não é nem um pouco simples: gráficos super realistas são mesmo necessários?

Basicamente dá para identificar três correntes de pensamento a esse respeito: os que acham imprescindível a melhoria constante dos gráficos, e que adoram quando se lança uma nova geração de consoles; os que acham que o primordial em um jogo é a diversão, mas que é necessário produzir gráficos interessantes; e aqueles que acham que gráficos devem ser trabalhados ao mínimo, dando total foco à uma mecânica de jogo divertida (os mais raros).

O que levanta essa questão obviamente são as desvantagens do desenvolvimento de gráficos realistas. Essas desvantagens são principalmente de ordem técnico-econômica: produzir arte suficiente para jogos com gráficos realistas, como modelos 3D, texturas, pinturas digitais, programar física de iluminação, shading, raytracing etc consome muito tempo e dinheiro. Grandes jogos para os consoles de melhor processamento gráfico desta geração tem custos de produção chegando a 30 milhões de dólares. Imagine ter o retorno abaixo do esperado após produzir um jogo por um período entre 3 e 5 anos e com custo de produção de 30 milhões de dólares (que pode subir a 60 mi na próxima geração de consoles, segundo Yves Guillemot, CEO da Ubisoft).

Outro acontecimento comum que levanta essa questão é a péssima resposta que alguns jogos recebem dos consumidores. Jogos com gráficos quase fotográficos, com enredo cinematográfico têm potencial para causar um profundo efeito de imersão, mas esses fatores não são garantia disso. Muitos desses jogos têm foco tão grande na produção dos gráficos, que os desenvolvedores se esquecem do mais básico: um videogame é feito para ser jogado e divertir. Mecânicas de jogo pouco inovadoras, limitantes (comum em jogos com enredo muito elaborado) ou simplesmente mal projetadas são possíveis causas de repulsa ou simplesmente de um replay value muito baixo: os jogadores não têm vontade de re-jogar o jogo.

Por outro lado, a crescente indústria de jogos casuais e jogos em HTML (que podem ser jogados em navegadores de internet) mostra que mesmo jogos com gráficos simples ou até mesmo “nenhum gráfico” podem tornar um jogo um sucesso. Afinal, esses jogos estão divertindo as pessoas, mesmo que não estejam enchendo seus olhos. Os belos gráficos podem ajudar ou ser até mesmo o principal motivo de escolha de grande parte dos jogadores por determinado jogo (eu mesmo dou preferência a jogos com gráficos realistas), mas eles não são suficientes para sustentar as vendas a longo prazo, por que muitas vezes não conseguem sustentar nem a satisfação de quem os comprou.

Gráficos versus Diversão

Essa crescente industria dos jogos casuais pode vir a ser uma boa oportunidade para o Brasil. Atualmente, a grande maioria das produtoras no país não são capazes de competir em gráficos com as grandes produções estrangeiras, mas têm tudo que se necessita para produzir jogos casuais para computador e celular. Apenas para alertar: ser casual não significa ter gráficos mais simples, mas o mais comum é que os jogos assim classificados tenham gráficos simples mesmo.

Sob o ponto de vista do design, jogos com gráficos ultra realistas também apresentam outro problema: falta de identidade visual. O realismo “não tem estilo”, por assim dizer. À medida que os gráficos se aproximam da realidade, eles vão perdendo o estilo associado à abstração que o artista usa para solucionar os gráficos, perdendo assim algumas de suas características visuais marcantes. Há uma quantidade de jogos, principalmente os de tiro em primeira pessoa ambientados na Segunda Grande Guerra, que são quase indiscerníveis entre si a não ser por pessoas que já os conheçam bem.

Concluindo: super gráficos são muito interessantes e admiráveis, mas os jogos foram feitos para divertir, e se não divertirem, não há gráfico no mundo que os vá pagar!

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