Na contramão das empresas que estão indo à falência por causa da crise econômica, a americana Apple veio a público na semana passada anunciar um lucro 15% maior no trimestre. Especialista em fabricar objetos de desejo, como o tocador de música digital iPod, a companhia casa infinitas possibilidades tecnológicas com investimento em pesquisa para chegar às linhas modernas e de fácil manuseio que sustentam nas alturas o império do mago Steve Jobs, o criador da marca. É uma empresa antenada, capaz de despertar emoções nos consumidores que se sentem únicos ao adquirir seus produtos. Parece que Jobs e sua equipe descobriram a importância do design antes da concorrência, o que faz da Apple inspiração para os jovens vestibulandos. Assim como a explosão da gastronomia há dez anos, fazer faculdade de design soa exótico, mas está na moda. Na Fuvest, maior vestibular do País, o curso está entre os dez mais concorridos, com 27 candidatos por vaga. Já o Centro Universitário Belas Artes, em São Paulo, que oferece a graduação há mais de duas décadas, registrou um aumento de 35% no número de matrículas nos últimos três anos.
As empresas não davam importância para detalhes como forma, textura e anatomia dos produtos que colocavam no mercado, há 15 anos. Eles tinham apenas de funcionar. Com a globalização, essa postura mudou. “Sentiu-se falta de uma identidade”, diz o professor Fabio Righetto, coordenador do curso de design de produtos da Fundação Armando Álvares Penteado (Faap), em São Paulo. “Mas persiste a ideia de que design é custo, não investimento. É um erro porque o produto sem ele fracassa.” Para os especialistas, quem oferece serviços que valorizem o cliente, sai na frente. “É um apelo que cumpre uma ligação entre a marca e quem a consome”, diz a professora Cyntia Malagutti, do Belas Artes. O despertar para o que acontecia no mundo permitiu também a esses profissionais da forma ganhar espaço, aprendendo a trabalhar com menos recursos. O resultado é ver o design nacional apontado como um dos mais criativos da atualidade.
“Me impressionam os projetos brasileiros, que unem a preocupação com o meio ambiente e as necessidades humanas como não se vê em nenhum outro lugar”, afirmou à ISTOÉ Cameron Campbell, consultora de estratégia da Apple, que estará em São Paulo nesta semana como palestrante da 1ª Conferência Internacional MOB Design, para discutir o futuro do setor. No evento, será entregue o Prêmio IDEA/Brasil, que antecede o IDEA Awards, o Oscar do design internacional, nos Estados Unidos. “No ano passado, fizemos história ao conquistar 12 troféus”, diz Joice Joppert Leal, diretora-executiva da Associação Objeto Brasil, entidade que promove o concurso. Até o americano Tucker Viemeister, estrela do design contemporâneo, rasga elogios à produção nacional. “Amo o design brasileiro. É um erro imaginar que vocês só fazem biquínis e Havaianas”, disse à ISTOÉ. Os estrangeiros apontam o designer Guto Índio da Costa, famoso pelo projeto do ventilador Spirit, vencedor de 20 prêmios, como a grande referência do País.
Entre os trabalhos premiados no IDEA/ Brasil estará a trena da empresa americana de ferramentas Starret, desenvolvida pela Vanguard Design, um estúdio paulistano. “A ideia era que fosse uma peça mais confortável e bonita de usar”, diz Gustavo Camargo, 30 anos, um dos sócios. O estudante Pedro Fescina Lefèvre, 22 anos, que cursa o segundo ano de design no Senac, não se arrepende de ter abandonado a engenharia. “Meu interesse era ir atrás de soluções criativas”, diz. Lefèvre ficou entre os cinco primeiros colocados do Prêmio Emerson Fittipaldi de Design Interfaculdades, em 2008, com o projeto de uma moto. Talentos como ele mostram que o design brasileiro ainda vai dar muito o que falar.
Texto públicado por por Suzane G. Frutuoso na Istoé – Independente