Há algumas semanas escrevi uma coluna que falava da regulamentação da profissão de designer. Eu questionava os benefícios que o cliente teria com a medida. A ideia não era desencadear uma campanha anti-regulamentação, mas entender melhor os ângulos da questão para que as pessoas que estavam em dúvida como eu pudessem ter mais elementos para formar a sua opinião.
Recebi muitos comentários e contribuições de pessoas que estão há muito tempo na luta pela regulamentação da profissão. Os argumentos eram numerosos: alguns bastante fortes e convincentes; outros, na minha opinião, só faziam número. De qualquer maneira, um argumento em especial, apresentado pelo professor Freddy Van Camp, foi matador. Finalmente me convenci (e me entristeci muito também).
O professor Freddy me explicou o seguinte: as profissões que já estão regulamentadas ou em vias de podem facilmente tomar para si as atribuições do designer, de maneira que, se nada for feito, o exercício da profissão pode se tornar impraticável (isso é um resumo bem simplista de tudo o que ele disse, mas foi o que entendi). Só como exemplo, nada impede que um arquiteto, que tem sua profissão regulamentada, coloque lá no seu estatuto que só ele pode desenvolver projetos de mobiliário. Ou que os publicitários definam que só os de sua classe podem criar marcas gráficas.
Isso é, de fato, uma ameaça real, e a regulamentação não apenas se torna importante como também urgente.
Fui lendo o que ele escrevia e um quadro ia se formando na minha mente. Um vasto terreno sendo cercado pouco a pouco, cada profissional cuidando do seu quadrado e esperando o do lado bobear para expandir seus domínios. Os designers, perplexos com a movimentação, vão assistindo impotentes sua terra ser tomada, uma vez que não têm escritura pública.
Acho isso tudo muito triste. Na real, sou a favor da liberdade de atuação; sempre achei que não falta trabalho para quem é excelente e quem é medíocre não merece proteção profissional. Nunca me preocupei com rótulos, por isso tinha (e continuo tendo) certa alergia a esse tipo de coisa, ainda mais se considerar a amplitude e a multidisciplinaridade do design.
Penso que os profissionais deveriam construir pontes, não muros. Construir muro dá muito trabalho e leva ao isolamento. Muro também afasta clientes, na minha opinião, e todo esse talento poderia ser gasto para crescer, se organizar, ficar melhor.
Mas sob a ameaça de invasão, fazer o quê? Tristes tempos esses onde tantos usam sua energia para derrubar muros e outros ainda precisam se ocupar em construi-los…
Lígia Fascioni | www.ligiafascioni.com.br