Entrevista com designer automotivo que conta um pouco sobre sua experiência em montadoras como VW, Ford e Fiat.
Por João Paulo Cunha Melo* em 02/02/2008 – 09:00 no Auto Diário.
Hoje mais uma entrevista com designer que se destacam em sua profissão pela a qualidade de trabalho e criativida, hoje será com o designer Marcio Sartori, que hoje trabalha na VW, mas ja passo pela a Fiat e Ford.
1- Quem é Marcio Sartori?
Nascimento 06/02/1977 ? Rio de Janeiro ? RJ
Designer da Volkswagen do Brasil
2 – Como iniciou sua carreira, a paixão por desenhar automóveis?
Sempre fui apaixonado por máquinas em geral (principalmente aviões e depois carros) e também por desenho porém apenas com 18 anos comecei a pensar na possibilidade de transformar essas minhas paixões em uma profissão.
Me formei em uma universidade particular do Rio de Janeiro em 2002 em Desenho Industrial com habilitação em Projeto de Produto. Anteriormente, cursei 1 ano e meio da faculdade de Engenharia Mecânica da Universidade de Taubaté ? SP.
Em 2002, participei do Concurso de Design da Volkswagen do Brasil (hoje, Prêmio Talento Volkswagen de Design) onde tirei primeiro lugar e tive a oportunidade de fazer um estágio de 1 ano no estúdio. Foi uma experiência maravilhosa e bastante dura até os últimos dias de estágio. Logo após, tive uma chance de trabalhar com modelagem tridimensional na Fiat aonde fiquei por apenas 3 meses pois logo consegui uma vaga como designer na Ford. Trabalhei na Ford por quase 3 anos desenvolvendo projetos em diversas áreas e evoluir bastante. No meio do ano passado, tive a chance de retornar a Volkswagen onde comecei minha carreira e tenho muito orgulho de fazer parte desse time novamente, agora como designer efetivado.
3 – Quais os desafios diários e em longo prazo dos projetos em uma montadora?
Acredito que os designers precisam estar sempre bastante antenados sobre tudo o que acontece em nossa sociedade em termos de comportamento e na forma como os consumidores irão interpretar e desejar os produtos no futuro. O designer tem o desafio de colaborar na projeção do futuro dos produtos e preencher os anseios das novas gerações ou até mesmo criar novos anseios sempre levando em consideração fatores culturais e questões ambientais que são cada vez mais vitais para o futuro da industria e da humanidade.
4- Quais os desafios para um designer em montadoras como a VW e Ford diante a tantos concorrentes e produtos que são lançados cada vez mais rápidos?
Para o designer a competitividade no setor automotivo é algo absolutamente saudável. Isso abre sempre oportunidades para que possamos desenvolver novos produtos e soluções inovadoras no que diz respeito à funcionalidade, aplicação de materiais e novas tecnologias. Sem competição, pouco se evolui.
5 ? Qual a dica que você daria a pessoas que estão iniciando a estudar ou se formando em design, para conseguir um dia ser designer em um estúdio?
Bem, eu posso dar a minha opinião baseado no que vivi e no que tenho visto com alguns colegas meus e com os novos estagiários que todos os anos trabalham com a nossa equipe. Antes de mais nada um designer de automóveis precisa desenvolver suas aptidões artísticas através do desenho manual e escultura. Essas duas áreas são à base do nosso trabalho! Um designer precisa olhar para uma superfície e enxergar o que um consumidor não enxerga. Ele precisar ver além. Entender como as proporções, as linhas e superfícies que interagem entre si, resulta em algo atraente e coerente como produto de uma determinada marca. Essa sensibilidade se desenvolve de maneira ininterrupta ao longo da carreira de um profissional dessa área. Quanto mais você observa e critica, mais você enxerga esses detalhes que fazem toda a diferença em um design.
O Brasil ainda é bastante atrasado culturalmente em design porém felizmente também é clara a evolução de nosso mercado e dos nossos profissionais. Existem dezenas de profissionais brasileiros mundo a fora fazendo trabalhos nos mais altos níveis de qualidade e reconhecimento, sem contar o crescimento do mercado interno abrindo muitas oportunidades nessa área. De modo geral, penso que o investimento em design de qualidade é vital para o sucesso de um produto. O desenvolvimento de uma identidade própria para uma marca e boas soluções de funcionalidade e estética atraente são atributos mínimos para que uma marca se destaque no mercado cada vez mais competitivo. Muitos empresários ainda não acordaram para isso e certamente ficarão para trás caso não entendam que publicidade e design são indispensáveis.
O design tem sido cada vez mais compreendido e valorizado como atributo decisivo na compra de um produto. Isso está abrindo muitas oportunidades para os novos designers. Minha opinião é que o estudante deve tentar escolher uma área que o atraia e foque seus esforços nisso o mais cedo possível. Investir no que é necessário para que ele consiga um estágio nessa área e siga carreira nela. No caso do design automotivo, sketches a mão livre, ilustração em photoshop, modelação tridimensional, escultura em clay e claro, falar no mínimo o inglês fluente. Participar de concursos de design também é uma excelente forma de treinar suas habilidades e divulgar seu potencial, sem contar os concursos como o Talento Volkswagen, que oferecem como prêmio, uma vaga de estágio.
*João Paulo Cunha Melo, Designer de produto pela a Faculdade de Belas Artes de São Paulo e sócio da Wide Industrial Design, escreve para o AutoDiário quinzenalmente na Coluna Design em Movimento