Foco de nove entre dez projetos, a sustentabilidade se transformou em palavra de ordem no design
O Estado de São Paulo
Domingo, 6 janeiro de 2008
Tampo de cristal de última geração e base em ripas de caixote. Combinação inusitada? Decerto. Mais ainda se considerado o pai da façanha: o arquiteto Aurélio Martinez Flores, purista em sua arquitetura, mas que optou pela madeira reciclada para desenvolver uma sofisticada e exclusiva linha de móveis para a Firma Casa. Mesas e poltronas de acabamento primoroso, que fazem de suas imperfeições seu principal recurso.
Foco de nove entre dez projetos, em 2007, a sustentabilidade se transformou em palavra de ordem no design. Em alta entre os profissionais, matérias-primas recicláveis como vidro, metal e madeira voltam a ocupar um espaço até bem pouco tempo ambicionado pelos plásticos. Como na Bergère Glass, poltrona de cristal de Guilherme Leite Ribeiro e André Bastos, construída a partir de um desenho de 1720.
Ícone do design brasileiro e mestre no tratamento da madeira, Sergio Rodrigues também marcou presença e comemorou seus 80 anos em grande estilo. Além da Mole, suas cadeiras Oscar e Lúcio Costa foram reeditadas pela Dpot e recebidas com entusiasmo pela crítica e o público, em retrospectiva na última edição da Semana do Design de Milão.
Área na qual os avanços tecnológicos se fazem sentir com maior nitidez, em 2007, a iluminação não fugiu à regra e fez da redução do gasto energético sua maior prioridade. Na raiz das transformações, o advento dos ?leds?: diodos de baixo consumo, cada vez mais potentes. Tecnologia presente na Cut, luminária de Fernando Prado, da Lumini, que além da primeira colocação no International Forum Design, de Hannover, Alemanha, conquistou o primeiro lugar em sua categoria na premiação do Museu da Casa Brasileira.
Sensível a valores de ordem simbólica, o projeto industrial – direcionado à produção e ao consumo em larga escala – reservou também boas surpresas para o consumidor. Caso do sistema Carrapixxxo, que marca a primeira incursão do designer Guto Índio da Costa na área de mobiliário e lhe deu a lhe deu a primeira colocação no Salão Design Casa Brasil: dono de uma leveza ímpar, com prateleiras que parecem flutuar, o projeto propõe inúmeras combinações para a montagem de estantes. Uma elegância rara, perceptível ainda na coleção desenvolvida por Arthur Casas para a Riva: utilitários e talheres, dede aço e prata, inspirados no desenho da cobra jararaca.
Nos domínios da decoração, o ano de 2007 assinalou a primeira experiência da marca Casa Cor em terras européias. Mais especificamente na capital da Suécia, Estocolmo, onde, na versão inaugural, o evento reuniu 60 profissionais, incluindo brasileiros. Destaque para o Brazilian Reading Room, de Patrícia Martinez: uma sala de contornos femininos e tonalidades suaves, onde a arquiteta homenageia seu país fazendo bom uso das fibras naturais.
Por aqui, a Casa Cor São Paulo e Rio não ficou imune às preocupações com a reciclagem das matérias-primas. Um exercício levado a cabo, por exemplo, no Bar do Condomínio assinado por Brunete Fraccaroli, que trouxe para a elegante sede do jóquei paulistano a sua versão muito particular de luxo: uma luminosa parede sugerindo cristais, mas construída, de fato, a partir de garrafas de água PET empilhadas.
Além das embalagens plásticas, a madeira reciclada foi hit na mostra carioca, aparecendo em profusão na sala de Patrícia Carvalho e Adriana Graça Couto. Ou ainda no vanguardista ambiente de Maurício Nobrega, onde, num futuro não muito distante, caixotes substituirão mesas de cabeceira – a conferir em 2008