Eis que o final de ano se aproxima e a minha caixa fica lotada de pedidos de colaboração para responder pesquisas variadas. Em geral, são pessoas que estão fazendo algum trabalho de conclusão de curso, dissertação ou tese. Em alguns casos, estão querendo subsídios para desenvolver um novo produto. Como sei o desespero que é conseguir voluntários de boa vontade para colaborar nessas horas difíceis, sempre reservo um tempinho para isso.
Mas nunca deixo de me surpreender com a falta de gentileza e bom senso desses pesquisadores de ocasião. Eles querem que a gente ajude, mas não facilitam a nossa vida em nada. Quem tem interesse que o questionário seja respondido que se mexa e descubra um jeito de tornar a tarefa menos ingrata e trabalhosa para os solidários colegas.
Para mim, o cúmulo da falta de educação e sensibilidade é a criatura simplesmente anexar um arquivo em formato Word e obrigar o pobre voluntário a desanexá-lo, editá-lo aos trancos e barrancos (os espaçamentos geralmente se perdem e aparecem erros de formatação) e depois anexá-lo novamente para enviar de volta. Troféu “sem noção” é pouco. Responder a questionários é muito chato, mas se dar a esse trabalhão todo é muito pior.
Vou dar uma dica sobre como fiz para obter as 476 entrevistas virtuais que fundamentaram a minha tese de doutorado sem ter que cortar relações definitivamente com parentes, amigos e conhecidos. Pode ser útil para quem está a ponto de se tornar um pária da sociedade por sua chatice sem fim em convencer toda a sua rede de contatos a responder a pesquisa.
Primeiro, publique o seu questionário em uma página na Internet. Não sabe? Azar o seu. Aprenda ou consiga alguém para fazê-lo. Isso é fundamental, pois você não precisa mais anexar nada, é só enviar um link para a alma caridosa clicar. A outra vantagem desse meio é que, usando as armas certas, você consegue que as respostas sejam enviadas automaticamente para um endereço de e-mail criado especialmente para esse fim, o que não mistura os resultados com a sua correspondência normal.
Lembre-se de que o questionário não precisa (nem deve) ter frescuras e convém que seja limpo e fácil de preencher (princípio básico do design, lembra?). Ah, e não se esqueça de criar uma página de agradecimento, que tem duas funções: agradecer realmente a disposição e permitir que a pessoa se certifique que suas respostas foram enviadas com sucesso.
Outra coisa que bolei e deu muito certo, apesar de bem simples, foi o seguinte: como, no meu caso, as entrevistas eram separadas por empresas, criei um código para cada pessoa para quem eu mandava a mensagem. Era assim: eu falava com o responsável por cada empresa (eram 19) e pedia, por exemplo, o endereço de 3 clientes, 3 colaboradores e 3 fornecedores. As mensagens eram personalizadas (essa regra é de ouro!) e explicavam que o endereço havia sido fornecido por fulano (da empresa tal) e que o sigilo das respostas era garantido pelo tal código. Assim, a pessoa entrava na página, digitava o código e respondia rapidamente as questões. Olha só um exemplo: xc2 (onde x é a empresa, c é de cliente e 2 é o número do cliente). Para que servia isso? Ora, se eu precisava de 10 entrevistas de clientes de uma empresa, sabia que já tinha recebido 9 e que tinha que arranjar outro endereço, já que um dos nomes fornecidos não se dispôs a responder (e eu sabia exatamente que era o de número 5, pois havia uma tabela com os nomes e respectivos códigos). Ficava fácil de conferir quem tinha respondido o quê, porém, garantindo a privacidade nas respostas. Assim, você não corre o risco de ficar infernizando a vida de quem já colaborou. Dá um trabalho dos diabos, mas para você, não para seus amigos do bem.
Ah, e outra coisa que muita gente se esquece, mas é o básico da boa educação: oferecer aos voluntários uma cópia do trabalho concluído, afinal, sem eles, nada teria sido feito.
Pois é. Parece tão óbvio. Por que então continuo a receber avalanches de arquivos anexados que depois nunca mais dão notícias, se o bom senso (assim como o bom gosto) é uma das poucas coisas que todo mundo acredita já ter o suficiente desde que nasceu?
Lígia Fascioni | www.ligiafascioni.com.br