Não sou psicólogo, claro, mas sou profundamente interessado na mente humana. Gosto de tentar entender como ela funciona (ou não) e analisar o comportamento de grupos e pessoas. O mundo do design é um terreno fértil para isso. Somos muito diversos na forma de agir, pensar e trabalhar. Essa diversidade toda renderia material de sobra para uma tese de doutorado, mas a questão que quero abordar é outra: a arrogância.
Vira e mexe, dizem que primamos por ter o nariz empinado. Sermos deuses. Sermos donos absolutos da verdade. Definitivamente, não sou o exemplo mais bem acabado daquilo que as pessoas esperam de um designer. Frequentemente misturo o design com a arte, visto roupas meio normais, não tenho a fala afetada, não uso termos complicados e minha única excentricidade (!) é cortar meu próprio cabelo há mais de 20 anos.
Mesmo não tendo a imagem estereotipada de um designer (mas em nome da ‘ciência’), serei o voluntário para esse breve e superficial estudo sobre o comportamento dessa raça tão estranha e sua gente tão esquisita. Entendo por arrogantes aquelas pessoas que estão certas a respeito de tudo o tempo todo. Ora, designers fazem design! Sendo um deles, pressuponho, então, que eu conheça mais sobre design do que os não-designers. Sou contratado para resolver os problemas dos clientes nessa área. Assim, quando emito uma opinião, é no sentido de colocar minha bagagem de conhecimento a serviço do cliente. Oferecer o melhor. O que funciona.
É claro que cada cliente é único e cada trabalho é um aprendizado. Por conta disso, quando estou caminhando no território dele, o cliente é ‘o cara’. Devo ter humildade para aprender, ouvir (de verdade) e absorver muito. Passado esse momento, é hora de arregaçar as mangas e ir para a prancheta (prancheta é força de expressão, apesar de ter uma de estimação aqui no estúdio…). Aí o show é meu (nosso)! Visto a camisa do cliente e faço suar a minha em busca de resultados. Extraio a essência do briefing e devolvo o meu melhor! Invado a área e tento marcar o gol com a propriedade e confiança de um Zidane (na maioria das vezes sem dar cabeçadas no Materazzi!). É para isso que sou pago e é isso que sei fazer razoavelmente bem!
Até mesmo no meio do processo, mantenho as antenas erguidas e os ouvidos ligados. Se os redirecionamentos do cliente forem pertinentes e bem fundamentados, não vejo o menor problema em desviar a rota. Caso contrário, é minha vez de mostrar um argumento bem alicerçado e coerente a fim de mostrar para o cliente o porquê daquele caminho. Sei que o cliente não é ‘da área’, então procuro usar termos compreensíveis e aceitar ‘na boa’ os termos errados que ele possa usar (ele deve fazer o mesmo comigo…). Autoconfiança, meu povo, não pode ser confundida com arrogância!
Ser bom naquilo que você faz é fruto de trabalho árduo, estudo, dedicação, interesse (e, por que não, motivo de orgulho?). Com alguns quilômetros de rodagem e MUITA coisa para aprender ainda, caminho no terreno do design com certo conforto. Diferentemente de outras praias, aqui costumo me sentir em casa. Tenho consciência, no entanto, que não sei nem nunca saberei tudo. É essa ignorãncia que me tira da cama todos os dias e me faz vir para o estúdio, nessa deliciosa mistura de trabalhar e aprender.
Vejo meu trabalho como outro qualquer. Chego no estúdio às 7 da matina e vou embora lá pelas 6 da tarde. No meio disso, dou o meu melhor. Tentaria dar o meu melhor, também, caso fosse quitandeiro, jogador de futebol, médico, mecãnico ou sapateiro (como foi meu avô).
Tenho certeza que com você é assim também!
Agora, se você quiser conversar sobre gastronomia, economia, física quântica, televisão ou astrologia, definitivamente não sou o cara mais indicado para falar, mas será um prazer te ouvir.
Um abraço:
Morandini
Texto © Morandini – Pode ser reproduzido desde que citado o autor e o link www.morandini.com.br