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Dez

Volta e meia temos de dar um jeito de explicar a nossa profissão. Normalmente somos definidos como “o rapaz que desenha” ou “a moça que mexe com computador”, quando não nos olham com um certo ar de dúvida. Ou ainda misturam designers, publicitários, ilustradores e outras profissões no mesmo mingau. Logo, pelo menos uma vez por semana alguém vai nos perguntar, afinal de contas, que diabos nós designers fazemos. É aí que a porca torce o rabo. A maioria dos designers vai responder a essa pergunta com uma explicação de meia hora cheia de referências históricas e sociológicas ou então vai explicar direitinho o funcionamento do Illustrator e do Photoshop dentro de um contexto criativo?lúdico. Ou qualquer outra bobagem dessas. No fim das contas isso só serve, a meu ver, para mostrar duas coisas: a maioria dos designers não sabe definir o que faz e os que sabem querem mais é enfeitar sua sardinha o máximo possível. No fim das contas, o resultado é o mesmo. Quem perguntou não apenas continua sem saber o que faz um designer como ainda passa a achar que são um bando de chatos convencidos (com certa razão).

Vamos tentar então, Joãozinho, explicar o que é esse tal de “dizáine” para todo mundo.

“Mas tio, quem lê isso aqui já é designer!”

Sim, sim, Joãozinho eu sei. E é por isso mesmo.

Em primeiro lugar, design não é arte. Adoro começar por esta afirmação pois geralmente causa reações que vão do engulho e negação da realidade à revolta e desejo de me arrancar a carótida à dentadas. Mas, infelizmente, turma, é a verdade. Design não é arte plástica, da mesma forma que, por exemplo, jornalismo não é literatura. O design e as artes plásticas possuem objetivos diferentes. Enquanto a arte visa atingir o espectador emocionalmente para através disso lhe proporcionar uma experiência espiritual que poderá ser desde o prazer estético pura e simples até mesmo um choque intelectual que o levará a repensar conceitos de vida. Fora isso, este é um objetivo estanque, desejado pelo artista e funcionando segundo seus conceitos particulares. Já o design busca materializar um conceito funcional a partir das necessidades de alguém, comunicando esse conceito através de um veículo emocional (no caso do design gráfico) ou gerando uma peça utilitária (quando é de produto). Ficou complicado. Então eu explico melhor: a arte começa no artista e termina no público; o design começa no cliente, passa pelo designer e termina no consumidor. Ou seja, enquanto o artista só precisa se preocupar em comunicar bem suas ideias, o designer precisa comunicar as do cliente para o cliente do cliente, sem interferência de suas próprias ideias. São propósitos diferentes que ocupam lugares diferentes nas necessidades humanas.

Contudo, ambas têm algo em comum: utilizam a emoção e não o racional como meio de condução. Por isso o designer também tem de conhecer profundamente as artes plásticas, saber sua linguagem, conhecer suas formas e ferramentas. O que significa que o designer também tem de ser um pouco artista plástico. A arte se torna uma ferramenta para ele.

Quer dizer que designer não faz arte?

Muitas vezes faz até demais?

Mas uma coisa é o trabalho de cunho autoral, quando as coisas se invertem e a arte deixa de ser a ferramenta do designer e o designer, virando artista plástico, utiliza seus conhecimentos para fazer uma peça artística.

O segundo erro mais comum da “plebe ignara” é confundir designer com desenhista. Claro, quase todo designer sabe desenhar ? e mais que isso, sabe ilustrar ? pois este é um procedimento próprio para o exercício da profissão. Mas isso não o torna um ilustrador. Da mesma forma, quase todo designer sabe fotografar, outra ferramenta de sua lida, mas não é um fotógrafo. Também não é um programador por saber trabalhar com sites. Nem? Acho que já deu para entender. Dominar as técnicas de desenho é essencial para o designer, por vários motivos. O primeiro é para soltar sua mente, exercitando a criatividade. O segundo é para aprender a pensar graficamente, conhecimento obviamente indispensável. Porém um ilustrador profissional aprofunda?se por reinos que um designer não necessariamente precisa conhecer, a não ser que queira também ser um ilustrador. E, a não ser em tais casos, o designer inteligente ao precisar de um trabalho de ilustração em seus projetos, irá contratar o serviço de um ilustrador para aquela peça.

Então o designer não ilustra?

Sim, ilustra. Se tiver o treinamento e estudo necessário. Ou se a ilustração que ele necessita não for algo muito elaborado, quando então o seu conhecimento é o suficiente. Mas, mesmo assim, muitas vezes o tempo que ele estará levando para elaborar a ilustração estará sendo retirado de outras fases do projeto em questão.

Opa! Palavrinha mágica que surgiu: projeto.

Vamos de novo: PRO?JE?TO.

Enfim deixamos o reino do “o que todo mundo acha que o designer é mas ele não é” e estamos chegando no reino do “o que é o designer”. To design, o verbo que gerou tudo isso, quer dizer “conceber e produzir um plano ou esquema para mostrar a aparência ou funcionalidade de algo antes de sua execução”. Não acredita em mim? Vá no dicionário Oxford de Língua Inglesa. Está lá. E como o designer é quem faz design, podemos, com o simples uso de dois ou três neurônios bem treinados, concluir que o design é projeto e o designer é um? projetista! Isso mesmo. Um designer é um projetista. E o que isso significa?

Mas, o que é um projeto? Se recorremos ? ou, pelo menos, eu recorri ? ao dicionário Oxford, nada mais justo que recorramos agora ao dicionário Michaelis de língua portuguesa.

Lá aprendemos que um projeto é um planejamento para que se alcance um objetivo. O que significa que ser um projetista implica em conceber algo em função de parâmetros, não com a imaginação linda leve e solta mas disciplinada a obedecer àquelas necessidades. Significa seguir uma metodologia que permita que outras pessoas compreendam e, eventualmente, reproduzam os passos seguidos para chegar naquele resultado. Significa documentar etapas para que se possa avaliar a evolução do produto. Significa embasar o que se faz em conhecimento, um método e um objetivo claro e definido e não em mensagens divinas.

Já passou da hora de nós, designers, paramos de nos ver como uma espécie superior de criatura iluminada pelas musas e passarmos a encarar nossos trabalhos como projetos que dependem tanto de inspiração e talento nato como todo e qualquer trabalho executado por um matemático, um arquiteto ou um jornalista. E, não, Joãozinho, não estou dizendo que essas profissões, bem como a do designer, não tenham seu quinhão de inspiração e talento nato. O que estou dizendo é que todas elas requerem mais do que isso. É o famoso “10% de inspiração e 90% de transpiração de T. A. Edison.

Claro, isso tira um bocado da névoa de glamour com que gostamos de cercar nosso exercício profissional. Ainda gostamos de nos ver romanticamente como o designer freelance arremetendo com a caneta de sua tablet em riste qual lança contra os gigantes malvados dos grandes escritórios e corporações, munido com nada mais do que sua genialidade, seu estilo e sua criatividade sobre?humana para se defender dos clientes ignorantes cheios de mau gosto.

Bobagem.

Isso serve muito bem para quem está no início de carreira, tendo quem o sustente e sem se preocupar em ganhar mais do que o suficiente do que o que gasta nas noitadas onde se encontra com outros designers (não tão brilhantes e criativos quanto ele, claro, mas ainda assim quase divinos). Mas se você se preocupa com aquelas coisinhas chatas da vida como contas, aposentadoria, impostos, planos de família e outras assim é bom mudar de postura e deixar de ver a si mesmo como um herói do bom gosto contra a breguice geral e passar a ser um profissional.

“Quer dizer, tio, que eu não posso soltar minha criatividade e tenho sempre de me preocupar com essas coisas de parâmetros de projeto e cronograma?”

Claro que pode, pequeno gafanhoto! Para isso existem os projetos autorais, cujos parâmetros são definidos por você mesmo. Projetos que você leva adiante por prazer pessoal, incutindo ali nada mais do que o seu estilo puro. É ali que você desenvolve o seu talento, que você estuda novas ideias É ali que o designer se faz artista. Mas no dia a dia profissional, vamos deixar o excesso de vaidade de lado e comecemos a olhar a nós mesmos e à nossa profissão como o que ela é: um serviço sendo oferecido por profissionais a seus contratantes na forma de projetos e não a salvação do mundo.

Quem sabe aí, quando estivermos com os pés no chão, consigamos ser respeitados como profissionais e não olhados de lado como um bando de gente esquisita com a cabeça nas nuvens e o rei na barriga. Saber quem somos é o primeiro passo.

Que vinho voc

Dê um pulinho no seu mercado favorito e repare na sessão de bebidas. Mais especificamente, na de vinhos. Lá você vai encontrar os nacionais, os importados, os sangues de boi da vida e, dependendo do lugar, os vinhos de sangue azul. Preços? Vão desde os R$ 5,00 até bem mais de R$ 500,00. Dependendo de onde você esteja, mais de R$ 1.000,00! Tem gente que gosta do “vinho docinho” e há quem torça o nariz para isso. Tem que entende e dá valor à acidez do vinho, só tomando os rascantes (por favor, “vinho seco” é vinho em pó). Os que gostam de vinhos nobres tentam convencer os que gostam de vinhos doces que aquilo não presta e que eles deveriam educar o paladar. Os que gostam de vinhos doces retrucam que os rascantes são muito ruins e que preferem o garrafão da cantinha do Seu Antônio. Um grupo sempre vai torcer o nariz para o outro e seus gostos, ainda que por vezes alguns da turma do vinho doce acabem mesmo passando a gostar dos vinhos nobres.

Ok, ok, tio? Mas o que diabos isso tem a ver com design?

Tem a ver que eu nunca vi uma vinícola francesa dizendo que as vinículas sulamericanas que produzem vinho de R$ 5,00 deveriam começar a cobrar R$ 50,00 por garrafa para que o mercado se mantenha competitivo. Mas no mundo do design todo mundo parece achar que é assim que a famigerada banda toca.

Vamos continuar com os vinhos.

A Vinícula Aurora começou sua história com vinhos de baixa qualidade, voltados para o povão que não tinha nem grana nem interesse em pagra um preço alto por um vinho realmente bom. Mas também, desde quando uma vinícula brasileira iria concorrer em qualidade com outras? Nunca tivemos nem solo, nem clima, nem varietais que permitissem isso. Aqui só dava mesmo para fazer vinho de baixa qualidade. E fazíamos. E vendíamos.

Mas com o tempo, a situação econômica foi melhorando. A Aurora foi crescendo e estabelecendo mercado. Aos poucos foi pesquisando microclimas com solos adequados, foi importando mudas de parreiras, foi refinando seu processo de fabricação. Como consequência, foi melhorando a qualidade de seus vinhos. Essa melhora foi resultado de investimentos em pesquisa e aprimoramento de maquinário. Custou caro e deu retorno. Hoje a Aurora produz vinhos de ótima qualidade, elogiados por sommeliers e enólogos por todo canto. Claro; são vinhos bem mais caros, na faixa de R$ 50,00. Dez vezes o preço da que podemos chamar de “linha popular”. Que eles ainda produzem e, se me perdoam o trocadilho, vende como água. Ou vocês acham que eles seriam bobos de deixar de ganhar dinheiro com essa faixa de mercado? Em uma estratégia básica, lançaram o selo “Aurora Reserva Especial” para seus vinhos caros e mantiveram o “Aurora” para os populares.

Voltemos ao design.

No mercado de trabalho encontramos aqueles designers que fizeram cursos universitários, politécnicos ou buscaram uma formação teórica para com esse conhecimento poder desenvolver ? de acordo com seu talento individual, claro ? trabalhos de alto nível conceitual e formal. Temos também os profissionais que buscaram um conhecimento profundo das ferramentas com cursos em Corel, Illustrator, Photoshop, 3D e outros, ou futucando a internet horas a fio atrás de tutoriais e apostilas, onde aprenderam. Há quem goste de chamá?los micreiros mas eu acho o termo pejorativo e prefiro chamá?los de técnicos em design, que geralmente fazem excelentes trabalhos, também de acordo com seu talento individual, mas normalmente com falhas conceituais e formais.

Questão: todo cliente precisa de um trabalho com alto grau conceitual e formal? Porque esse alto grau tem um custo advindo do investimento feito por quem se preparou para obtê?lo. E temos de lembrar também que o objetivo do design nem sempre é o cliente mas na maiora das vezes o cliente do cliente.

Se a Vinícula Aurora tivesse começado a oferecer seus vinhos da linha Reserva Especial a preços populares ela estaria educando o gosto popular para vinhos? Não, isso é ilusão. E uma ilusão arrogante pois parte do princípio que quem gosta de vinhos doces está errado. Da mesma forma que achar que fazer trabalhos de design sofisticados para um público que não tem visão para os detalhes desse trabalho não é educar o olho do público: é empurrar goela abaixo algo que esse público não apenas não quer pagar como não quer receber.

Os pequenos escritórios de design baseados em trabalho técnico, o birô que oferece serviços de design e outros da mesma linha, que trabalham com preços populares existem justamente para atender essa demanda de um público que não faz a menor questão de ter uma identidade visual sofisticada, com todas as leis da Gestalt em ordem.

Esse cliente quer um designer? Segurem os egos, crianças: não, ele não quer. O que ele precisa é de um bom e competente técnico em design. Ele quer algo que lhe dê uma identificação visual junto a seu próprio público, dentro de uma linguagem visual cultural própria, sem se preocupar com cores Pantone ou equilíbrio de forma. E quer pagar exatamente pelo que ele precisa que seja feito. Nós, designers, não apenas somos inúteis para ele como muitas vezes seremos mesmo um estorvo.

Profissionais de outras áreas onde existe essa diferença entre o “nível superior” e o técnico sabem que experiência excelente é trabalhar ao lado de um técnico competente. Equipes assim geralmente realizam trabalhos de altíssima qualidade tanto técnica quanto teórica pois agregam os dois mundos. Mas, por algum motivo que eu não entendo a simples menção a “trabalho em equipe” parece dar verdadeiras crises de angina na maioria dos designers; com um técnico, sabendo que ele está no mesmo nível que você, então, chega a ser impensável.

Então, pessoal, aprendamos a meter nossas sacrossantas violas no saco para não darmos no saco alheio. Vamos parar de querer transformar técnicos em design em designers na marra. Se eles quiserem ser designers podem ser por decisão própria (e com o conhecimento que têm provavelmente serão excelentes designers). Se eles querem ocupar o nicho de mercado de quem não precisa de designer mas sim de técnicos, então estão mais do que certos em serem técnicos e bons no que fazem. Designers deveriam aprender a trabalhar com os técnicos e não contra eles. Aprendamos a olhar esses birôs e estúdios técnicos não com cara de nojinho ou como ameaças à profissão mas como parceiros valiosos com quem podemos trabalhar de igual para igual.

Cada um de nós, sozinho, atende a um mercado específico, com necessidades específicas. Em conjunto, todos podem ter mais oportunidades de crescimento profissional. E pessoal.

E lembrem?se: se for dirigir, não beba; mas se for beber, me chame.

15h30 – Entrevista com o Sr. Etevaldo

Normalmente é fácil reconhecer em um ambiente universitário a turma das áreas criativas. Você olha em volta e vê conversando um grupinho com uma concentração acima da média de tatuagens, piercings, roupas incomuns e cabelos mais incomuns ainda e pode ter certeza que é um grupo de designers. Talvez publicitários se tiver alguém de rabo de cavalo. Certo. E? E que normalmente esse pessoal resolve levar esse estilo visual para a vida profissional. Ok, ok, reconheço que muita gente acha que um criativo tem de ter um visual? bem? um visual criativo. Só que, Joãozinho, não é sempre assim que a banda toca.

Se você é do tipo que trabalha em casa, só lidando com clientes pela Internet de modo que ninguém vai ver a sua cara ? quando muito um avatar no MSN ou no SecondLife ? é claro que isso não faz a menor diferença. Mas, chamem-me de retrótrado se quiserem, mesmo com toda a tecnologia de comunicação atual ainda não inventaram uma forma melhor de trocar idéias e resolver problemas do que o encontro pessoal. Reuniões com clientes acabam sendo necessárias em alguns pontos?chave de qualquer projeto. E se você quer ter a velha carteira de trabalho assinada não há como fugir das entrevistas com contratadores ou a turma do RH. E aí, garotada, é que o visual ?criativo? pode ser, como dizia um amigo meu, uma ?faca prá dois legumes?.

?Pô, cê quer dizer que eu vou ter de tirar os meus piercings e alargadores??, pergunta o rapaz na quarta fila, ?E o que eu faço com minhas tatús??

Calma, rapaz? Calma? Também não precisamos ser radicais nem por um lado nem por outro. É claro que cada um de nós tem seu estilo de ser, que casa muito bem com nossas vidas particulares. Mas ao travarmos contato com clientes ou entrevistadores temos de nos lembrar que o que está em jogo ali não é apenas nosso talento e experiência mas o quanto o contratante vai achar que nós conseguiremos nos adequar à cultura empresarial ou ao modo de ver o mundo particular da sua firma. E não podemos nos enganar achando que o meio empresarial brasileiro, principalmente o corporativo, é progressista e aberto a novas idéias. Muito pelo contrário, o empresário brasileiro típico, seja de qual porte for, é conservador e muito fechado às possibilidades de experimentação e ousadia. O que ele quer é algo que seja de acordo com a norma vigente do mercado onde atue, que tenha uma certa identidade mas que não se destaque. Acreditem, já ouvi um cliente rejeitando uma identidade visual pois achou que iria destacar a marca dele do meio de outras. Da mesma forma, se você chega no contratante com uma aparência que ele ache que vai destacar você do restante da equipe ou que demonstre a um cliente que suas idéias são muito avançadas, corre o risco sério de perder a vaga ou o trabalho.

E aí? O que fazer? Ora, bolas! Será que justo você, Joãozinho, um designer competente não viu uma saída para esse dilema? Já viu? Que bom! Isso mesmo, da mesma forma que você busca equilibrar uma peça gráfica a saída é equilibrar a sua imagem. Principalmente com suas atitudes.

A primeira coisa é simples, chama?se postura. Aquilo que sua avó vivia reclamando que você não tinha. São esses seus ombros caídos para frente, as costas curvas, pernas arqueadas e por aí vai. Apresentar-se com uma postura ereta, demonstrando uma elegância quando se anda e quando se está parado sempre são uma boa idéia para causar uma boa impressão. Da mesma forma, nada de se jogar na cadeira. E não estou falando de colocar uma perna por sobre o braço da mesma ou os pés na mesa do entrevistador. Falo de não ficar largado como se fosse um saco de lentilhas no chão da venda mas sentado que nem a vovó gosta de ver.

E roupas também são importantes de serem pensadas. Não que você deva ir com a mesma roupa que um administrador de empresas iria. Certamente isso iria parecer mais falso que uma escandinava sambando na Sapucaí e dizendo que é mulata. Mas aqui que ninguém aqui vai se sentir aviltado em seus princípios existenciais de identidade pessoal mais básicos só por usar durante algumas horas uma camiseta que pareça uma camiseta e não uma vestimenta alienígena. Mostre que você tem um estilo moderno e pessoal mas que também tem flexibilidade mental suficiente para saber trabalhar com limites e ambientações diversas. Pode ser também um excelente exercício de criatividade para você. Claro que não precisamos nem nos aprofundar na questão das roupas limpas, passadas e bem cuidadas.

Aliás, por falar em bem cuidados, cabelos e barbas são outro ponto a serem cuidados. Não importa a cor ou o tamanho (ou ausência de). Se parecem limpos e arrumados, bem cortados e aparados, já está muito bom. Mostra que você é alguém que liga para as coisas.

Porém o mais importante é ? sem sombra de dúvida ? sua educação. Esqueça o linguajar próprio que você usa com a sua turma ou mesmo sua família. Ali você está na Roma dos outros e então haja como aqueles romanos de lá. Deixe para lá as gírias e o jargão técnico (que, convenhamos, é só outra forma de gíria) e busque comunicar?se em um Português correto e claro. Pode parecer que não mas mesmo o sujeito com o maior visual de punk ou funkeiro irá parecer alguém extremamente agradável de se lidar e não alguém agressivo se falar de forma tranquila, correta e educada. Falar corretamente também demonstra que você domina o nosso idioma e, portanto, é alguém gabaritado no quesito comunicação.

De forma geral, não estou dando conselhos muito diferentes do que a Tia Zeferina deu a qualquer um de nós e continua dando, pelo visto. Mas não são apenas caretices dos parentes mais velhos que tinham mania de beliscar nossas bochechas quando éramos crianças. São dicas de boa convivência social que normalmente ignoramos com grupos nos quais somos íntimos mas que devem sermpre ser lembradas quando estamos travando contato com outros grupos sociais. Ainda mais quando os representantes desses grupos sociais podem decidir se vamos levar grana no processo ou não!

Ao nos apresentarmos como profissionais de design não estamos cumprindo um estereótipo do criativo ou lidando com a nossa patota. Não estamos ali como o sujeito ou a garota legal e descolada na balada. Estamos ali como profissionais e precisamos passar uma imagem profissional. Se só ver nosso portfólio genial fosse o bastante, ninguém faria entrevista. É no contato pessoal que um avaliador decide se somos ou não o empregado ou o fornecedor que eles querem. Então, pelo bem de nossos próprios bolsos: deixemos nosso ego alternativo de lado e aprendamos que agir profissionalmente não é apenas ter grandes idéias mas também cuidar de nossa imagem pessoal.

Em suma, quando for apresentar?se a um cliente ou entrevistador pense em si mesmo como em uma peça de design e se pergunte: ?a mensagem que estou passando para meu público-alvo é a de que eu sou um profissional ou um alienígena de outra galáxia??

Ser Designer

Como já diz Mestre Urian, não existe meio designer. E não existe mesmo, Joãozinho. Ou você assume a profissão como um todo ou nem começa a brincar. Porque existe uma visão muito torta do que é ser um designer em nosso país, que acaba levando à existência dessa criatura bizarra saída de uma dimensão alternativa, o meio?designer, primo do meio?programador e do meio?jornalista. Curiosamente, ninguém encontra por aí um meio?médico ou um meio?engenheiro. Ou melhor, até acha mas logo eles vão parar na cadeia por exercício ilegal de profissão. Mas calma, Zezinho, não vamos falar hoje de regulamentação ou outro assunto chato desses. Vamos falar sobre o que é ser um designer, independente da origem ou situação civil.

Bem, na verdade, dizer o que é um designer é fácil. Prontos? Lá vai: designer é quem faz design.

Ok. Podem parar de me olhar com essa cara de ?ah, é, é?? pois é simples assim. Agora, o problema é definirmos o que é design.

Segundo o Dicionário Michaelis de Língua Portuguesa: ?s.m. (ingl) 1. Concepção de um projeto ou modelo; planejamento. 2. O produto deste planejamento.? E isso é muito interessante! Pois aqui tiramos de campo um monte de coisa, apesar dessa definição ser tão simples, pois nos diz que o designer é alguém que concebe um projeto ou um modelo e concebe o produto decorrente desse planejamento. Ou seja, ser um designer é ser, antes de mais nada, um projetista. Você, designer, não é um artista plástico, não é um desenhista ou coisa parecida. É alguém que foca sua criatividade em um planejamento, designação e intenção voltados à realização de algo. E lida com as ferramentas necessárias à realização desse planejamento.

Ou seja, ser um designer é, antes de mais nada, saber planejar um produto, seja este produto uma peça gráfica ou um objeto industrial (uma cadeira, um aparelho de CD, etc). E se você não planeja, você não é um designer. É um chutador, que fica tentando fazer as coisas meio que de orelhada até que saia algo que preste. O designer, pelo contrário, antes de colocar suas mãos em qualquer massa que seja, irá colher todos os dados necessários, analizá?los, compará?los, entre si e com outras fontes, planificá?los e construir as etapas necessárias, a partir desses dados e das informações deles resultantes, para que se chegue ao fim desejado. Para tanto, é necessário o conhecimento de como fazer isso. Esse conhecimento é obtido a partir das teorias estudadas ? teorias da comunicação, da psicologia, da filosofia, além das específicas da área como a tipografia e a criação da forma ?, da educação do olho e do cérebro, do angariar de referências, do estudo e do aperfeiçoamento constantes. Quando falhamos em obter esse conhecimento, voltamos ao chutador, disparando idéias sem fundamentação, acertando a partir da pura sorte.

Mas o designer não é alguém que só faz o planejamento. Ele também o executa. Ou seja, tem o domínio das ferramentas necessárias para tanto. Quais são essas ferramentas? A arte é uma delas, pois educa nosso pensamento e nossa biblioteca de referências. E quando não apenas apreciamos a arte como também a criamos, além de manter nossa capacidade gráfica em dia, também estamos exercitando nossa mão para o processo de criação, além de mantermos em dia uma de nossas mais poderosas ferramentas: a criatividade. E também temos as ferramentas mais ?fisicas?, como os programas gráficos, os lápis e pincéis, o papel, a cola, a fotografia e todos os meios que podemos usar para colocar em prática o projeto já devidamente planejado. É claro que com a vasta oferta que se tem hoje em dia de meios e ferramentas, ter domínio de todas elas é impossível (e nem se espera tanto). Porém é obrigação do designer ter pelo menos uma idéia do funcionamento de todas elas, da aquarela ao Photoshop, da xilogravura ao Corel Draw, do 3D Studio ao estêncil. Ao menos as possibilidades de cada ferramenta devem ser conhecidas e compreendidas para que ao se planejar o produto saiba?se a melhor, mais rápida e mais econômica forma de se realizar o necessário para aquela elaboração. Ou, pelo menos, para se conversar com o especialista técnico, que muitas vezes vai dominar a ferramenta melhor do que nós, sobre o que deve ser feito.

?Xi?, diz a Mariazinha, ?precisa de tudo isso para ser designer? Eu achei que era só saber usar o Photoshop legal e ler umas revistas bacanas.?

Pois é? Ser designer exige capacidade de organização, conhecimento de metolodogias, estudo e criatividade. Mas, acima de tudo, existe disciplina e dedicação. Como, aliás, se exige de qualquer profissional sério. Claro que você pode só ir lendo as revistas especializadas e mexendo no seu programa gráfico favorito até ficar muito fera, colocar uma roupinha ?istáile? e dizer que é designer. Mas, sinto muito: você não vai ser um designer com isso. Porque não irá realizar os projetos adequadamente, não terá o conhecimento do ferramental, irá sempre faltar alguma coisa para ter o fluxo de trabalho que um verdadeiro designer tem. E, claro, não irá alcançar os resultados que ele alcançara.

Se você não percebe que é um projetista e realiza projetos, se você não percebe que precisa de uma base de conhecimentos e corre atrás deles, se você não se envolve com as ferramentas da profissão como um tods, se você não faz uma única coisa dessas você é somente um meio designer.

E, como diz o Mestre Urian, não existe meio designer.

Tipo Assim…

Já parou para ver o quanto você lê? Não apenas em livros, mas em revistas, cartazes, sites e até em propagandas de televisão. Por mais que ?uma imagem valha mil palavras? ainda somos muito ligados à palavra escrita e garantir sua boa compreensão em qualquer tipo de peça gráfica é uma das principais atribuições de qualquer designer que se preste. Lembrem?se, crianças: designer também é um comunicador! E se texto é parte da comunicação, então temos de saber apresentar esse texto.

Para o designer, trabalhar com textos baseia-se nos conceitos da boa e velha tipografia. Não, não é ?tipologia?. Não acredita? Podem procurar no dicionário, oras. Conhecer os conceitos dessa ciência é essencial mesmo para quem jamais acha que irá editorar um texto. A aplicação correta dos conceitos tipográficos em um cartaz ou em um arquivo CSS para web certamente irá compor uma peça mais legível e harmoniosa. E conhecer esses conceitos é mais do que passear por sites de fontes ou ter 2.485 delas instaladas no seu computador. É conhecer os princípios que a regem, a história dos tipos, suas personalidades e muito mais.

Comecemos, então, do básico.

Já pensou em como se cria um tipo, desde sua concepção até sua forja, seja em metal ou digital? Há quem diga que o projeto de uma família tipográfica é uma atividade ainda mais complexa do que o projeto de um avião a jato. Acredite, é. Pois uma imensa série de conceitos deve ser elaborada antes mesmo de se começar a desenhar os caracteres: para que aqueles tipos serão utilizados, qual será o processo de impressão preferencial deles, quantas variações haverá na família e muito mais. A cuidadosa definição desses parâmetros irá definir uma fonte decorativa, de leitura, serifada, sem serifa, a altura?x, a relação entre essa e as ascendentes ou descendentes e todas as várias características presentes na anatomia de um caractere tipográfico. Dependendo do número de variações da família pode ser um trabalho de anos a fio.

Isso significa, também, que cada letra, acento, sinal gráfico ou ligadura de uma fonte é uma peça cuidadosamente planejada para se encaixar a outras peças, com proporções de tamanhos e traços muitos bem definidos de modo que se alcance um resultado ótimo. Quando promovemos alterações ?na marra? a um caractere ? como deformar o texto na vertical ou na horizontal, engrossar o traço externo ou qualquer outra atitude digna de um soldado hérulo frente a uma virgem romana ? o que estamos fazendo é como deformar uma peça de relógio e querer que o mesmo mantenha-se funcionando perfeitamente depois. Todas essas relações formais entre os caracteres são perdidas e a legibilidade daquela fonte vai, cada vez mais, sendo corroída. Assim, a primeira lição de hoje é que não devemos praticar qualquer deformação no tipo. Se precisamos deformar um tipo é sinal de que aquela fonte não é a mais adequada para nosso objetivo e o melhor é procurar outra que seja.

Outra coisa importante é sempre termos em consideração os traços constituintes do tipo. São eles que, normalmente, irão nos dizer qual o objetivo do mesmo. Alguns tipos são melhores para leitura contínua, outros para títulos ou cabeçalhos, outros já se prestam bem para logotipos. Mas não basta decorar a regrinha que diz que em textos corridos se usam fontes serifadas. Isso é bobagem. O que se deve fazer é entender por que, na maioria dos casos, um tipo serifado dará uma melhor leitura em um texto corrido. Pois dependendo de fatores como entrelinha, entreletra ou mesmo o uso de espaços diferenciados, uma fonte sem serifa poderá ser muito mais legível do que uma serifada. Saber lidar com essas variáveis é importante para a composição de um texto; e, infelizmente, não há regras para tanto. É preciso experimentar caso a caso e achar a melhor solução.

O que me leva a outra coisa? Cada tipo foi criado em ou de modo a refletir um determinado momento histórico, pensamento, filosofia ou objetivo de comunicação. Conhecer o objetivo ou o momento de criação daquela família é extremamente útil para que escolhamos uma família cuja personalidade tenha a ver com o texto em que será utilizada. Mergulhe de cabeça na fonte, saiba de onde ela vem, sua história, sua forma de criação e você terá mais condições de avaliar seu uso. Por exemplo, fontes serifadas que foram criadas para tipos metálicos originalmente muitas vezes possuem terminações que ficam melhores em impressoras de mais alta resolução enquanto fontes egípcias, com as serifas fortes, ficam ótimas mesmo em resoluções mais baixas.

É também interessante que nos lembremos que uma família tipográfica possui muito mais do que letrinhas. E, pombas, não estou falando de desenhinhos. Refiro?me à presença de vários tipos de aspas, apóstrofes, às ligaduras, travessões-m e travessões-n, sinais de multiplicação e tantos outros recursos que não apenas servem para diferenciar o trabalho de um designer do de um digitador como também proporcionam um texto mais agradável de se olhar ? não apenas de se ler. São recursos que merecem ser utilizados e não jogados fora. Conferir o conjunto completo de caracteres de uma fonte é sempre uma boa idéia. E ter capricho no seu uso é uma idéia melhor ainda. E não adianta dar a desculpa de que está escrevendo para a Web. Veja neste texto, por exemplo, como é feita a utilização de vários tipos de travessão e aspas. Ou, como outro exemplo, perceba que 3 ÷ 5 é bem mais agradável de se ler do que 3 / 5.

Sim, sim, pessoal, eu sei que isso tudo dá uma trabalheira danada e ficar descobrindo cada detalhezinho sobre cada uma das fontes existentes é bem mais complicado do que simplesmente navegar por sites especializados e ir baixando fontes na base do ?gostei? ou ?não gostei?. Só que se você é um designer deve significar que tenha mais de dois neurônios funcionais e vai saber que uma das primeiras coisas que precisamos saber que nosso gosto pessoal deve ser posto de lado em função da adequação ao projeto. E, fora isso, quem disse que você precisa ter todas as fontes existentes na sua máquina? Se Victor Garcia, um dos maiores designers especializados em tipografia no mundo diz que não se lembra de ter utilizado mais do que meia dúzia de famílias tipográficas em toda a sua vida, quem você acha que é, Joãozinho, para querer usar vinte só em um cartaz?

Aliás, uma outra dica: cuidado com misturas de fontes. Como já disse, tipos têm suas personalidades. Juntar tipos de personalidades muito contrastantes pode gerar uma peça desequilibrada enquanto tipos de personalidades muito semelhantes pode ficar parecendo que você só se confundiu ao tentar colocar a mesma fonte duas vezes. Sempre teste as fontes que vai usar juntas para ver se elas conversam entre si tão bem quanto o façam com o resto da peça. Nesse ponto vale a regra: quanto menos, melhor.

Sinceramente, pessoal, eu poderia ficar aqui escrevendo horas e horas sobre esse assunto. Mas infelizmente não é o espaço que temos aqui, até porque sites não foram feitos para serem livros. Mas espero que eu tenha dado pelo menos um soprinho (desses de apagar vela de aniversário) no interesse sobre fontes de vocês. E para quem quer saber mais desse assunto, recomendo dois livros que considero essenciais: Pensar com Tipos (Ellen Lupton, Ed. Cosac Naify) e Elementos do Estilo Tipográfico (Robert Bringhurst, Ed. Cosac Naify). Comprem, leiam, aprendam.

Ah, sim? E para os que responderam àquela pergunta lá no início e chegaram à conclusão de que leitura não parece assim tão importante, primeiro, não sei nem como chegaram a esse ponto do texto, e segundo, lembrem-se que um designer que não lê não vai ser jamais um designer.

Uma Combina

Uma antiga história muito contada pelos especialistas em gestão, eficiência, administração ou qualquer outra coisa do tipo ? hoje em dia existe especialista para tudo ? é a dos estadunidenses que gastaram uma fortuna para desenvolver uma caneta que funcionasse em microgravidade, durante os vôos espaciais enquanto os russos simplesmente levaram um lápis. Normalmente usa?se essa história para ilustrar a idéia de que soluções simples e óbvias costumam ser mais baratas, mais eficientes e tal. Eu a coloquei aqui por dois motivos. O primeiro foi tirar uma onda com os especialistas em [coloque aqui sua especialidade favorita]. A segunda foi para nos lembrar, principalmente aos mais novos, que ainda se pode usar essa coisa de madeira e grafite chamada ?lápis?, mesmo no mundo informatizado de hoje.

?Putz!?, grita o garotão de tatuagens e piercings, ?Alguém ainda usa isso? Deve ser um tiozinho que não saca de computador! Rá, rá, rá!? (Ou algo parecido, no linguajar juvenil atual.)

Bem, moderninhos e moderninhas de plantão, eu tenho uma novidade para vocês… Sabiam que já se fazia design muito antes de inventarem o computador? Pois é, eu sei que isso pode parecer chocante para muita gente para a Internet não foi criada junto com os Himalaias nem o Adobe Illustrator precedeu a linguagem falada. Houve uma época em que composição era feita desenhando?se em uma folha de papel A3 e escrevendo?se com uso de réguas de tipos, quando o lápis e o guache, a tesoura e a cola (não o ?control?v?!) eram ferramentas indispensáveis. E, por incrível que pareça, não estou falando do século XIX e sim de 1990.

E sabe o que se fazia naquela época? Absolutamente tudo o que se faz hoje em termos de design. Bem, podemos descartar o webdesign, é claro, uma vez que em 90 a Web mal utilizava imagens. Isso porque já se usava uma ferramenta que é essencial ao designer. É um hardware poderoso que muitas vezes esquecemos de utilizar, ainda que esteja sempre ali à nossa disposição. Chama-se cérebro.

É, isso mesmo. Os bons e velhos miolos. Aquilo que o Espantalho foi buscar na Cidade das Esmeraldas. Todo projeto de design deveria começar com o uso do cérebro. Infelizmente, com a imensa facilidade que as ferramentas de hoje proporcionam muitas vezes esquecemos de utilizá?lo. Abrimos logo nosso pacote gráfico favorito, vamos à Internet atrás de um tutorial porreta que faça algo parecido com o objetivo da proposta, damos umas pinceladas aqui e ali com uma das ferramentas prontas e? Voilá! Em menos de hora e meia temos pronta uma peça de design que os dinossauros levariam dias e dias para montar. Viu como somos evoluídos, práticos e cheios de style?

Não, não vi não. O que eu vejo são um monte de trabalhos que parecem ter saído da mesma forminha da moda e que daqui a dois dias estarão completamente ultrapassados ? bem de acordo, aliás, com a efemeridade atual. E esse é o preço que pagamos pelas facilidades que as ferramentas atuais proporcionam. O cliente parte do princípio que o computador é que faz tudo então tudo pode ser para ontem. O designer compra a idéia de que o computador faz tudo e segue a moda e os tutoriais, entregando um trabalho corrido e insosso. O cliente fica satisfeito e paga, o designer fica satisfeito e recebe e todos ficam felizes e rasos.

Mas, que tal tentarmos uma coisa diferente? Da próxima vez que pegar um trabalho, que tal desligar o computador antes de começar o design? Isso mesmo, seja ousado! Desligue o computador!

Tire o pó do bom e velho lápis, pegue uma folha A3 (vende em um lugar chamado ?papelaria?) para poder ter bastante espaço para criar, e comece a usar seu cérebro. Sem depender das idéias alheias, pense no projeto. Procure referências em outros lugares que não o Google, onde seus colegas e concorrentes estão procurando as mesmas referências. Sem depender de ferramentas prontas ou tutoriais deixe a imaginação fluir e as idéias originais surgirem. Rabisque, sinta as dificuldades e utilize?as a seu favor pois ao vencê?las você estará criando novas soluções. E ponha aquela folha de lado para trabalhar outra idéia. E outra. E outra. Isso mesmo, quantidade é qualidade; deixe de ser preguiçoso.

Então, quando você já tiver uma pilha de idéias ao seu lado, aí sim ligue sua ferramenta de microcircuitos, vá no seu pacote gráfico e reproduza com as ferramentas ali ? que no fim das contas são apenas metáforas para as que você acabou de usar na vida real ? reproduza o que você traçou livremente, o famoso rascunho virando arte?final. Veja como assim é possível se criar para muito além dos modismos e layouts pré?fabricados.

E se alguém falar mal? Ora, diga que você está na moda, sendo retrô ou vintage.

Verde lim

Muito bem, turminha, vamos começar hoje com um ?case?. Não é chique ficar falando ?case? em vez de ?estudo de caso?? Então hoje eu vou ser chique. Aliás, este é uma história real, mas os nomes foram mudados para a proteção dos envolvidos e coisa e tal.

Era uma vez um açougue especializado na venda de carnes nobres que resolveu dar uns tapas no visual e contratou uma agência especializada em tapas no visual. Os espertos designers da agência fizeram uma bela pesquisa sobre açougues de luxo em Nova York e na Europa, leram um bocado sobre o ramo, buscaram a concorrência (do açougue, não deles) e viram que poderiam realmente criar um espaço carnívoro?consumista diferenciado que seria colocado anos?luz em termos de ambientação e luxo dos demais estabelecimentos da região. Retiraram os clássicos espelhos das paredes e as peças de carne penduradas substituindo tudo aquilo por uma decoração ?clean? e peças de carne já cortadas e pesadas, embaladas individual e higienicamente. Os velhos açougueiros receberam novos uniformes, com gorros e aventais negros como está na moda, ganhando o novo cargo de ?especialista em atendimento de comestíveis? ou coisa assim.

Inauguração feita, linda festa, o dono do açougue, ou melhor, da boutique de carnes sorrindo de orelha a orelha já imaginando o aumento no faturamento, já que com aquele visual moderno e elegante ele também poderia aumentar o preço dos produtos. E pimba! Os clientes sumiram em peso e o faturamento caiu quase em 30%.

UÊPA! Como assim? Um estabelecimento diferenciado, com um design estiloso refletindo uma mercadoria de alta qualidade e tudo o mais acabou causando um prejuízo? Pois é, nossos gênios do design simplesmente utilizaram toda uma linguagem visual devidamente extraída de Nova Iorque ou da Zona Sul do Rio de Janeiro em um açougue em Brás de Pina. Subúrbio do Rio de Janeiro. Resultado: rejeição do público?alvo.

Passada a consternação geral, vamos entender o que houve.

A turma do escritório de design, estúdio, coletivo, ou seja, qual o nome da moda cometeu um erro que é muito mais comum do que se pensa, tanto no mercado de design quanto no publicitário. Eles ignoraram solenemente o padrão cultural do público?alvo. Partiram do princípio que, sendo pessoas de refino cultural e bom gosto seria natural que seus próprios padrões estéticos fossem reconhecidos como superiores pela plebe ignara do subúrbio fluminense. Ledo engano, Joãozinho, ledo engano.

Coleginhas designers, vamos estabelecer que essa história de que ?eu tenho bom gosto e você não? não passa de uma baita arrogância. Cada grupo sócio?cultural tem a sua linguagem estética própria, com símbolos e códigos específicos. E esses códigos têm de ser respeitados e utilizados, por mais que se choquem com os nossos. Como prestador de serviço, o designer não está ali para comunicar seus padrões pessoais e sim para comunicar o que o cliente quer que chegue ao público?alvo. Se essa comunicação falha, por mais lindo e maravilhoso que o projeto de design seja, é um projeto falho. Portanto, se o seu público?alvo é brega, caro designer de estilo europeu?modernoso?contemporâneo, você tem de usar uma estética brega. Mas espere um instante! Utilizar uma linguagem estética brega não é fazer as coisas de qualquer forma. Contenha seus ímpetos e lembre?se que, antes de tudo, você é um profissional que sempre busca a melhor qualidade de seus trabalhos (espero). Toda linguagem estética ainda segue as leis da Gestalt, da Forma e da Semiótica/Semiologia. Seguidos esses princípios, seus projetos terão harmonia, legibilidade e eficiência. E o mesmo vale para qualquer padrão estético de qualquer público?alvo.

O pessoal que avacalhou o açougue de nosso case não levou em consideração o que o público de Brás de Pina entende como um bom açougue de qualidade e com isso transformou o estabelecimento em algo que o público ?leu? como um local esnobe e com preços extorsivos. Os empregados não eram mais vistos como os açougueiros que entendiam do assunto e iriam ajudar amigavelmente na compra da carne para o churrasco, mas como atendentes esnobes, ainda que fossem os mesmos de dois meses antes. Esse foi o motivo da redução da clientela. Ao não respeitar os códigos locais, transmitiram uma mensagem totalmente distorcida.

Lição do dia? É simples. Prestem atenção à linguagem de seu público?alvo. Deixem seus preconceitos para a mesa do bistrô chique que vocês frequentam e respeitem toda e qualquer forma de linguagem visual e cultural, aprendendo a trabalhar com o máximo de qualidade dentro de todas elas, não se prendendo apenas ao último modismo de design, seja de identidades visuais, cartazes ou websites. Garanto que assim terão acesso não apenas a uma clientela muito mais ampla como também conseguirão abrir seus horizontes de percepção para toda uma gama de novas possibilidades de criação.

Vai uma carteirinha a

Muito bem… Hoje é dia de mexer em vespeiro. Queria falar um tantinho sobre um assunto que sempre dá brigas: a tal da regulamentação da profissão de designer. Segurem seus tomates, senhores! Por favor, minha camisa é nova e mancha de tomate podre é difícil de tirar! Não vou defender nem atacar aqui se a profissão de designer deve ou não ser regulamentada mas queria deixar claro de antemão que sou a favor. Portanto, se o que eu escrever aqui parecer tendencioso é porque… bem, porque é tendencioso. Mas, ao menos dêem–me o benefício da dúvida.

Antes de pensarmos se vale a pena ou não regulamentar uma profissão no Brasil existem algumas idéias que acredito merecerem um pouco de atenção. A primeira é entender o que é uma profissão regulamentada. A segunda é dar uma olhadinha como esse tipo de coisa funciona mundo afora.

No Brasil, uma profissão regulamentada é aquela, que possui um reconhecimento legal através de mecanismos legais de caráter oficial (tais como leis, decretos, portarias, etc) com formação de conselhos profissionais que estabelecem as normas sobre quem e por que meios uma profissão pode ser exercida. Em outras palavras, para você que está acordando agora, é toda profissão legalmente reconhecida e normatizada por uma associação própria. Em teoria, isso significa que a própria sociedade daqueles profissionais deveria estabelecer seus códigos de ética e os parâmetros sobre quem exerce a profissão ou não.

Se dermos uma olhada na Constituição, acharemos no Artigo 5°, Inciso XII, o texto que garante no país o livre exercício de qualquer trabalho, ofício ou profissão, a não ser aquelas que possuam uma legislação que diga em contrário. É aí que entram as tais profissões regulamentadas. A idéia é se ter o bom senso de saber que em determinadas profissões se sujeito se meter a exercer sem um determinado leque de condições vai causar um baita prejuízo, até mesmo com riscos à vida, às pessoas ou à sociedade. Se você pensou em ?médico?, acertou na mosca. Mas existe também a Engenharia, a Psicologia e por aí vai. Mas se o Juquinha se meter a marceneiro sem nunca ter pego um martelo, ninguém vai morrer (espero) ou não teremos uma crise social estabelecida. Então, para que regulamentar a profissão de marceneiro, certo?

É… É isso que diz o bom senso. Mas, na prática, a banda toca em ré bemol e não em sol sustenido. No mundo real a regulamentação profissional não cumpre só o papel de proteger a sociedade mas também o profissional e o cliente desse profissional. Na prática, as profissões regulamentadas têm um código de ética e recebem condições de punir os profissionais que não o sigam, dentro de seus estatutos. Também estabelecem faixas salariais (pisos, principalmente) para os diversos ramos da profissão e, em muitos casos, estabelece o que é conhecido como ?reserva de mercado?, impedindo que alguém que não se enquadre nos requerimentos da profissão a exerça. Em outros casos, ao invés de garantir que o profissional siga a ética estabelecia, apenas acoberta atitudes antiéticas por interesses políticos internos ou externos ou por simples protecionismo mesmo. Com isso, permite que profissionais de baixa qualificação ou comportamento incondizente permeiem o mercado, gerando péssimos serviços a altos preços e avacalhando de vez a profissão. Pois é, Zezinho… Regulamentação também tem seu lado nego da Força. E esse lado negro é o que faz com que tanta gente lute contra ela.

Muito bem. Mas, como funciona isso no exterior?

Tanto na Europa quanto nos EUA, o normal é que o profissional e não a profissão seja regulamentado. Ou seja, qualquer um pode requerer certificação profissional nas mais diversas profissões desde que comprove ou conhecimento acadêmico (faculdade, curso técnico ou similar, depende da área), conhecimento de mercado (experiência profissional) daquela profissão ou ainda equivalência (registro profissional ou acadêmico estrangeiros), emitidos por entidades certificadas. Essas qualificações também não duram eternamente mas possuem uma validade de alguns anos, finda a qual o profissional deve comprovar não apenas ter exercido a profissão como ter cumprido um número mínimo de horas de atualização profissional científica ou técnica.

Esse modelo não lida com a ética profissional ou protecionismo profissional. Se você estudou ou já trabalha naquela profissão tem direito ao registro profissional. Mas se você resolver se estagnar, perde esse registro. A própria sociedade e o mercado de trabalho separam o joio do trigo. Por outro lado, o número de associações profissionais registradas para emitir os certificados de capacitação ? o que espelha o número de profissões regulamentadas ? é bem amplo, com uma série de categorias e subcategorias. E o profissional não regularizado não pode exercer a profissão para o qual não apresentou capacitação. Isso gera também uma reserva de mercado mas diferente da brasileira pois depende muito mais do nível do profissional do que da uma ação corporativista.

E, no fim das contas? Como é que fica o design, tio? Regulamenta-se ou não?

Acredito que mais importante do que pensar se vamos ou não lugar pela regulamentação do design no Brasil é nos questionarmos qual modelo de regulamentação queremos implementar. De um lado temos o modelo seguido por entidades como a OAB, CREA e CNM. Estas geram uma reserva de mercado da qual muitos profissionais se beneficiam mas que parece trazer poucos benefícios para a sociedade como um todo e mesmo para o profissional vem com um custo político elevado. Do outro lado temos o modelo europeu, que aqui em terras tupiniquins é adotado por entidades com o SATED (que regula as atividades ligadas a teatro, cinema, etc), que se traz menos força política à entidade parece funcionar muito bem, obrigado.

Então, antes de brigarmos contra ou a favor, que tal pensarmos contra ou a favor do quê?

V

Volta e meia estoura uma discussão, seja em listas ou em botequins frequentados pela turma criativa, sobre a diferença entre os micreiros e os designers. Uns dizem que isso é tolice, que todo mundo é designer, outros dizem que saber operar um programa gráfico não faz de ninguém um designer. E arrasta-se a discussão por um bom tempo (ou muitos e?mails). Não vou entrar aqui na questão da formação universitária ou na da regulamentação da profissão; essas batatas quentes eu vou deixar para depois. Mas vamos colocar aqui que existe, sim, uma grande diferença.

Mas, espera um pouco, Zezinho! Antes de começar a me tacar mouses e tablets na cabeça, preste um pouco de atenção e leia até o fim. Já adianto que não estou dizendo que operadores de programas de computador são algum tipo de pessoas de segunda classe, como políticos, ou outra bobagem do tipo. Muito pelo contrário, a maioria deles é composta de profissionais extremamente competentes que dominam muito bem a ferramenta ou as ferramentas com as quais trabalham, muitas vezes melhor do que os designers em si. Ocupam um nicho de mercado de altíssima importância. Contudo, por outro lado, isso não faz deles designers ? da mesma forma que um operador de gráfica, por melhor que seja, também não é um designer. Não é a ferramenta que faz um profissional. Eu posso aprender muito bem a usar as ferramentas de um pedreiro mas isso não vai fazer de mim um engenheiro civil. E da mesma forma que um engenheiro civil não constrói um prédio sozinho, o designer também não precisa, e muitas vezes não consegue, operacionalizar sozinho um projeto.

Porque um designer é, antes de mais nada, alguém que verifica conceitos, estabelece projetos a partir de uma metolodogia e determina sua melhor execução. Independente da ferramenta a ser utilizada. Essa ferramenta pode ser um programa de computador, uma tela de silkscreen, os velhos papel e lápis, ferramentas de corte para madeira ou um spray e um muro. Tudo isso vai depender do projeto a ser executado. Partir da ferramenta para desenvolver projeto é colocar o carro à frente dos bois, quase que literalmente. Isso é um erro primeiro por limitar o projeto às ferramentas dominadas ou disponíveis, depois por engessar o desenvolvimento normalmente a uma série de antecedentes já desenvolvidos naquela ferramenta (ou seja, vai pela moda). De qualquer maneira, Zezinho, se você não tem uma conceituação de projeto o seu resultado final vai ser sempre uma cópia ajustada de alguma coisa ou não vai atingir os objetivos propostos pelo seu cliente.

Conceito, meu caro, projeto. Tudo isso é mais do que essencial. Só que conceitos e projetos não são algo que ?baixam? no designer que nem santo em terreiro e nem surgem por inspiração em noites estreladas. Eles são o resultado de um pensar estruturado e metodológico baseado em uma série de conhecimentos que se vai acumulando e adquirindo através de estudo constante. E, não adianta, esse conhecimento é teórico.

?A?HA!?, grita Juquinha, lá da terceira fileira do fundo, ?Eu sabia que ele ia falar de universidade!?

Calma, amiguinho, calma. Universidade também se encontra nesse escopo. Um curso politécnico ou um bacharelado são métodos de se ter esse conhecimento concentrado em uma estrutura de aprendizado estruturada e fácil de ser acompanhada. Bem, pelo menos mais fácil do que se você tiver de sair catando essas informações por todo canto. Mas, claro que a faculdade não é a única maneira de se obter esse conhecimento. Com uma certa dose de força de vontade, paciência e uma ajuda de quem já conheça, tudo isso está disponível em livros, sites, cursos avulsos ou mesmo na velha relação mestre/discípulo, que não aparece só em filmes de kung?fu. O problema maior não é, porém, saber onde arrumar esses conhecimentos. É saber quais são esses conhecimentos.

Eis a má notícia, Zezinho? É justamente aquele conhecimento teórico chato de coisas que a gente normalmente fica coçando a cabeça querendo saber para que serve quando não os conhece mas que faz maravilhas nas mãos de quem os domina. Coisas com nomes estranhos como Gestalt, Semiótica, Semiologia, ou não tanto como História, Estética, Tipografia e outras do tipo. São essas teorias todas que, juntas, formam um corpo de informações que dão ao designer uma educação do pensamento e do olhar que lhe servirão, em última instância, para pegar todos os dados de um briefing e transformar aquilo em uma coletânea de conceitos focados e viáveis que serão utilizados para aquele tal de processo que falamos antes. Ah, e a tal da metodologia também é um desses conhecimentos teóricos. Sem essa teoria toda na cachola, os conceitos utilizados e o projeto resultante serão ? perdoe?me a franqueza, Zezinho ?, puro chute. É claro que você pode ser um daqueles que acerta a maioria dos chutes. Mas isso é contar com a sorte. Se eu dissesse que ao invés de trabalhar eu prefiro jogar na loteria todo mês para garantir meu salário você não acharia estranho? Pois é? É quase a mesma coisa.

Contudo, não se esqueça que essa teoria não vai adiantar de nada se você não souber colocá-la em prática. Teoria por teoria só é boa se você for um acadêmico ou para discussão em mesa de bar. Estudou? Aprendeu? Então transforme informação em conhecimento. Veja quais as melhores formas de aplicar aquela teoria no dia?a?dia profissional. Pense por si mesmo fora dos limites da caixa teórica e, assim, adicione o seu conhecimento (pensado, embasado e testado na prática) ao escopo dessa teoria. E não seja egoísta! Repasse esse conhecimento.

Mas? Tem sempre um mas, não é, Zezinho? Jamais, repito, jamais jogue teorias na cara do seu cliente. Não vai dar bom resultado, garanto. Ele não quer saber da sua teoria ou o quanto você é esperto. Ele quer ver os resultados. A teoria é a sua ferramenta de trabalho mais importante mas isso não significa que você precise exibí-la para quem não se interessa por ela. Com o cliente, esqueça a teoria e fale que nem gente.

Então, feche um pouco os seus tutoriais de Photoshop e Illustrator e vá procurar bons livros de teoria do design. Ou inscreva-se em um curso superior, ciclo de palestras ou seminários. Ou seja? Vá estudar, Zezinho!

Exposi

Urian Coletivo 70|50
Urian Coletivo 70|50

Certas coisas são o que Jung chamou de sincronicidades, eventos que acontecem de forma tão bem casada que os reconhecemos como algo mais do que uma coincidência pura e simples. Há poucos dias atrás fui gentilmente convidado pela Mônica para atuar como colaborador aqui no designGráfico ? convite que me deixou agradecido e envaidecido, aliás ? e isso coincidiu com a preparação de um evento que não é marcante apenas para mim mas para todo mundo que estudou artes ou design na PUC, o aniversário do prof. Urian Agria e a exposição organizada para comemorar essa data: Urian Coletivo 70|50.

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