Quando não dá certo…

Tem dias que essa coluna até que está legal. Mas algumas vezes, confesso que não me orgulho nem um pouco de vê-la publicada. Até erros de português encontro.

 

Pois é, a gente não acerta todo dia (na verdade, o índice de erros é bem alto), mas ninguém precisa se matar ou desistir por causa disso. Melhor assumir, ouvir as críticas com atenção e partir para erros novos.

 

Acontece comigo, com você e com designers gráficos também. Pena que as pessoas relutem tanto em admitir.

 

Método projetual em design é uma coisa que designers sérios levam a sério mesmo. Os autores consagrados apresentam variações, mas de tudo o que li, sempre aparecem, de um jeito ou de outro, os seguintes passos:

 

1. Obter o máximo de informações sobre o projeto. Isso pode acontecer de várias maneiras. Deve-se definir bem o problema e conhecer o público de interesse, estudar os concorrentes diretos e indiretos, relacionar as necessidades e restrições que o projeto deve atender, prospectar tendências, verificar a disponibilidade de técnicas e materiais, redigir um briefing bem completinho e tudo o mais que puder ajudar. Eu incluo ainda, nos projetos dos quais participo, um diagnóstico da identidade corporativa.

 

2. Organizar ou representar visualmente as informações associadas. Isso pode ser feito por meio de um painel semântico, onde imagens e palavras podem conduzir o fluxo de idéias, mas há outras formas. Há quem use mapas mentais, visite bancos de imagens e até quem prefira rabiscar em Moleskines.

 

3. Gerar alternativas. Quem ignora o método geralmente começa desse ponto, perdendo pelo caminho um monte de informações essenciais quando se senta na frente do computador. A geração de alternativas pode ser feita a lápis mesmo, num primeiro momento.

 

4. Selecionar alternativas e refiná-las. Designers profissionais costumam escolher 3 opções (no máximo) para apresentar ao cliente. Isso acontece por dois motivos: se ele apresenta 10 idéias, é porque não fez uma pré-seleção e o trabalho ainda não está maduro. Além do mais, o cliente pode ficar confuso e querer construir um Frankestein com um pedaço de cada. Por isso é que se precisa estudar bem todas elas, verificar os prós e os contras de cada uma, analisar a pregnância da forma, as possíveis interpretações semióticas, se as cores são as mais apropriadas, as aplicações em positivo e negativo, a adequação da tipografia, os alinhamentos, a Gestalt. Se é um cartaz, é importante se certificar que ele cumpre os objetivos. Se é uma marca, garantir que ela não contradiz a essência da empresa. Se é um documento, assegurar-se de que a informação é comunicada com clareza e facilidade.

 

5. Apresentar o resultado ao cliente e estar aberto a ouvir feedbacks. Essa é a parte mais difícil, sem dúvida. Principalmente porque nesse ponto o designer já está considerando o seu trabalho como um filho e disposto a defendê-lo com unhas e dentes de qualquer ameaça de crítica. Sempre advogo que um profissional precisa ter argumentos técnicos para apresentar em caso de dúvidas ou descontentamentos, até para evitar que o cliente mutile o projeto ou modifique-o a ponto de torná-lo irreconhecível. Ok, mas às vezes acontece do trabalho não ter ficado bom mesmo.

 

O fato do sujeito ter seguido todos os passos, ter feito tudo direitinho e se dedicado, ainda não garante um resultado digno de nota. Pode ter faltado talento. Pode ter faltado tempo ou planejamento. Sei lá, pode ter faltado até inspiração para encontrar uma solução eficaz e contundente. Nada disso significa que ele é um incompetente, mas certamente significa que ele precisa fazer de novo.

 

O duro é quando o designer não quer admitir isso de jeito nenhum: ficam ele e o cliente tristes, frustrados, infelizes, agredindo-se com meias palavras e guardando mágoas mútuas. Ruim para todo mundo.

 

Vejo alunos dedicados fazerem tudo certo e apresentarem trabalhos medíocres, ruins mesmo. Como fazê-los entender? Na maioria das vezes, falta cultura visual, eles não fazem a menor idéia do que estou falando e acreditam piamente que o resultado ficou ótimo.

 

Não gosto da palavra humildade porque associo-a sempre à submissão, coisa que acho péssima. Então, nessa hora, aconselharia mesmo é ter bom senso e manter ouvidos e olhos bem abertos.

 

A gente pode aprender muito nessas experiências traumáticas quando consegue reconhecer que não foi brilhante. Convém não desperdiçar a chance.

 

Lígia Fascioni | www.ligiafascioni.com.br

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