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Eu não sou designer

Ligia Fascioni

Tenho escrito nesse espaço já faz alguns meses e agora, olhando os comentários, acabei de me dar conta que nem me apresentei. Isso é importante para que o pessoal entenda porque, mesmo não sendo designer, insisto em dar meus pitacos em todos os assuntos relacionados.

 

Vamos lá. Sou engenheira eletricista e trabalhei com robótica por 12 anos, feliz da vida, até o dia em que resolvi fazer uma pós-graduação em marketing e me apaixonei pelo assunto. Comecei a fazer cursos na área e acabei me matriculando em uma outra pós, dessa vez em comunicação e propaganda. Foi numa aula de percepção visual que ouvi, pela primeira vez, numa sala de aula, a palavra mágica “design”. Foi amor à primeira vista e, depois desse primeiro contato resolvi que teria como missão compartilhar tudo o que eu aprendesse com meus amigos engenheiros para que eles pudessem ter a real dimensão do poder dessa ferramenta.

  

Depois de gastar até o que não podia em livrarias reais e virtuais (incluindo a minha amada Amazon) e estudar até me tornar “a chata do design” entre os meus amigos, fui aceita no programa de doutorado em gestão do design na UFSC (eu já tinha mestrado em automação e controle industrial). Ao me aprofundar no tema, descobri a importância da gestão da identidade corporativa e desenvolvi um método que já foi aplicado em 23 empresas de todos os portes (esse ano o número ainda vai crescer bastante).

 

Assim, além de dar aulas em cursos de graduação e pós-graduação em design, sou palestrante e consultora de empresas. Meu trabalho é basicamente convencer os empresários a dar mais importância a vocês designers, já que o meu método recomenda a contratação de profissionais especializados em algumas etapas. Para mim é mais fácil falar com esse povo da tecnologia do que para vocês, uma vez que falo a língua dos engenheiros e empresários – eu entendo como pensam pessoas extremamente racionais e cartesianas que não fazem idéia do que seja design (não faz muito tempo eu também era assim).

  

Penso que tenho alguma coisa a contribuir com a profissão de vocês (da qual sou defensora ferrenha), primeiro porque tenho estudado muito e com bastante profundidade os temas relacionados; segundo porque tenho tentado divulgar a importância do trabalho de vocês em todos os meios de comunicação aos quais tenho acesso (tenho um site, um blog, publico artigos em revistas de negócios, sou colunista de um portal de comunicação e marketing e já publiquei 2 livros sobre o assunto – o terceiro está no forno); finalmente porque posso trazer para vocês a visão do outro lado do balcão.

 

Tenho me debatido muito sobre a formação dos profissionais porque não raro me encontro na situação de não ter ninguém para recomendar aos meus clientes (sou exigente e sei que eles também são – não posso queimar meu filme indicando um profissional medíocre). Sei o quanto o português bem falado e escrito, a boa fundamentação teórica, a segurança na apresentação do trabalho, o talento, a postura, a ética e muito conhecimento são fundamentais para que o cliente confie no profissional que está contratando. Por isso é que implico tanto com algumas lacunas que vejo na formação dos designers. Sei que as escolas (pelo menos em Santa Catarina) ainda são novas e eu vim de uma das melhores escolas de engenharia do país. Sei o quanto uma boa formação pesa na hora de apresentar e realizar um trabalho bem feito. Quero ter orgulho de apresentar bons profissionais de design, e não vergonha das apresentações deles, como às vezes acontece.

 

E se tem uma coisa que eu adoro é conversar com gente inteligente. Mas o que mais me encanta mesmo é quando a pessoa usa essa inteligência para destruir meus argumentos, duvidar das minhas certezas, provocar a reavaliação dos meus conceitos. Isso me faz pensar mais, estudar mais, aprender mais. E o que tenho visto nesse forum são comentários muito bem fundamentados. Não vou negar que fico contentíssima quando ganho elogios (sou humana, né?), mas as críticas bem escritas são muito legais de ler. Por isso, queria aproveitar para agradecer ao Ed Ramos, que tão gentilmente me convidou para entrar aqui.

 

Esse é um dos lugares com gente mais crítica (e também bem-humorada) que tive oportunidade de freqüentar, o que torna a experiência mais rica. Por isso, queria pedir muito ao povo que continue participando (com tapas tão elegantes, nem dói muito apanhar), mesmo aqueles que juraram não ler mais nada que eu escrevesse… por favor, vai?

 

PS: Depois desse post juro que vou ficar pelo menos mais uma semana sem publicar nada, pois saquei que já estou abusando do espaço…

 

Lígia Fascioni | http://www.ligiafascioni.com.br

Feios, sujos e malvados

Araki Nobuyoshi

Uma coincidência me incomoda. Por quase toda parte que eu vou, converso, leio, é sempre a mesma ladainha: o cliente só quer saber de preço. O cliente não tem cultura. O cliente é um quadrúpede mal-intencionado. O cliente é um verme maligno.

 

Problema número um: a ignorância do malfadado cliente. É impressionante como um profissional (design, propaganda, marketing e mais uma carrada de outras áreas afins)  passa quatro ou cinco anos estudando numa faculdade, investindo tempo, livros, suor e pestanas para aprender conceitos como semiótica, comunicação integrada, marketing de relacionamento e outras coisinhas assim básicas, e saia de lá com a síndrome do Dr. Jekyll e Mr. Hide. Estranho? Ora, que outro nome você daria para esse comportamento tão paradoxal: Dr. Jekyll acha que aprendeu bastante, domina conhecimentos que pouca gente teve acesso, reuniu um cabedal de conhecimento impressionante. Um verdadeiro “doutor”, dramaticamente superior aos demais mortais. Seu lado Mr. Hide, porém, inconformado, não entende como é que as pessoas não compreendem conceitos tão simples. Só podem ser burras, ignorantes, mal intencionadas ou essas três coisas juntas. É tudo claro, óbvio! Muito fácil de entender a diferença entre você e aquele outro profissional que tem um portfólio bonito mas nem a metade da sua competência. O seu trabalho é integrado, o dele não. Qualquer anta cega pode ver!

 

Problema número 2: a malignidade do cliente. Como é que você, um profissional ético e respeitado, pode estar à mercê desse monte de mau-caráteres que andam aí pelo mercado? Eles só querem prejudicar você. Barganham o preço para depois esfolar aos poucos, devagar mas com firmeza. Você só quer fazer o seu trabalho direito e cobrar o preço justo. Se o cliente não fosse do mal, veria isso com clareza.

 

Problema número 3: a falta de paciência do cliente. Ele quer tudo para ontem, como se fosse o único ser do universo digno da sua atenção. Será que não é óbvio que você tem três trabalhos para entregar e que essa mudança não estava no contrato?

 

Problema identificado número 4: a falta de amor na relação. Puxa, você é um cara tão legal! Você quer tanto trabalhar com aquele cliente. Será que ele não nota os seus olhares sedutores (não aquele de galinha, mas o que promete amor eterno, pois você quer um compromisso sério)?

 

Pois é. Vamos parar por aqui porque já temos problemas demais. Se a gente consegue atacar esses aí, quem sabe não seja necessário economizar para comprar aquela passagem só de ida para Bangladesh.

 

Para a ignorância do cliente, o antídoto é simples. Você se deu conta de que, durante o tempo que você estava estudando para saber tudo isso, o cliente estava fazendo e aprendendo outras coisas? Que muitos dos termos que você usa ele não faz a menor idéia do que signifiquem? E que esse seu ar de doutor especialista não ajuda em nada ele superar a vergonha e perguntar? Pois é, compartilhar conhecimento devia ser lei. Básico, justo, indispensável. Mas, infelizmente, esquecível.

 

Para a maldade dele, muita calma na negociação. Será que ele tinha idéia do que estava comprando, com aquele monte de nomes esquisitos no contrato (se é que houve um)? Esse problema não poderia diminuir se as propostas, o contrato, a apresentação e a conversa, de uma maneira geral, tudo isso fosse mais didático? Pense em você contratando um encanador sem entender lhufas de encanamento. Dois caras, aparentemente iguaizinhos oferecem orçamentos diferentes. Você não tem como avaliar a competência deles por pura ignorância, não tem idéia dos equipamentos e do tempo que vai levar pois a explicação de ambos foi muito complicada. Vai dizer que não fica com o mais barato?

 

Para a pressa, pare e pense. Como é que você poderia contribuir para que o cliente pudesse planejar suas necessidades com uma antecedência viável? Será que você também não é desorganizado e sem planejamento? Ora, vamos lá. Seja sincero. Você tem pelo menos uma agenda de trabalho e um plano de ação atualizados? Sabe aquela história do roto e do remendado…

 

A última e mais importante: o amor da relação. Se você realmente quer conquistar o cliente, não bastam os galanteios. Lembre-se da receita básica: plantinha, regar todos os dias, fazer o outro feliz, surpresas, encantamento, blá, blá, blá…

 

Você está fazendo a sua parte?

  

Lígia Fascioni | www.ligiafascioni.com.br

 

Desenvolvendo o bom design

Bom design significa design de qualidade, que comunica, agrega valor ao produto e cumpre com primazia o seu papel. Porém, para se chegar a um resultado de alto nível, é necessário muito mais que o domínio técnico das ferramentas, recursos e linguagens. Enquanto o designer não se conscientizar disso, corre o risco de ficar à deriva num mar de tendências, recursos clichês e falta de profundidade.

Referências

O designer, além de dominar todo o processo inerente ao meio para o qual está criando, deve possuir diversas referências culturais, estéticas e artísticas.

Vejamos os exemplos dos grandes escritores. Além de serem dotados de grande talento, são verdadeiros “ratos de biblioteca”, lendo tudo o que lhes é oferecido compulsivamente, de clássicos da literatura às bulas de medicamentos.

Com isso, dominam cada vez mais a linguagem, aprimoram as possibilidades de expresssão e, finalmente, se carregam de referências literárias e textuais. As referências serão condensadas, “mixadas” pelo cérebro e oferecerão, ao escritor, possibilidades expandidas de expressão.Na verdade, só fala e escreve bem quem lê muito, só se fica atualizado acompanhando as notícias, so se é um bom músico dormindo e acordando com música, todos os dias. Em todos os meios citados, a “tara” ou “objeto de desejo” é a produção daquilo ao que cada um se propõe, de forma natural e não forçada.

Quais são as referências para o designer?

O design possui características interessantes, que tornam essa profissão tão fascinante e complicada, ao mesmo tempo, dando margem a diversos embates filosóficos-existenciais-profissionais, como em quase nenhuma outra ocupação conhecida.

Design não é arte, porém, com frequência, esbarra em conceitos e soluções advindas da produção artística. Assim, referências artísticas são uma constante no trabalho do designer, que deve se alimentar de exposições de pinturas-gravuras-xilogravuras-esculturas; enfim, de todo tipo de arte. Há, ainda, a possibilidade de mergulhar em livros e observar o quão magistral a expressão humana pode ser e a maneira como isso pode ser abordado em uma publicação.

O aprimoramento e o bom design saem de uma bagagem cultural ampla, completa. Não há outro meio. A vivência da profissão, a seriedade aplicada ao fazer técnico, o perfeccionismo, o prazer de se fazer o que gosta mesmo em cenários complicados e muito rotineiros de extrema pressão, de dead-lines criminosos. Tudo isso faz parte do grande e complexo todo da profissão.

Não há dependência direta da mídia para a qual se cria no sentido das boas referências, pois, como se sabe, design é, dentro de sua magistral amplitude, uma coisa só. É claro que nossos olhos são imediatamente atraídos para o lado cujo qual nos interessamos. O designer que faz web (também conhecido como webdesigner) fatalmente irá observar mais atentamente os trabalhos feitos para essa mídia, acompanhando os prêmios e os desdobramentos do mercado. Da mesma forma, que faz design off-line estará sempre de olho em material impresso, assim sucessivamente.

As boas referências estéticas e culturais são comuns para todos os desdobramentos da profissão, não acredito haver uma diferença clara e pronunciada. Creio que todo designer deveria ser um amante das artes visuais, um atento observador anônimo do mundo e de suas vertentes, observando todos os aspectos visuais em tudo o que o cerca: carros, ônibus, apartamentos, roupas, cartazes, fachadas, arquitetura, tv, internet… Um grande catalisador de tendências, idéias e conceitos.

Conclusão

O design de qualidade não está ligado diretamente à idéia de bons recursos tecnológicos. Apesar dos grandes talentos nacionais, existem diversos aspectos de diversas áreas que ainda não chegaram numa qualidade compatível com o design feito nos países de primeiro mundo. Se a questão fosse somente o equipamento, já estaria resolvida há tempos. Temos as mesmas máquinas, os mesmos softwares, acesso a boa informação técnica e bons livros (mesmo que importados); porém, muito de nossa produção está ainda engatinhando, o que mostra que a questão é totalmente cultural. Para se fazer o bom design, é necessário ter uma boa cultura.

Portanto, o mundo a sua volta é a sua principal fonte de inspiração e matéria-prima. Não deixe de apreciar, obviamente, todas as formas de arte, além das visuais. Ouça uma música que lhe toque, ligue sua parabólica e prepare-se para absorver toda e qualquer referência e pode acreditar: na hora em que for necessário, seu cérebro saberá justamente onde buscar a informação e solução para determinada peça e você, só depois de algum tempo, vai entender o processo louco e fascinante da criação e seu referencial estético.

Megabox Design


Vaso Rei das Flores; design: Megabox Design – Aguilar Selhorst Jr., Felipe Locatelli, Vinícius Lubel e Wagner Nono (Quatro Barras, PR); produção: ABC Ind. de Plásticos; categoria Utensílios.


O Escritório MegaBox Design fica localizado na cidade de Quatro Barras, Região Metropolitana de Curitiba. O Proprietário é o Designer Aguilar Selhorst Jr. Para quem é mais chegado, sabe que me formei com o Aguilar, mas antes que digam que isso é apenas uma propaganda, digo que empresas que mostram esse tipo de metodologia, deveriam ser mais divulgadas.Explico. Desde antes de 2005, o Aguilar já ministrava workshops para empresários sobre o crescimento real e retorno financeiro causados pela aplicação do design na forma e em dose corretas.

Esteve também no Programa Design Metal em Maringá visitando várias empresas, pois em alguns casos, ainda pesa o desconhecimento em relação à utilização do design no processo de desenvolvimento de produtos. Esse Programa Design Metal foi resultado de uma iniciativa de um contrato com o Sindicato das Indústrias Metalúrgicas, Mecânicas e de Material Elétrico de Maringá (Sindimetal) e teve como objetivo estimular uma cultura de inovação nas empresas filiadas ao Sindimetal, e aplicar o design como uma ferramenta para o desenvolvimento de novos produtos (Projeto finalizado ano passado).

Segundo seu site, a Megabox tem mais de 100 produtos lançados e diversos prêmios. Numa busca rápida pelo Google, você pode conferir diversas participações em diversos concursos. Afinal se você quer fazer, tem que aparecer.
Acho que alguns devem conhecer o vaso acima. Produto que evita o contato da água para as plantas com o meio externo, evitando assim o risco de “foco de mosquitos”.

Ponto falho (gravíssimo) é ter “logomarcas” em seu protifólio. Indaguei ele sobre isso e a resposta foi direta: “cliente pede por logomarca”. Acho que aqui vai abrir espaço para uma nova discussão.

Saber que não se sabe

Dia desses um amigo se surpreendeu com o fato de todas as minhas aulas estarem disponíveis no meu site, com transparências, bibliografia e tudo mais, para quem quisesse. Um professor também me perguntou se eu iria colocar o texto completo da minha tese na Internet (alertou-me de que alguém poderia copiá-lo). Resposta para as duas questões: tomara que me copiem mesmo! O mundo inteiro está na Internet, não há segredo que possa se gabar de estar em segurança. E isso não faz mesmo nenhum sentido. Para que esconder e guardar informações? Principalmente, se a gente considerar que o objetivo é divulgá-las e compartilhá-las com o máximo de pessoas possível.

Houve um tempo em que as pessoas acreditavam que seu talento e valor residiam no que só elas sabiam, naquilo que guardavam trancado a chave na gaveta do escritório. Tinham a ilusão de que a seção, o departamento, a empresa, o mundo, tudo pararia se ela se recusasse a abrir a gaveta. A garantia do seu emprego estava lá dentro, guardadinha.

Ainda bem que o mundo mudou (se bem que algumas poucas pessoas ainda não perceberam). Hoje as empresas não contratam mais quem não sabe trabalhar em equipe e tem o nefasto hábito de trancar gavetas. Na época pré-Internet, talvez até essa pudesse ser uma estratégia válida de sobrevivência, inclusive muito popular.

Hoje não há mais gavetas trancadas em nenhum lugar do mundo. Pelo menos não para sempre. E as pessoas têm que pensar em outra maneira de se fazerem importantes no seu ambiente de trabalho em particular e na vida de uma maneira geral. Segredos não estão mais seguros e podem ser devassados a qualquer momento. Então, o que fazer?

Primeiro: reconhecer que a gente não sabe quase nada do que há para saber. Mesmo que eu publique aqui tudo o que sei, ainda assim é muito pouco para me fazer de importante e garantir minha sobrevivência profissional em algum lugar. Tudo o que está aqui também está ao mesmo tempo em muitos outros lugares, talvez com uma roupinha diferente. Sabe por quê? Por que são só informações e a gente vive mergulhado nelas, praticamente afogados. Conhecimento não é mais diferencial de nada, está ao alcance de qualquer um que tenha oportunidade e persistência para achar o que quer.

Segundo: reconhecer que sozinho não se vai a lugar nenhum. Se o que a gente sabe é quase nada, então como fazer alguma coisa com isso? Ora, o óbvio. Juntar com o pouquinho que mais alguém sabe e voilá: pode ser que se crie algo realmente útil e até importante. Já que é impossível para um só dar conta de saber tudo o que é preciso para andar pra frente, só nos resta montar o quebra-cabeças. Assim, quanto mais gente inteligente e disposta a compartilhar informações a gente conhece, maior é a probabilidade de realizar um trabalho legal que faça diferença.

Terceiro: o importante não é tanto o saber fazer, mas saber o que fazer. Ou seja, não adianta falar línguas, ter diplomas, teses, cursos e outros enfeites curriculares, se você não souber o que quer fazer com tudo isso. Vejo gente que estudou um montão reclamando que não há emprego, que ganha mal, e que fulano de tal que tem apenas o segundo grau incompleto está ganhando rios de dinheiro. Ora, a inteligência e a competência independem de quanto cada um estudou. Tem mais a ver com a sua visão do mundo, com a capacidade de criar novas soluções para velhos problemas, identificar oportunidades, gostar de desafios, ir à luta. Se a pessoa não sabe o que quer fazer com tudo o que aprendeu, isso acaba virando um fardo, um peso para carregar. Assim, quanto mais se estuda e aprende, mais elementos se tem para criar e mudar, o que, sem dúvida, é uma vantagem — mas vale lembrar que pode ser mais útil um simples canivete para quem sabe usá-lo do que mísseis supersônicos para quem não tem idéia do seu alvo.

Lígia Fascioni | www.ligiafascioni.com.br

Divulgação do Design

Uma coisa que parece corriqueira, é a desinformação da sociedade sobre a nossa profissão.
Uma das coisas que eu já fiz, foram palestras em associações comerciais, para os empresários locais, explicando o que era cada divisão de trabalho entre os designers. Web, produto, gráfico e assim por diante.

A explicação ganhava perguntas, quando eu começava a falar sobre como eles ganhariam dinheiro com isso.

Em suma, explicar que design não é custo, é investimento.

Quais outras formas poderiam ser usadas?

Currículo vazio

Inspirada pelo excelente post do Ed sobre portfólios, resolvi ressucitar uma coluna minha sobre currículos. Olha só.

 

Não raro eu tenho o prazer de conhecer designers promissores e, como talento é coisa que me toca e emociona, vou logo oferecendo a minha página na Internet para divulgá-los. São estudantes, ilustradores, designers recém-formados ou profissionais experientes que eu recomendo na seção “gente de talento” (vá lá: http://www.ligiafascioni.com.br/mais_gente.html). Preciso urgente atualizar essa seção, mas como estou redesenhando o meu site, ela ainda vai ficar um pouco de tempo como está.

  

“Gente de talento”  nasceu porque viviam me perguntando se conheço alguém competente para recomendar, já que faço tanta apologia do design. Confesso que dou preferência a quem está começando ou empresas locais. As agências poderosas e reconhecidamente excelentes são citadas lá na seção de links como referências.  

  

A lista ainda tem poucos nomes por três motivos principais: eu não conheço tanta gente assim; sou muito seletiva; e muita gente boa não tem site (nem ao menos um blog).

  

Este é um ponto que eu não consigo compreender: como é que um profissional de design não tem nenhum cantinho na Internet? Designers gráficos e de produto sabem quanto custa produzir um portfólio impressionável em papel – é bem salgado. Por que então dispensar essa alternativa poderosíssima e barata?

  

Vira e mexe converso com alguém que parece ter um potencial muito bom e, quando peço para ver o seu portfólio, ou mesmo que me dê um cartão de visitas, saio de mãos abanando, os anéis todos caindo. Como eu disse antes, papel custa caro (se bem que cartões de visitas caprichados são, literalmente, o “cartão de visitas” de um designer gráfico ? tipo da coisa que não se deve economizar). Mas e o site? Hospedar uma página em um servidor custa uns R$ 10,00/mês e mais R$ 30,00/ano pelo registro do endereço. Um investimento mais do que justificado!

  

As desculpas são das mais diversas variedades de tecido roto e maltrapilho: o talentoso ou talentosa ainda está preparando a página na web (que nunca fica pronta); não sabe programar websites; falta tempo; ou ainda é estudante, não tem mesmo muita coisa para mostrar.

  

Ok. Como “Jack, o estripador”, vamos por partes (nossa, essa é muito velha!):

  

Coisas que nunca ficam prontas. Isso me lembra aquelas pessoas que têm o projeto todo “na cabeça”, só falta escrever. Ora, então a pessoa não tem nada. Enquanto não tiver alguma coisa escrita, um trabalho começado, não se tem nada. É preciso que o promissor ou promissora estipulem metas e prazos que eles mesmos possam cumprir. É uma questão de estabelecer prioridades. A idéia é considerar-se a si mesmo como um cliente também. Sinceramente, aquela história de “casa de ferreiro, espeto de pau” não me convence.  Ou então, o ferreiro não é tão bom.

 

Não sabe construir um website. Não sabe, então aprenda! E rápido, que o mundo continua girando enquanto você pensa. Não precisa ser nada sofisticado. Todo bom designer sabe que mais importante que recursos tecnológicos pirotécnicos, o que faz diferença é o conceito. A preocupação com a usabilidade deve ser constante, mas nada que um HTML chinfrim não resolva, principalmente quando se é beato da religião “menos é mais”. Enquanto faz isso, trate de providenciar pelo menos um blog bem legal. Outra idéia é fazer uma parceria com alguém que entenda do ramo. Use a cabeça como quiser, mas garanta o seu lote no ciberespaço.

  

Não tem tempo. Olha, confesso que tenho um pouco de preconceito (está bem, é muito preconceito, bastante mesmo) contra livros de auto-ajuda, mas esses dias recebi uma mensagem pela Internet atribuída ao Roberto Shinyashik que cabe muito bem aqui. Ele diz que “o sucesso não é feito durante o expediente”. Também acho. Ou o sujeito investe suas horas vagas em alguma coisa, ou vai ser mais um a reclamar da vida em geral e do governo em particular. Calcule o tempo que você perde assistindo Big Brother, teclando no MSN, jogando MahJong, freqüentando comunidades sinistras no Orkut, e veja quanta coisa dá para inventar nessas horas. Ou você acha que as pessoas realmente inovadoras passam o domingo vendo o Faustão?

  

Sou estudante, não tenho muitos trabalhos feitos. Sinceramente, para mim, essa é a pior desculpa de todas. Uma verdadeira declaração de preguiça, descaso e desinteresse. Gente, a cidade, o bairro, a rua, o seu prédio, estão cheios de organizações sem fins lucrativos precisando desesperadamente de um designer, mas não têm como pagar. Escolas públicas, creches, associações comunitárias, asilos, centros acadêmicos, seu primo que tem uma oficina, sua tia que costura para fora! O que não falta é material para praticar. Por que você não aproveita para mostrar como o design pode colaborar para mudar o mundo? É só identificar o problema e propor uma solução original e criativa para resolvê-lo. Depois vá atrás de quem pode ajudar a colocá-la em prática. Isso sem falar nas centenas de concursos que podem muito bem vitaminar um currículo magrinho. É só querer e deixar de vadiagem. Sai daí e vai se mexer, cara! E depois vem falar comigo.

 

Lígia Fascioni | http://www.ligiafascioni.com.br

 

Portifólio, vende?

Partindo do princípio de que você tem um produto (você profissional/freelancer ou estagiário) e necessita vender esse produto para um cliente (cliente mesmo ou um empregador). Como você faz?

O normal é você apresentar seu CV e/ou portifólio. Mas como usar esse artifício de forma eficaz? Há tempos eu fiz um portifólio padrão (um pouco de tudo que eu fiz) no CarbonMade.

Mas para tentar ingressar numa concorrência de uma vaga de trabalho, normalmente eu fazia um CV direcionado para a empresa. Colocava lá só o que interessaria a empresa. Vejo o caminho contrário.

Minha indicação nesse caso é que você pode ter um portifólio com tudo o que você fez na vida. Um arquivo desse tipo é muito útil para você elaborar um portifólio que venda realmente o teu trabalho. Um portifólio direcionado tem muito mais chance do que algo cheio de material e tedioso para o contratante. Ele precisa de alguém para executar determinado serviço. Se você sabe fazer mais do que ele pede, legal. Mas existem outras maneiras de mostrar isso a ele.

Na entrevista é um exemplo. Lógico que você não vai falar que não colocou esses dados no portifólio para não torrar o saco do cara. Nesse momento é importante frisar que ele vai achar em você o que ele procura e ainda vai ganhar a mais. Todo cliente gosta de se sentir satisfeito com o produto.

Investigue a empresa antes e prepare esse material específico. Tenha os dois, um completo e aquela para aquela entrevista ou reunião com o cliente. Perder tempo pode custar caro, ainda mais se você perder tempo num material que não vai ajudar.

DeviantART em versão especial para iPhone


Para os designers que adoram gadgets e que possuem um iPhone (Eu tenho o/ ) a boa notícia é que a DeviantART (para quem não conhece, é uma das maiores comunidades virtuais sobre arte digital) lançou ontem a versão do seu site para o aparelho.

É bem simples de navegar, permite visitar as galerias, os últimos posts dos usuários, adicionar comentários aos trabalhos e muitas outras funcionalidades que são disponíveis na versão “PC” do site.

O interessante é que houve realmente uma preocupação em se criar um site otimizado para iPhone não apenas uma adaptação fraca do site para um celular. Para acessá-la, basta digitar http://www.deviantart.com/ no browser do seu aparelho.

soube em: eupodo

P&D2008 – Requerimento

Vendo tudo o que vem rolando, tanto sobre a Regulamentação quanto sobre a padronização da Matriz Curricular de Design, e os constantes desencontros (mesmo dentro de encontros), comecei a levantar uma lebre que julgo ser o ponto X para estes dois casos: o P&D que será realizado em outubro, em São Paulo.

Segue a minha idéia:

Considerando:

– A seriedade e reconhecimento que o P&D conseguiu alcançar;
– A linha de trabalhos desenvolvidos e apresentados neste evento – pesquisa;
– O alcance acadêmico (todos os níveis) deste evento;
– a força das marcas P&D e SENAC (promotora do P&D2008);
– que o assunto sobre a regulamentação do Design no Brasil é motivo de pesquisas e debates sérios;
– que o assunto sobre a padronização das Matrizes Curriculares dos cursos de Design no Brasil vem gerando também vários debates e pesquisas;
– que, tanto a sociedade quanto o mercado e nossos parlamentares desconhecem a realidade do que vem a ser o Design;
– que o Caderno P&D é uma fonte de pesquisa e informação para os acadêmicos e demais profissionais de Design,

Requeremos:
1 – Que neste evento, já a partir desta edição, seja aberto espaço para este tipo de debates;
2 – Que este espaço seja na forma de mesa redonda e workshop por promoverem a melhor interação entre instrutor/alunos;
3 – Que não sejam priorizadas as Associações existentes mas sim, que sejam convidados profissionais engajados tanto na Regulamentação quanto da Educação;
4 – Que sejam convidados parlamentares para assistirem a estas partes como forma de sensibilizar os mesmos sobre estes e outros temas pertinentes ao Design;
5 – Que sejam convidados empresários de grandes e pequenas empresas para participar destas partes como forma de sensibilizar os mesmos sobre a importância do Design para suas empresas;
6 – Que seja convidada a mídia para cobertura do evento como um todo;
7 – Que se façam constar do Caderno P&D um relatório das ações realizadas e os resultados obtidos durante os trabalhos.

Sem mais,

Designers abaixo assinados.

Penso até em usar aquele site de petições online para fazer esta e enviar à coordenação do P&D.
O que vocês acham?

“Feicon 2008”

Estive ontem na Feicon, Batimat e Expoluz 2008, a primeira vista o que mais chama a atenção é a falta dos grandes líderes do mercado…Tigre, Deca, Docol, Roca, dando cada vez mais espaço aos produtos importados principalmente os chineses…Mais vamos lá….vou esplanar o que senti em cada setor:

Material de construção – A ausência dos líderes sempre fazem grande diferença, por outro lado a Amanco estava proporcionando cursos durante o dia, e dando atenção bem especial à todos que tinham dúvidas em seu stand, a Corona estava apresentando uma nova linha de produtos onde vc. consegue mudar a temperatura na altura do registro, a Mondialle (banheiras e spas) apresentava sua nova hidro-spa, onde a principal característica é seu tamanho, onde é possível até nadar, e tem dois jatos em uma das extremidades que equivalem a 4 jatos em cada bocal, a Sicmol no setor de cubas, pias, assentos e metais em poliéster, vc. pode escolher a cor que deseja nestes produtos e em certos casos até pode fazer sob encomenda, um dos stands mais bonitos da feira era o da Lorenzetti que a cada ano vem se aperfeiçoando e trazendo novidades ao mercado, e Shark metais que está a cada dia entrando mais forte no mercado, mais essa empresa vou tratar em particular daqui uns dias pois vão me enviar o material para estar publicando aqui.

Iluminação – Acho que a grande sacada desse segmento este ano foi a venda de produtos durante a feira, quase todos a preços de custo, a Utiluz empresa no segmento de iluminação de emergência e sinalização, além das sinalizações e legendas padrões você pode desenvolver conforme a necessidade, Neopos empresa especializada em Leds a empresa estava explicando muito bem o uso e diretrizes do material, a já famosa Fasa fibra ótica,  estava aliando  a magia fibra ótica + cristais swarovski, com o nome Crystal Sky, e estavam enfatizando a venda dos kits já prontos, e a Bronzearte, que também estava comercializando seus produtos, o site está desatualizado, porém logo mais estarei postando a linha de produtos apresentada.

Só que ontem a feira após às 15h30 foi prejudicada, pois houve falta de energia, e até às 16h45 quando sai de lá ainda não tinha voltado.

Espero aos que aos DI  de fora de SP que não puderam estar aqui sentirem um pouquinho, na minha opinião a feira estava meio “devagar”, principalmente para quem está aqui na Capital, muitos dos projetos/produtos apresentados já eram de conhecimento do público paulistano.

abs

O Bom Profissional

Já de começo eu digo que isso aqui não é mais um texto sobre a Regulamentação. É sobre postura.

Certamente os comentários que venham a surgir, irão ser a finalização do texto.

Começo com uma pergunta : no seu cotidiano, você tem uma postura profissional adequada com seus clientes?

A autopercepção é fundamental para um profissional querer alavancar sua carreira ou sua empresa.

Mesmo sem eu saber em que estágio você está (ou trabalhando, estudando ou trabalhando e estudando) eu digo que você deve saber se atende bem seus clientes internos ou externos. Se cumpre os prazos. Se lida bem com suas dívidas. Se seus parceiros, (aquele povo que você terceriza os trabalhos) estão satisfeitos…

Essas questões são importantes, na minha opinião, e as respostas podem te ajudar. Porque vão servir de guia para as suas decisões. Você tem que saber qual é a sua.

Eu entendo que existem dois tipos de profissionais: os donos e os empregados.

Se você tem a certeza que não gosta da parte burocrática de uma empresa, dê prioridade a estar sempre se atualizando e aprendendo softwares.

Já aviso que só isso não é saudável, pois nenhuma empresa gosta de funcionário que faça o seu e acabou. Muitas vezes você nem precisa fazer mais, mas tem que saber no mínimo como funciona.

Isso serve para quem gosta de ficar na área de criação ou na parte técnica. Aprender trocentos programas, muitas vezes vai ser o diferencial para uma vaga.

Cito aqui por exemplo o software Catia (hoje já na versão V5) que empresas como a Volvo, correm atrás de quem saiba.

Não se engane, só saber usar a ferramenta não vai ser o suficiente. Como é que você vai saber “desenhar” em 3d se não sabe nem geometria nem materiais de produção?

Quem ser um webdesigner completo? Sabe tudo que envolve o processo? Clentes? Problemas de configuções dos navegadores? Cor? Fonte? Só um “curso de web” não vai fazer de você alguém que se destaque.

A cada ano a mais de estudo, seu salário aumenta em média 17%. Dados do Brasil.

Mas você não quer saber de chefe. Você quer ter seu escritório/studio/empresa ou ser um freelance que seja. Antes de ir achando que, como você é um ótimo designer, você vai conseguir muitos clientes, saiba que você tem que vender.

Pior, tem que saber vender, estar ciente de prazos e o que vai acarretar os atrasos das entregas… Vai ter que conhecer a parte burocrática. Impostos sobre a sua empresa (sim, você vai ter que abrir empresa, pois corre o risco de não conseguir alguns trabalhos por não fornecer nota fiscal). Nesse último quesito, todo mundo sabe que “dá-se um jeito”, mas até quando? Até quando você vai pagar suas notas ou perder esses clientes? Tem empresa que não trabalha desse modo.

Vejo muito disso: um designer numa agência, por exemplo, achando que não pode “crescer mais” dentro da empresa. Sai e monta seu próprio escritório. Mas o que ele sabia (ou não) para ter um cargo “maior” numa agência? E agora que está fora, ele sabe vender? Eu vejo que o texto da Lígia dá altos exemplos disso.

Quem tem empresa ou é um freela, a indicação é sua grande aliada. Os caras bons sempre têm trabalho, não é mesmo? Mas se quiser ganhar mais, vai ter que se empenhar mais. Ou sozinho ou arranjando alguém para criar no seu lugar ou vender no seu lugar. Quem faz o que sempre fez, só consegue o que sempre conseguiu.

Independente se um projeto de design atenda uma necessidade social, um dono de padaria ou um grupo multinacional, essa peça tem um custo. É muito difícil não associar design a venda. Eu encaro como investimento. Sempre deve ser pensado no valor. No mínimo criação e produção. Mesmo que seja para amigos.

Há ainda mais uma possibilidade: você não fazer idéia do que quer.

Então : converse!!!!! E muito mesmo. Antes de tudo aumente sua grade de conhecidos. Pergunte, mande e-mail, visite o pessoal que tem uma empresa. Veja com as empresas o que elas estão procurando. O pessoal que se interessa pela parte técnica, veja os softwares mais usados e veja se o seu curso vai te suprir essas necessidades. PESQUISE!

Antes de tudo se prepare. É o melhor jeito de você ser um bom profissional.

Nosso meio anda lento em termos de uma coerência postural dos designers e do mercado (habituado com a bagunça). Preparando-se mais você estará minimizando problemas para você e todo o resto.