Lembro-me de ter lido a entrevista de Andrew Keen numa revista semanal brasileira. Suas provocações e teorias, em princípio, eram de alguém que tenta defender uma tese contrária referente a algo considerado “standard” para todos, ganhando, assim, algumas migalhas de fama e o prazer de não ser parte da maioria.
A tese defendida por Andrew Keen, diz respeito ao conceito colaborativo da web 2.0, que permite a participação efetiva de todos, colaborando mutuamente. Na concepção de Andrew Keen, este aspecto nos levará ao fim da cultura como conhecemos, trazendo à tona informações ruins de pessoas mal preparadas para escrever e refletir sobre os temas atuais.
Andrew Keen, ao que parece, defende a idéia de que precisamos de pessoas preparadas para expressarem nossas opiniões, anseios, necessidades. Segundo ele, não temos preparo intelectual suficiente para nos expressarmos, somos meramente sujeitos sem conteúdo, sem ter o que dizer, passivamente devemos esperar que os jornalistas altamente especializados, bem como os experts nas mais diversas áreas do conhecimento, nos digam o que fazer, pensar, sentir e como agir.
Isso me fez lembrar daquele grupo de cientistas que, recentemente, anunciou que o aquecimento global é um grande exagero, que não existe. Pensei na imagem de Bush radiante, era, enfim, um grande trunfo contra aquela “Verdade Inconveniente“. Imaginei, também, a mídia tradicional vibrando de emoção com o livro “The Cult of the Amateur“, enfim os blogs tomariam um soco no estômago!
A (r)evolução é urgente, necessária e está em pleno curso. Tentar freá-la é impossível, os modelos tradicionais de produção e disseminação de informação e cultura caíram por terra, o conteúdo colaborativo é um fato, necessita de ajustes e melhorias, porém sua solidificação é inevitável, a idéia do “povo falando por si” é forte demais para ser ignorada.
Houve um tempo em que o povo realmente precisava de pessoas intelectualmente preparadas para protestar, mostrar sua realidade. Os pequenos-burgueses, com seus violões, iam à favela, ao morro, chegavam na periferia e, arrebatados de uma grande dó, cantavam essa realidade em suas bossas, em seus sambas sofisticados, salvando (ou tentando salvar) o povo da miséria, da falta de expectativas.
Depois de algum tempo, o povo descobriu que poderia se manifestar por si próprio, seja por meio dos sambas populares, dos acordes furiosos do punk rock ou da batida forte do rap. Descobriu que era o mais adequado para expressar suas opiniões sobre situações reais, já que vivenciava aquilo tudo no seu dia-a-dia.
Traçando um paralelo, acredito que a web 2.0 traz a mesma possibilidade para vários e distintos públicos, seja qual for a área de conhecimento. Você pode criar um blog sobre um tema específico, sobre uma visão de vida, sobre opiniões e posicionamentos. Não precisa esperar que algum jornal te descubra, que algum programa te entreviste, ou que a tv te apresente como o mais novo talento.
Como em tudo na vida, é necessário separar o joio do trigo, com certeza nem tudo o que está em blogs e gerenciadores de notícias deve ser levado em consideração, sempre haverá a real necessidade de se comparar dois pontos de vista diferentes, o “mainstream” (grande mídia) e o “underground” (mídia independente, blogosfera), utilizando o ceticismo saudável, na busca pela informação real ou a opinião mais relevante.