Regine Rack
Estou escrevendo alguns artigos para um congresso e resolvi estudar os currículos dos cursos de design oferecidos no país, incluindo suas diversas habilitações. Não é difícil; exceto por algumas poucas faculdades, todos divulgam em seus sites a estrutura curricular (nota: no meio da navegação, achei por acaso uma escola de administração que esconde a grade de disciplinas com medo de ser copiada. Surreal? Inacreditável? E a escola é daqui de Florianópolis…).
Ainda que as habilitações sejam diversas (moda, produto, gráfico, webdesign, editorial, mobiliário, mídias eletrônicas, jóias, etc), fiquei pasma com a diversidade de currículos. Não há nem mesmo uma grade básica de conhecimentos que todos precisem aprender. Para se ter uma idéia, menos de 30% dos 235 cursos de graduação em design oferecidos no Brasil contam com a disciplina gestão do design. Em cursos de design de produto, por exemplo, não encontrei dois com mais de 50% de disciplinas comuns a ambos (excetos os oferecidos pela mesma rede de faculdades).
Isso me leva a lamentar um fato que acabei sabendo no decorrer da pesquisa: uma faculdade de design instalada em Joinville teve recentemente suas portas fechadas (só descobri perguntando para um amigo que mora e trabalha lá, pois o site simplesmente saiu do ar sem dar maiores satisfações). Pois ele me contou que os alunos pêgos de surpresa no penúltimo semestre, ao tentarem concluir o curso em outra faculdade, tiveram uma notícia desagradável: descobriram que teriam que cursar mais três anos para alinhar as disciplinas. Não é revoltante? Como é os currículos podem ser tão diversos em um mesmo curso, na mesma habilitação, na mesma cidade?
Imagino que algum tipo de variação aconteça na maioria das graduações e com dentistas e advogados não seja diferente. Ainda que engenheiros possam sofrer com mudanças de currículos, todas as habilitações, sem exceção, precisam estudar cálculo integral e física, por exemplo, além de álgebra e mecânica dos fluidos. É básico. Por que é que nos cursos de design não acontece assim também?
Dá impressão que cada faculdade escolhe o que gosta mais ou o que acha mais interessante e manda ver. Se o curso explodir, paciência, os alunos que paguem. É claro que não deve ser assim, tenho certeza de que há um trabalho sério que fundamenta cada escolha, senão o MEC não iria aprovar, mas talvez as diretivas sejam excessivamente genéricas. Também não dá para dizer que um curso seja melhor que outro apenas olhando as disciplinas – há muita gente séria tentando fazer o melhor que pode. Mas como conviver com tantas e tão gritantes diferenças em formações que deveriam ter muito mais pontos em comum?
O preocupante é que você não sabe se o designer que está contratando conhece gestalt ou semiótica, já que nem todos os currículos incluem esses tópicos. Há cursos onde não se estuda nem mesmo teoria das cores. Que fique bem claro que não estou defendendo que os currículos sejam engessados; há que se respeitar as necessidades e a realidade de cada região, de cada mercado, da intenção e dos objetivos de cada projeto pedagógico. Mesmo assim, não faz sentido que duas habilitações com o mesmo nome, ambas autorizadas pelo MEC, tenham mais de seis semestres de disciplinas diferentes em seus currículos, concorda?
Eis aí uma boa questão para os profissionais de design se debruçarem. Como regulamentar uma profissão tão heterogênea na formação de seus profissionais? Como organizar essa bagunça sem nivelar por baixo e nem prejudicar os estudantes?
A questão está lançada…