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Arghdesign #6: Amo muito tudo isso

“(…) Veja o caso do Chile. O Chile é uma país que entendeu o valor de sua marca. Há uma década atrás, quem no mundo tinha ouvido falar de vinho chileno bom? O café brasileiro, por sua vez, é reconhecido lá fora – mas o produto bruto, e não as marcas brasileiras. As empresas brasileiras precisam também saber valorizar suas marcas. As empresas brasileiras precisam de design!”

A frase acima não corresponde a nada de novo para nós. Já lemos, discutimos e escrevemos sobre isso há anos. Tem gente que não entende a “mania anti-design” que eu manifesto em minhas relações sociais, mas a razão está bem aí: chega um ponto onde você está tão saturado do assunto que precisa de várias – e não só uma – válvula de escape. Mas da mesma forma que você sempre aumenta o volume quando aquela música que adora toca na rádio, mesmo estando saturado de ouví-la no iPod ou CD Player, escutar esta frase completamente fora do contexto – isto é, em uma situação onde você nunca imaginaria ouvir isso, vindo da boca de alguém que você nunca imaginou se interessar por isso – é simplesmente adorável.

Esta frase saiu na quinta-feira, 11 de setembro de 2008, da boca de Fernando Henrique Cardoso, ex-presidente por dois mandatos e “contador de causos” – do tipo que fala da amizade com o primeiro-ministro canadense ou Hillary Clinton como quem fala dos amigos da roda de poker das segundas à noite. E saiu em um auditório irrelevante de uma universidade irrelevante em uma cidade quase mas não totalmente irrelevante do meio-oeste de Santa Catarina.

Em Caçador-SC, um grupo de empresários, em conjunto com a universidade local (UNC) decidiu realizar uma roda de palestras “motivantes” para dar um empurrão no desenvolvimento local. A cidade está encravada no coração da região do Contestado, local de uma das poucas e breves guerras civis brasileiras, no início do século XX, e colonizada por imigrantes europeus não-portugueses (leia-se italianos, alemães, poloneses e afins) em um sanduíche cultural cujos pães são o Rio Grande do Sul, o sul do Paraná, a Argentina e a Serra do Espigão.

Muitas das empresas da região produzem essencialmente commodities para exportação, como madeira de reflorestamento, celulose e curtume, sem grandes inovações, o que via de regra tem funcionado bem através dos tempos (algumas das empresas têm mais de 60 anos!). Mas exportar com o dólar a cerca de R$1,90 e o mercado externo em crise não é um dos melhores negócios do mundo, e parece que a necessidade de investimento em diferenciação, inovação e P&D (pesquisa e desenvolvimento) finalmente bateu à porta.

Foi justamente com o objetivo de incentivar esse tipo de desenvolvimento industrial que o Programa Brasileiro de Design foi criado, em 1995, durante o primeiro mandato do então presidente FHC. De lá para cá, a atuação do PBD foi concentrada em eventos esporádicos de fomento (Bienal Brasileira de Design), concursos (Design & Excellence Brazil) e oficinas voltadas especialmente aos APLs (Arranjos Produtivos Locais), que em 2002 passaram a fazer parte também do programa de vários dos núcleos de design criados pelo programa Via Design, do Sebrae. Apenas em 2004 o MDIC (Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior) inseriu o design nas diretrizes gerais para inovação e desenvolvimento nacional.

A extensão do trabalho do PBD pode ser “apreciada” durante o Brazil Design Week, que foi realizado de 9 a 14 de setembro no Rio de Janeiro. A primeira atividade do evento foi justamente o Fórum de Políticas Governamentais, que contou com a presença de representantes da Espanha, Coréia do Sul e Inglaterra. Os cases serviram para mostrar o que todo mundo já sabe – que uma política consistente de design está diretamente correlacionada ao desenvolvimento competitivo da indústria. Mas serviram também para mostrar a fraqueza do programa brasileiro.

A última apresentação do fórum foi justamente do PBD. Depois de três extraordinárias, ficava claro o nervosismo da representante brasileira. Ela gaguejava. Hesitava em falar das características do programa, limitando-se a enumerar as atividades que o PBD já realizou nos 13 anos de vida. Desculpou-se várias vezes (eu contei quatro) pela sua própria falta de preparo. O design fala a mesma língua no mundo todo, mas aparentemente não no Brasil. É de se imaginar o que pensavam os três representantes internacionais na primeira fila, enquanto ouviam a palestra pelas palavras do tradutor português-inglês.

Quando FHC estava saindo do nossa pousada, onde estava hospedado, rumo ao aeroporto, tive a chance de fazer uma última pergunta ao me despedir.

“ – Professor, o senhor já ouviu falar do PBD, o Programa Brasileiro de Design?”

“ – Não.”

“ – (longa pausa) Nunca?”

“ – Nunca.”

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Luiz Fernando Pizzani é coordenador geral do Projeto Empreendedorargh!, uma iniciativa de cursos de curta duração, palestras e pesquisas itinerante sobre mercado de trabalho e empreendedorismo em design no Brasil. É graduado em desenho industrial – projeto de produto pela PUCPR, pós-graduando em CBA de Gestão de Negócios pela Estação-Ibmec Business School e presta serviços de consultoria para empresas de design recém-formadas ou em fase de formação. É viciado em blackberry, ford galaxies e falar mal dos eventos alheios, não necessariamente nesta ordem.

ArghDesign#4: Starck x starck

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Você acredita no design?

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Há cerca de um ano atrás, um nobre amigo escreveu um texto curto sobre o não-acreditar em design. Nele, o Ceviano em questão (Eduardo Gonçalves) afirmava que voltou a acreditar no design como peça fundamental para a melhoria do mundo depois de um tempo de crise, mas que não via “como exercer o design desta maneira no mundo como ele está hoje”. Ele não é o único.

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Em março deste ano, Philippe Starck, o renomado designer francês que nos brindou com sua fabulosa versão do que um espremedor de laranja não deve ser, respondeu à uma entrevista para uma revista alemã onde afirmava, melancólico: “O design está morto”. E complementou, dizendo que todo o trabalho de sua vida foi desnecessário e inútil. Com estas frases, Starck deixou de acreditar no design. Lucidez tardia?

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A entrevista gerou respostas diversas. Sydney Glover, colunista do The Sydney Morning Herald, foi enfático: “Bem, o resto de nós poderia ter dito isso para ele”. Bruce Nussbaum, da revista americana BusinessWeek, citou alguns exemplos de designs que passaram longe de serem inúteis para a sociedade (ainda que não sejam obra do polêmico entrevistado) e preferiu abrir a questão para debate. Jill Fehrenbacher, do blog Inhabitat indagou se não era algum tipo de “crise de meia idade”.

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Menos de um mês depois, o mesmo Starck ressurge dizendo que está “de volta no jogo” e que agora apenas produzirá peças que colaborem para a sustentabilidade do mundo. O anúncio foi realizado em uma mostra paralela do salão de Milão intitulada “Greenergy Design”, onde Starck nos apresentou seu novo brinquedo – “Democratic Windmill”, uma turbina eólica caseira (maneira cool de dizer “cata-ventos”) que qualquer um (?) pode ter em casa a partir de setembro e assim suprir até 60% da necessidade de energia do lar. Derivados o petróleo, nunca mais. Envergonhem-se, fãs da Alessi. Assim como meu colega, Starck voltou a acreditar no design… mas como apontou Nussbaum e provou Gonçalves ainda ano passado, com um pouco de atraso.

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Enquanto o Starck (Phillipe) passava por suas crises, outro Stark (o Tony) faturava milhões em bilheteria mundo afora. Tony Stark, como todos sabem, é o Homem de Ferro, um empresário milionário inteligentíssimo da indústria bélica que, após uma crise de consciência, monta uma armadura fantástica e vira super-herói. Eu proponho uma troca: ao invés do Phillipe, vamos tornar o Tony o exemplo-mor a ser seguido de designer contemporâneo. Como todo designer, ele passou por uma crise pessoal (foi sequestrado e passou a ver o mundo com outros olhos) e passou a usar suas habilidades fantásticas para o bem, produzindo uma (por que não?) obra-prima do design. Em meu outro artigo, eu escrevi que não existem designers super-heróis. Errei! Descobri vários. Não podemos esquecer também do saudoso MacGyver.

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Em Terra Brasilis, um terceiro Stark dá uma aula do que é acreditar no design. Produzido pela TAC (Tecnologia Automotiva Catarinense) e desenhado pela Questto Design de São Paulo, o Jipe Stark é, sob vários aspectos, um paradoxo industrial. Em um mercado dominado por grandes montadoras mutinacionais, um grupo de empresários convenceram investidores, convenceram parceiros e, principalmente, convenceram a si mesmos. E acreditaram no design. E pra eles, acreditar ou não no design não é um luxo retórico, como no caso do Starck (o Phillipe) e outros designers, mas simplemente uma questão de sobrevivência. São as regras do mercado em sua aparência mais crua. (O jipe chegou a ser exposto no Museu da Casa Brasileira, em dezembro de 2007)

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Existem “acreditares” e “acreditares” em design, mas há uma diferença entre o acreditar da indústria e o do designer. A indústria é pragmática: ela quer resultados. Já os designers podem até se deixar levar pro suas incertezas, mas estas devem ficar restritas a nossas próprias discussões – ao nosso próprio mundinho. Você contrataria alguém que não acredita em si mesmo?

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O exemplo dos três Star(c)ks ilustra bem isso. O terceiro Stark é o design pragmático e sem crises de identidade aplicado na prática. Em se tratando de projetos de risco, não há lugar para incerteza. O segundo Stark mostra que mesmo quando não quer, a ficção imita a realidade (ou é a realidade que imita a ficção?). E o primeiro mostra o designer em crise consigo mesmo – a crise que passou pelo Tony e nem chegou no jipe. Mas Phillipe Starck é Phillipe Starck. Ele pode.

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E você, com qual Starck se identifica?
(Eu sou mais o Tony Stark. A casa dele é muito mais legal e ele tem a Gwyneth Paltrow)

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Luiz Fernando Pizzani é coordenador geral do Projeto Empreendedorargh!, uma iniciativa de cursos de curta duração, palestras e pesquisas itinerante sobre mercado de trabalho e empreendedorismo em design no Brasil. É bacharel em desenho industrial – projeto de produto pela PUCPR, pós-graduando em CBA de Gestão de Negócios pela Estação-Ibmec Business School e presta serviços de consultoria para empresas de design recém-formadas ou em fase de formação. É viciado em molho barbecue e pede sinceras desculpas por ter publicado este artigo com 24 horas de atraso. Não necessariamente nesta ordem.

ArghDesign #3: Eu Já Esqueci Mais Do Que Você Um Dia Vai Saber

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Assim que terminar meu pretensioso livro sobre fracassos, já tenho uma nova e brilhante idéia: criar um livro sobre “pop-design”. Surgiu assim: Uma hora de enrolação no aeroporto de Manaus por precisar remarcar minha passagem para São Paulo, uma visita rápida a uma livraria, um olhar de revesgueio para a prateleira dos infames livros de “como-ascender-na-carreira-e-ficar-rico” e presto! Me surge uma Eisenbahn em meio às Kaisers: “Abaixo o Pop-Management!”, uma coletânea das colunas de Thomas Wood Jr na Carta Capital, pelo singelo preço de R$9,90. Se o título fez meu cérebro respirar feliz, o conteúdo equivaleu a uma injeção de meta-anfetamina atrás da orelha. ”Pop Management”, na concepção do livro, é a repetição constante de mantras da profissão por pessoas com preguiça de estudar coisas novas e/ou um profundo interesse em lucrar com as idéias alheias. No campo da administração isso gera um tremendo problema, visto que nunca duas empresas serão exatamente iguais (e portanto, receitas de bolo não existem!). John Kay, em artigo publicado em 2002 na The Economist (citado por Felipe Ribeiro), diz, por exemplo, que o best-seller “Quem Mexeu no Meu Queijo” é direcionado para leitores com 5 anos de educação escolar. Soa familiar?

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“Abaixo o Pop-Management” entrou merecidamente em segundo lugar na minha lista de livros de negócio prediletos. O primeiro (e incontestável até agora) segue com “Por Que as Pessoas de Negócios Falam Como Idiotas?” – aliás, outro forte candidato a ter uma versão para designers saindo de minhas maltraçadas linhas em breve.

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Os livros podem ter servido como lâmpadas, mas quem forneceu a eletricidade para a brilhante nova idéia foram dois artigos publicados recentemente neste mesmo blog. O primeiro é da coluna do Bob Wollheim no W News, publicado aqui pelo colega Fernando Galdino. O artigo é a expressão mais pura de um “Pop-Manager” em ação. A transmutação de um ser comum nessa praga de palestras motivacionais é fácil de entender. A administração é provavelmente a única área onde se pode seguir uma carreira escrevendo livros novos todo ano sobre exatamente o mesmo assunto, mudando apenas a ordem dos capítulos, e continuar vendendo milhões. Isto ocorre porque, apesar de haver muita gente fazendo pesquisa séria, a picaretagem domina com larga vantagem o mercado.

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O problema é que há algum gene empoeirado circulando nas nossas células que faz que continuemos atrás de alívio espiritual para as incertezas do cotidiano. Na prática, nós precisamos que alguém nos conte uma história bonitinha e diga que tudo vai dar certo no final (até a Xuxa já fez dessa, e magistralmente). Tom Peters escreve: inovação é a chave. Logo, dá-lhe mais e mais tratados anencéfalos sobre inovação estratégica. Dolabela escreve: empreendedorismo é a salvação. E dá-lhe “especialistas” sobre o assunto surgindo da noite pro dia. Muitas vezes nem é má vontade, é preguiça de estudar mesmo. De novo: soa familiar?

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O que leva ao segundo artigo, do prof. Ricardo Martins (sobre “deus-signers”). Este chegou até levantar certa polêmica, e explica com uma clareza enorme a versão “pop-management” do design – ainda que o autor nem cite a expressão. Pop-designers são os primos pobres dos pop-managers. Ambos tentam montar uma carreira baseada em sua própria inépcia (ou má-vontade) de conhecer novas idéias e reciclar seus conhecimentos. Designers com esse perfil estão em todo lugar. Quando não têm diploma, são rotulados de “micreiros” e marginalizados. E quando têm? Se design mata, como diz Ivens Fontoura, quem vai assegurar que tais personalidades e seus egos fiquem bem longe da sociedade civilizada? Da mesma forma como um leitor de Você S/A nunca será um executivo de sucesso justamente por perder tempo lendo Você S/A, um designer nunca será, de fato, um verdadeiro designer enquanto não perceber que as “estrelas” das capas das revistas de design são as exceções e nunca a regra – e os verdadeiros designers bem-sucedidos estão ralando e estudando, atrás de seus micros, para entregar para seus clientes e colaboradores nada menos do que a melhor solução possível. E não tem glamour nenhum nisso.

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Um exemplo bacana da contestação ao “pop-management” em toda sua frondosa plenitude é uma brincadeira infelizmente ainda pouco popular no Brasil chamada buzzword bingo. Funciona assim: em cartelas comuns de bingo, em vez de números, são anotados chavões do mundo corporativo, como “agregar valor”, “quebrar paradigmas”, “pensar fora da caixa”, “blue-sky thinking” e por aí vai. Durante uma palestra ou conferência, as cartelas (secretamente) são distribuídas, tornando o ato de sentar a bunda em uma carteira enquanto uma pobre alma lança palavras vazias ao ar (intercaladas com as clássicas tiradas à la Jerry Seinfield pra quebrar o gelo) muito mais divertida. A brincadeira, inclusive, virou tema de uma propaganda recente da IBM. Não é uma tremenda idéia para usarmos no design (especialmente nas salas de aula)?

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De “agregadores de valor” e “modificadores de paradigmas” já bastam os pop-managers. De designer megalomaníaco já tem o Hans Donner e tá bom demais.

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(Em tempo: O terceiro melhor livro de negócios na minha prateleira é O Restaurante no Fim do Universo, segunda parte da “trilogia de cinco livros” do Guia do Mochileiro das Galáxias, de Douglas Adams – mais precisamente o capítulo 32, que me lembra de praticamente todos as reuniões em fórums de design das quais já participei.)

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Luiz Fernando Pizzani é coordenador geral do Projeto Empreendedorargh!, uma iniciativa de cursos de curta duração, palestras e pesquisas itinerante sobre mercado de trabalho e empreendedorismo em design no Brasil. É bacharel em desenho industrial – projeto de produto pela PUCPR, pós-graduando em CBA de Gestão de Negócios pela Estação-Ibmec Business School e presta serviços de consultoria para empresas de design recém-formadas ou em fase de formação. É viciado em livros estranhos, cartazes bizarros, purê de batatas com legumes e encontros de design – não necessariamente nesta ordem.

ArghDesign #1: Design para Fracassados!

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[NOTA: nesta nova coluna, abordarei os resultados das minhas pesquisas através do Projeto Empreendedorargh! e as observações que tenho feito nesses 7 anos dentro desse nosso mundinho designer. Embora quase tudo tenha raiz em algum lugar, é bom frisar que aqui vai nada mais do que minha opinião – parcial, preconceituosa, imoral e ordinária. Comentem!]

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Failure is one of those things that “serious people dread”. Invariably, the persons most likely to be crippled by this fear are those people who have convinced themselves that they are so bitchen they shouldn’t even be placed in a situation where they might fail. Failure is nothing to get upset about. It’s a fairly normal condition; an inevitability in 99% of all human undertakings. Success is rare – that is why people get so cranked up about it.

– Frank Zappa

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Eu tenho um interesse crescente em escrever um livro sobre fracassos. Prateleiras e mais prateleiras de nossas adoráveis bibliotecas e livrarias do dia-a-dia estão entupidas de leituras de casos de sucesso, o que se tornou algo muito pior que uma praga – pelo menos no que tange aos livros de negócios. O mesmo pode não ocorrer com design, mas sejamos sinceros, achar um bom livro de design sem figurinhas já é difícil em primeiro lugar. De qualquer forma, empresas de design, assim como empresas de qualquer área, nascem e morrem a todo momento. Algumas mais afortunadas crescem e cravam seu nome na mídia (ou pelo menos na mídia que interessa aos clientes específicos daquela empresa). É relativamente fácil encontrar essas, assim como conhecer suas histórias. Mas e as que morrem? Para onde vão?

Toda empresa começa de um núcleo similar: um grupo de duas ou mais pessoas com um interesse em comum: ganhar dinheiro. Podem haver um zilhão de outros motivos (“odeio meu chefe”, “encontrei um nicho”, “quero mudar o mundo”), mas se alguém abre uma empresa sem ter a intenção do lucro já está cometendo um erro em primeiro lugar. Nesse caso, é infinitamente melhor abrir uma ONG. Você dorme em paz à noite e ainda ganha ajuda do governo para isso. Considerando que não seja esse o caso, uma vez constituída a empresa, ela logo passa por uma fase um tanto complicada: você tem finanças a cuidar, mas não tem expertise nem muito menos cacife para contratar um bom profissional da área. Você tem boa vontade, mas não tem clientes (e, as vezes, nem sequer portifólio). Você as vezes não tem nem sequer uma boa sala comercial, tendo que aguentar vizinhos barulhentos, inevitáveis complicações climáticas e uma certa claustrofobia. E isso que nem chegaram as primeiras contas brabas para pagar. E é nesse momento, quando os sócios estão com os nervos à flor da pele, que a empresa passa pela sua primeira grande crise existencial: aquela em que um olha para a cara do outro e começa a pensar seriamente em porque diabos aquele cara, que sempre foi tão companheiro em botecos pela vida, trabalha com tanto afinco quanto um senador em mandato vitalício no congresso nacional. Ou ainda: “fazer freelas/ ter um chefe era mesmo tão ruim assim?”. Mal a empresa começou e ela já está perigosamente perto do fim.

Relacionamento é sempre um item delicado. Talvez seja por isso que há muitos milênios sábios monges das altas montanhas do noroeste de algum lugar obscuro escreveram em suas tábuas de sabedoria: “Amigos, amigos, negócios à parte”. É um clichê dos nossos dias. Mas um clichê que sempre fez (e ainda faz) todo o sentido. Enquanto estamos na universidade, é comum nós criarmos grupos de trabalho conforme nossos grupos sociais – é muito mais divertido fazer um trabalho com aquele cara que sabe fabricar cerveja em casa que com o fã do Hans Donner que usa óculos esquisito. Mas uma vez que estejamos agindo em um nível profissional, as potencialidades passam a ser muito mais importantes que eventuais desavenças de gostos. É claro que um bom relacionamento entre os sócios é fundamental para a empresa que está nascendo, mas faz mesmo tanta diferença o fato do cidadão ser fã do Calypso?

Conheço um caso muito bom de fracasso que veio de algo bem similar. E é bom deixar claro: só conheço o caso à fundo justamente por ele tratar de grandes amigos meus. Empresários falidos não tendem a ser muito gentis em relatar as desavenças internas que eventualmente levaram à ruína suas empresas. O caso é o seguinte: dois amigos de faculdade, pouco depois de formados, resolvem montar empresa de design. Para montar seu portifólio, usam seus trabalhos como freelancers e trabalhos acadêmicos. Logo atraem alguns clientes e assim vão crescendo – ou assim parece. Meses depois resolvem dissolver a sociedade. O que aconteceu? Enquanto um dos sócios era mais pró-ativo e gerencial, o outro era puramente operacional. Em outras palavras, um ótimo profissional, mas que nada fazia sem uma ordem superior. Muito bom em várias empresas – mas não em uma recém-fundada, com apenas duas pessoas trabalhando. Obviamente, brigas começaram a acontecer, e, para não perderem a amizade, encerraram a sociedade.

Fazendo um contraponto (porquê contrapontos sempre são legais), a esmagadora maioria das empresas de design que eu pesquisei até hoje surgiu de forma muito similar à citada acima. A diferença está no que veio depois – e como os sócios-empreendedores aprenderam a lidar com as adversidades. Afinal, levar tombos é comum em qualquer projeto na vida. Levar tombos, se levantar, sacudir a poeira e seguir em frente é o que diferencia bons empreendedores. Pelo menos, é isso que as centenas de livros de casos de sucessos mostram. E de novo, é por isso que amo estudar os fracassos. Feliz ou infelizmente, sabemos que a vida real não vem em livros de auto-ajuda; A vida real é suja, deselegante, ordinária e cruel. E deliciosamente divertida.

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Luiz Fernando Pizzani é coordenador geral do Projeto Empreendedorargh!, uma iniciativa de cursos de curta duração, palestras e pesquisas itinerante sobre mercado de trabalho e empreendedorismo em design no Brasil. É bacharel em desenho industrial – projeto de produto pela PUCPR, pós-graduando em CBA de Gestão de Negócios pela Estação-Ibmec Business School e presta serviços de consultoria para empresas de design recém-formadas ou em fase de formação. É viciado em história política brasileira, Monty Python, Frank Zappa, cervejas artesanais e voadoras, não necessariamente nesta ordem.

Para não dizer que não falei das flores – Design no SPAM

Spam feito com a RONDA do Ceará

Pois é, o governo do Ceará no final do ano passado, de modo inédito no país, aparelhou com tecnologia de ponta as viaturas da Polícia daquele estado, foram adquiridas Toyotas Hilux completas, sistemas de gestão de informação e tudo mais, foi um alvoroço, uma confusão, um Spam na mídia. O resultado hoje é que dizem uns que foi um gasto desnecessário, outros que é investimento em tecnologia e segurança. Bem, resta o futuro nos dizer no que isso vai dar. Mas nos, por sua vez, podemos dizer que foi bem gasto! Pelo menos tem design, e o design do computador de bordo é nosso!

Para maiores informações sobre o projeto e o SPAM, visitem o http://blog.tipod.com.br, o spam está lá com fotos na íntegra!

Foto de Painel com o Computador de Bordo desenvolvido pela TipoD para a Autotrac

Países emergentes impulsionam o setor

Segundo o estudo “O Mercado Internacional de Impressão 2006-2011”, conduzido pela Pira Internacional, o segmento mundial de impressão deverá crescer 18% até 2011, atingindo faturamento de US$ 721 bilhões. De acordo com os dados, o setor deverá sofrer maiores alterações em países mergentes em que as novas tecnologias, como a impressão digital e a preocupação com o meio ambiente começam a se estabelecer. O maior crescimento também deve ser verificado nestes países, com destaque para a Índia, Rússia e Venezuela, os três primeiros países do ranking dos maiores potenciais do setor.

Gráfico

Fonte: Revista Embanews (dez 2007)

É de pequeno que se torce o design

 

 A maioria dos meus post nasce de uma situação do meu cotidiano, conversas, comentários de textos meus, situações vividas ou vistas. Se existe alguma razão para meus textos serem considerados estranhos culpem o meu cotidiano, ele é o verdadeiro culpado por isto.

 

Este texto não poderia ser diferente, nasceu de uma conversa com um(a) colega, o nome eu não conto para evitar futuros processos e/ou divisão de autoria deste texto.

 

Antes que me perguntem eu adianto, não ele(a) não é designer. Mas a situação apresentada já foi vista por mim diversas vezes em alguns estudantes e até mesmo colegas de profissão. Por conseguinte merece um texto. (mesmo que não merecesse eu ia faze-lo..afinal tenho uma cota a preencher por aqui por isso, por favor, compreendam).

 

A conversa girava em torno da sua atividade profissional, quando ele me passou o quanto cobra por sessão. Eu argumentei que o valor estava muito abaixo do oferecido pelo mercado. Sua resposta seca foi:

 

“-É assim mesmo… Eu ainda estou começando.”

 

Mediante tal argumento, fiz o que qualquer um em meus calcanhares faria: calei-me.

 

Mas aquilo me incomodou profundamente – a resposta não o fato de eu ter que me calar, até por que eu curto momentos de silêncio e introspecção, mas estamos fugindo do assunto.

 

E comecei a dar asas a minha memória, e lembrei de quantas vezes eu ouvi e sou obrigado a confessar, um pouco envergonhado admito, proferi eu mesmo estas malditas palavras.

 

Na época eu achava não haver problema algum com tal atitude, mas vejo hoje que era a raiz de todo mal que eu ajuda a disseminar. Eu hoje que tanto luto e me importo pela nossa regulamentação já agi contrariamente a tudo aquilo que desejamos. E que atire a primeira pedra aquele que nunca fez isso (ED, Fernando Galdino, Canha, Antonio Ribeiro e Jonas, abaixem as pedras por favor! Foi figura de linguagem galera!)

 

É uma situação delicada, eu sei. Começo de vida profissional você aflito, as vezes ansioso, pelo primeiro cliente. Confesso que chegamos a beira do “fazemos qualquer negócio por um cliente”. Mas essa ansiedade é uma de nossas maiores inimigas.

 

Uma analise do mercado já demonstrou que consumidores de uma forma em geral possuem uma ideia de qualidade ligada a preço. Quando cobramos tão abaixo da tabela de mercado estamos passando um recado muito sutil ao nosso publico.

 

“Pra que pagar mais?”

 

Sim, sucinto assim. Infelizmente nosso empresariado e empreendedores brasileiros ainda ligam, design, publicidade a custo e não a investimento. A diferença entre custo e investimento, eu mesmo já comentei aqui e diversos colegas também, é enorme!

Custo é algo que sempre se busca cortar, economia é a palavra chave no Brasil de hoje. As altas cargas tributárias exigem do empresariado essa atitude. Podendo corta-se os custos de produção e da divulgação!

 

Investimento não tem jeito. É preciso fazer se deseja-se crescer. Seja investimento em pessoal qualificado, recursos e maquinário, lojas ou mesmo divulgação.

 

Mas opa! Divulgação consegue aparecer em ambas as listas?! Como isso é possível e como resolver esse dilema?

 

Ora, meus caros. Essa é a visão do nosso publico sobre nossa atvidade: “É necessário, mas se posso fazer baratinho..por que investir muito?”. Triste realidade esta que sofremos. E a concorrência é grande! Temos que lutar por espaço contra micreiros, publicitários, arquitetos, entusiastas e agora..contra nós mesmos?!?! È muito para tão poucos, não concordam?

 

Iniciar é preciso, todos hão de concordar comigo nesse aspecto. Afinal ninguém, creio eu, faz uma faculdade ou universidade para depois pendurar o diploma na parede para servir de alvo pros seus dardos. Espero eu que não!

 

Mas a iniciação não pode ser auto-empreendedora. O caminho mais acertado é o estagio. Ou pelo menos sob a orientação de um profissional qualificado.

 

Ao se diminuir demais o preço, seja ele pelo motivo que for criamos um vácuo no mercado. E como todos sabemos a natureza abomina o vazio. Tende a preencher esse espaço de uma forma ou de outra.

 

Então o que ocorre? De uma lado da tabela temos o “iniciante” que o empresário e cliente vê com certa razão como inexperiente e até mesmo “amador” cobrando bem abaixo da tabela, temos no outro extremo o profissional gabaritado com tempo na profissão cobrando o preço justo pelo serviço como recomendado pelo mercado e demais profissionais e assossiações.

 

E entre eles? Bem povo, entra os micreiros, arquitetos, publicitários, entusiastas e todo aquele que recém baixou o “córeudrau” e já consegue alinhar um quadrado com um circulo e escrever algo “lindjo” dentro.

 

Então temos preços bem abaixo da tabela, preços entremeios e o topo de linha. Os empresários e empreendedores brasileiros com suas mentes (tacanhas) buscam o meio termo…

 

Olha lá nós jogando contra o patrimônio!

 

Antes de discutir preços…precisamos nos unir..tanto estudantes quanto profissionais sejam eles de quanto tempo forem!

 

Abraços!

Lucro da Adobe sobe 21 por cento no 4o trimestre

Reuters – A Adobe registrou no quatro trimestre fiscal um aumento de 21 por cento no lucro líquido, como resultado das fortes vendas de seus softwares de design.

Apesar da empresa, produtora dos programas Photoshop, Flash e Illustrator, tenha apresentado uma previsão para o primeiro trimestre acima das expectativas de Wall Street, investidores estão preocupados que o crescimento das vendas tenha atingido seu limite.
O lucro líquido cresceu para 222 milhões de dólares, ou 0,38 dólar por ação, para o ano fiscal findo em 30 de novembro, contra 183 milhões de dólares no mesmo período do ano anterior.

A receita cresceu 34 por cento para 911 milhões de dólares, impulsionada pelas vendas de programas para edição de fotos, montagem de sites e criação de gráficos.
A empresa afirmou que o panorama pessimista acerca da economia norte-americana não deve afetar a venda de seus programas.

A previsão de receita da Adobe para o primeiro trimestre está entre 855 milhões e 885 milhões de dólares, abaixo do último resultado, mas acima da média das previsões de Wall Street, de acordo com a Reuters Estimates.

Veja a matéria completa aqui! (em inglês)

Fonte: G1