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Porque o simbolo de medicina é uma cobra e um cajado?

Todo designer já cometeu uma gafe né, pois é. Recentemente eu estava apresentando o BudMaps em uma reunião, tudo ia bem, até que parei na seção seção dos médicos brasileiros que já prescrevem canábis medicinal no Brasil. E um dos médicos falou: muito bom o aplicativo, mas o símbolo de medicina está errado!

Sério? – indaguei tão rápido quanto minha mente que, no mesmo momento, já estava pensando em toda a etapa de definição das imagens padrões para os médicos e me perguntando qual era a função das asas e das duas cobras e o porque da confusão de símbolos entre duas cobras e a asa.

Por sorte o médico era também produz conteúdo sobre medicina e depois da reunião de uma forma mais descontraída, ele me contou que o Conselho Federal de Medicina (CFM) adota é apenas uma cobra e um cajado, ele me explicou que há duas histórias envolvendo cajado e cobra e saúde.

Muita História!
O Caduceu de Mercúrio e o Bastão de Asclépios, ligados de alguma maneira à Medicina. Porém, qual deles realmente é o verdadeiro símbolo da Medicina? E por que tanta confusão? Ambos os símbolos derivam de muitos anos atrás, principalmente da mitologia grega. Entenda aqui qual é de fato o símbolo da medicina.

O primeiro símbolo se chama Caduceu de Mercúrio. E ele não é o símbolo da medicina!

Segundo a mitologia grega, o Caduceu de Mercúrio (ou Hermes) tem esse formato porque o cajado foi usado para separar duas serpentes que lutavam e estas se entrelaçaram na haste, formando a imagem acima. Hermes também é deus dos negociantes, o caduceu tornou-se o símbolo do comércio.

WTF? Como é que foi parar na medicina?

Ainda na mitologia grega, Hermes tinha como função de conduzir os mortos ao Hades (reino dos mortos). Tempos depois os encarregados por levarem os corpos dos guerreiros mortos no campo de batalha para casa (similar ao que Hermes fazia) usavam o símbolo do caduceu. Na época esse símbolo tinha a mesma força de um bandeira branca ou a bandeira da cruz vermelha. Surgiu daí o uso do caduceu como símbolo de serviços de saúde de algumas forças armadas, inclusive a dos EUA.

Ironicamente ou não, no país onde a saúde é tratada como comércio escolheu o símbolo de, comércio, não da medicina!

Qual é o símbolo da medicina?!

O símbolo da medicina é esse acima, ele é grego e conhecido como Bastão de Asclépios.
Asclépios era neto de Zeus e filho do Deus Apolo com sua amante Corônis. Ela engravidou de Apolo mas teve um caso com Ischys. Zeus matou Ischys com um raio, e Apolo matou Corônis pela traição e retirou o ainda feto ainda vivo do ventre o levou para Quíron, o sábio centauro que havia educado vários heróis. Assim nasceu Asclépio aprendendo e adquirindo uma grande habilidade na medicina, descobrindo uma maneira de ressuscitar os mortos tornando-se o Deus da medicina. No meio da história toda ele recebeu de Atenas o sangue vertido das veias da Górgona Medusa que continha o violento veneno do lado esquerdo e o sangue do lado direito que era salutar;

Asclépio o utilizava para devolver a vida aos mortos. Asclépio apaixonou-se por Epione, que se tornou deusa da anestesia, aliviando as dores. Tiveram os filhos: Machaon (cirurgião) e Podaleirus ou Podalirio (o dom do diagnóstico e da psiquiatria) que foram os médicos dos gregos na Guerra de Tróia; Telésforo – o pequeno gênio da convalescença, Panaceia – a deusa dos medicamentos e ervas medicinais, Iaso – deusa da cura, Áceso – deusa dos cuidados e enfermagem, Aglaea – deusa dos bons fluidos, boa forma e beleza natural, e Hígia ou Higeia – deusa da prevenção das doenças, que deu origem ao termo Higiene (limpeza, higiene e saneamento). Mas a maestria de Asclépio tornou-se perigosamente grande e começou a ressuscitar os mortos. Temendo que Asclépio revertesse a ordem do mundo passando esse conhecimento aos homens, Zeus o matou com um raio. Apolo colocou o seu filho entre as estrelas como a constelação do Serpentário, o Ophiucus e o divinizou. Assim Asclépio virou o Deus da Medicina, mesmo não estando no Olimpo nem habitando o Hades.

Como surgiu esse cajado com a serpente?

Numa de suas visitas a pacientes em seu templo, uma serpente enrolou-se em seu cajado. Apesar do esforço para retirá-la, a serpente tornava a enrolar-se no cajado onde permaneceu. Asclépios, que era o deus da medicina, teve em seu cajado com uma serpente enrolada, o símbolo da atividade médica. A serpente ainda está relacionada a uma crença grega ainda mais ancestral, de que as cobras seriam donas de grande sabedoria e capacidade de regeneração e cura.

Certo… E por que essa confusão toda?!

Existem vários motivos de confusão, mas o mais notório foi a publicação das obras de Hipócrates, considerado o “pai da medicina“ pelo tipógrafo suíço Johannes Froben, em 1538. O caduceu era o símbolo de suas obras e sempre era estampado nas capas dos livros. A gerações as profissionais foram pegando o primeiro livro da medicina e sem entender ao certo o porque do símbolo foram usando… Atualmente o fato que contribui para a confusão é o que citei acima: de os serviços de saúde das forças armadas americanas utilizarem o símbolo errado.

Desde 1948, quando foi fundada a Organização Mundial de Saúde (OMS) adotou o símbolo de Asclépio. A Associação Médica Mundial se reuniu em Cuba em 1956 e adotou um modelo padronizado do símbolo de ASCLÉPIO para uso dos médicos civis, em que a serpente tem duas curvaturas à esquerda e uma à direita.

Aqui no Brasil também prevalece o símbolo de Asclépio. A Associação Médica Brasileira, as estaduais e as filiadas usam o mesmo símbolo. No entanto é possível ver erros no cotidiano pela falta de informação.

Derivações
Derivar significa que todo símbolo pode ser estilizado, porém não pode ser substituído por outro. Há alguns exemplos de alterações utilizadas em território brasileiro.

  • Associação Paulista de Medicina e o da Academia Brasileira de Medicina Militar, em que o bastão toma a configuração de uma espada;
  • Escola Paulista de Medicina, em que o bastão é o próprio tronco de uma árvore;
  • Associação Brasileira de Educação Médica, em que o bastão é uma tocha, simbolizando a luz do saber;
  • Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto, em que a serpente assume o formato de um nó cirúrgico.
  • Conselho Federal de Medicina Veterinária, onde junto ao bastão e à serpente está inserida a letra V, ambos tendo como moldura um hexágono irregular.