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picasso

Esses dias ouvi um pedaço de conversa no corredor da faculdade, que, para mim, fez todo o sentido. Um rapaz, em uma revelação nada modesta, declarava, em alto e bom som: “design é coisa para gente bonita”. Vi-me obrigada a concordar com ele.

  

Antes que me acusem justamente de fútil (que sou mesmo, mas isso não vem ao caso agora), acompanhem um pouquinho a linha de raciocínio.

  

Uma das funções mais nobres do design é tornar o mundo mais belo (e também mais fácil, inteligível, amigável, sustentável, etc). Mesmo que o profissional esteja atento e concentrado em melhorar a funcionalidade, a usabilidade ou o processo produtivo, a preocupação estética está sempre presente. O olho do designer fica o tempo todo ligado em identificar desequilíbrios, corrigir distorções, promover harmonia. Essa pessoa especial está sempre atenta às leis da Gestalt, à semiótica, à teoria das cores, aos pesos, às proporções. E por que cargas d´água justamente a sua própria aparência ficaria fora disso tudo?

  

Penso que a busca do belo é condição essencial para o exercício da profissão. Mas atenção: belo não quer dizer magro, com as feições perfeitamente simétricas, corpo escultural, parecendo que a pessoa em questão acabou de cair de um catálogo de moda. Há pessoas gordas e lindíssimas, há narizes enormes e exóticos, há orelhas de abano muito interessantes. Justamente aí é que está o talento do bom designer: pegar a matéria prima disponível e torná-la bela usando apenas o seu conhecimento, seu senso estético e os recursos da composição. Uma das pessoas mais elegantes que conheço é o Jô Soares, com aquela gravatinha borboleta que mostra capricho e estilo. O troféu de mais elegante vai para uma gari que conheci, que ia trabalhar toda maquiada e produzida, levantando o astral da rua toda. Quem não começaria o dia de bom humor ao cruzar com a Elke Maravilha na esquina? O belo está justamente na diferença, no contraste, não na plastificação que teima em tentar fazer todo mundo caber no mesmo molde.

  

Então, penso que o designer deve sim, preocupar-se com sua própria aparência. Será que está usando as proporções corretas? As cores mais adequadas? Dá para perceber, só de olhar, o seu cuidado com os detalhes, o seu talento, a sua competência técnica? Mesmo que o estilo seja despojado e o sujeito seja adepto das Havaianas full time, existe uma palheta de cores que harmoniza a composição. Uma camiseta vermelha e outra verde, se básicas, custam o mesmo preço. Estou falando aqui é de olho mesmo, não de bolso. E, não custa lembrar, é claro que isso não se traduz só na roupa, mas também na postura, no tom de voz, no vocabulário.

  

Recomendaria essa prática, não fosse por outro motivo, ao menos por respeito aos seus clientes. Nunca me esqueço de uma entrevista da premiada atriz Katherine Hepburn, já passada dos noventa anos e longe de ter aquela beleza hollywoodiana com a qual ficou famosa, que dizia se arrumar e se maquiar todos os dias em consideração às pessoas com as quais convivia. Ela, se não quisesse, não precisava contemplar a sua figura – bastava não se olhar no espelho. Mas seus companheiros de jornada não tinham essa escolha. Grande dama, heim?

  

Considero uma contradição grave um designer sair por aí falando que não liga para a aparência. Em vez de parecer blasé, para mim, soa hipócrita. Por que os objetos, papéis e displays merecem toda a sua atenção, e as pessoas (incluindo ele próprio), não?

  

É claro que há quem considere o corpo e o aspecto externo apenas uma casca sem valor. Defendem que mais importante é o que está por dentro. Só que para o designer, o dentro e o fora são igualmente importantes. A forma, a função e o significado precisam estar em sintonia.

  

As pessoas, é claro, têm todo o direito de ignorar completamente como estão vestidas, se os cabelos estão desgrenhados ou se mastigam de boca aberta. Despojamento não é e nunca foi crime. Respeito e entendo o princípio. Só acredito que design não é a profissão ideal para gente assim.

  

Concordam, meus lindos?

 

 Lígia Fascioni | www.ligiafascioni.com.br

Publicado por Lígia Fascioni

Lígia Fascioni é engenheira eletricista, especialista em marketing, mestre em automação e controle industrial e doutora em engenharia de produção na área de gestão integrada do design. Publicou "Quem sua empresa pensa que é?" (2006), "O design do designer"(2007), "Atitude profissional: dicas para quem está começando" (2009) e "DNA Empresarial" (2010). Atua como consultora empresarial e palestrante. Ministra disciplinas em cursos de graduação e pós-graduação (MBA) em marketing, inovação e design. Mantém o site www.ligiafascioni.com.br e www.atitudepro.com.br. É colunista do portal Acontecendoaqui.com.br e colabora com diversos sites e blogs sobre marketing e design.

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