Leia o seguinte texto e tente descobrir sobre qual área de atuação ele fala:
“As fase do plano de trabalho são:
Fase de orientação: aqui se decide o que deverá ser desempenhado, quais os desejos e necessidades reais do consumidor, quais as características e propriedades desejadas quanto ao peso, dimensões, aparência, vida desejada, etc.
Fase de informação: devem ser coletados todos os fatos e informações disponíveis sobre: custos, quantidade, fornecedores, métodos de manufatura, informações sobre o mercado fornecedor, controle de qualidade, embalagem, etc. Deve se determinar qual a quantia que poderá ser razoavelmente gasta em cada um dos fatores em vista das quantidades, custos e outros fatos pertinentes. As funções devem ser estabelecidas, definidas e avaliadas. Devem ser definidas as funções secundárias (funções que não representam a essência do valor).
Fase criativa: após adquirir e entender as informações, são geradas as alternativas. Elas devem ter como consequencia a eliminação de funções desnecessárias ou maneiras mais simples de satisfazer a função requerida.
Fase de análise: aqui cada idéia é avaliada e julgada, de modo a indicar qual alternativa irá funcionar. As idéias são quantificadas e prioridades são estabelecidas.
Fase de planejamento do programa: dividir o trabalho numa programação das áreas funcionais, por exemplo, mecânica, elétrica, proteção (ou conteúdo, programação, projeto gráfico, impressão, acabamento, etc).
Fase de execução do programa: aqui coletam-se mais informações pertinentes e as especificações são confirmadas. Avalia-se o impacto sobre a qualidade, os clientes, usuários, etc.
Fase de resumo e conclusão: um relatório é feito sobre os resultados obtidos e alcançados.”
Isso parece a descrição das fases envolvidas no trabalho de design, certo? Sim, parece.
Só tem um detalhe: esse texto não foi tirado de um livro de design. Foi tirado de um livro sobre Análise do Valor (ou Gerenciamento do Valor), que descreve um método de trabalho proposto por Lawrence Miles, a mais de 60 anos atrás (1947). Ele não era designer, era apenas um engenheiro preocupado em reduzir custos no processo de produção, de maneira criativa, sem prejudicar o nível de satisfação do consumidor. Já em 1947, os engenheiros perceberam que era possível realizar as mesmas “funções”, sem necessariamente precisar gastar mais materiais e consumir mais recursos naturais. Isso é exatamente aquilo que hoje se decidiu chamar de “desmaterialização”, e constitui num dos pilares do design de serviços e num dos princípios defendidos pelo design sustentável.
O que é curioso nisso tudo é ver como alguns engenheiros já tinham uma visão que procurava integrar diferentes perspectivas (do cliente/usuário, do mercado, dos projetistas, dos fornecedores, dos produtores etc.) realizando aquilo que hoje é a base do design.
Teriam sido os engenheiros de valor, na verdade, designers disfarçados?
Será que nós designers não teríamos muito a aprender com esses engenheiros?
Pra quem quiser saber mais, fica a dica do livro “Análise do Valor”, de João Mario Csillag, da Editora Atlas.