Post Coletivo: e quando o concurso não é voltado para designers?

Este é o primeiro tópico da modalidade dos “Tópicos Coletivos”, uma nova proposta do Espaço com Design, em que os colunistas debatem por determinado tempo a respeito de um tema pré-determinado e, ao final, o debate é compilado e postado no blog. Vale a pena conferir.

O tema deste primeiro tópico foi proposto pelo Jonas: quando o concurso não é voltado para designers. Ele introduziu o tema da seguinte forma:

Vide logo copa e também outros diversos concursos que são voltados para público em geral, mas designers insistem em participar achando que vai ser legal pro portfólio e, ainda pior, tem gente que manda email na lista falando que é pra votar na peça que fazem, de forma de ser justo com a profissão.

Segue o resultado do debate:

Iniciamos a discussão comigo. Comentei sobre a ocorrência de concursos de design com votação aberta ao público, ressaltando o fato de que os resultados desses concursos sofrem enorme influência da participação de engraçadinhos que votam sem levar em consideração os critérios de avaliação, mas, sim, com o objetivo de fazer piada, votam nas alternativas mais pobres em termos de design. É mais ou menos como votar no Tiririca para deputado.

Em seguida, a Lígia Fascioni deu sua contribuição, adicionando ao meu comentário outros aspectos desses tipos de concurso, citando como origem do problema a combinação da falta de critérios de avaliação bem definidos com a falta de conhecimento e, em muitos casos, de vontade de avaliar os trabalhos segundo esses critérios.

Além disso, acrescenta a influência da popularidade dos participantes na votação, pois, normalmente, participantes com maior número de amigos ou contatos conseguem melhores resultados ao pedir votos. Para que esse tipo de situação não mais ocorra, sugere que esses eventos sempre sejam avaliados por profissionais qualificados, possivelmente sugeridos pela ADG.

Corroborando com a posição da Lígia, Mônica Fuchshuber afirma jamais participar de concursos que envolvam voto popular, devido justamente à determinância que tem a popularidade do participante sobre a avaliação de sua obra.

Sem exatamente fazer grande relação com o tema do tópico, Mônica acrescenta ainda que não recomenda a participação em concursos que exijam a cessão de direitos autorais de todos os participantes (editado em 01/12/10 às 13:36).

Logo após, Gustavo Jota contribuiu com um grande texto abordando questões mais profundas sobre a própria formação dos designers. Julguei que a contribuição, apesar de muito boa, não se aplicava de forma muito prática ao tópico em questão, e que seria um ótimo tema para uma outra discussão à parte. Tentei, então, responder à pergunta que ele deixou ao final de seu e-mail:

Estes concursos públicos estão errados ou apenas tentam corrigir uma falha existente no sistema?

Respondi afirmando acreditar que a existência desse tipo de concurso seja, na maioria dos casos, motivada pela ingenuidade dos organizadores, pela fé cega ou simplesmente ingênua no crowdsourcing, ou talvez pela curiosidade em ver o andamento dos concursos, que, através da aplicação dos conceitos de web 2.0, se desenvolvem de forma orgânica, praticamente sozinha, sem grande regulação dos organizadores.

Mais adiante, Mônica e Lígia reiteram a necessidade de orientar os designers a não participarem de concursos com critérios que possam ser danosos a eles mesmos. Lígia sugere ainda a realização de campanha para orientar não apenas os designers, como os pretendentes a organizadores de concursos, na elaboração e participação desse tipo de concorrência. Sugere que a ADG possa se encarregar de contribuir com profissionais para participar de comissões julgadoras, e talvez até mesmo prever uma remuneração mínima para esse tipo de trabalho.

Felipe Caroé concorda com a abordagem de Mônica e Lígia, de realizar trabalhos de conscientização, e cita a existência de uma cartilha publicada pela ADEGRAF (Associação dos Designers Gráficos de Brasília), intitulada “Experimente Design Estrategicamente” (abaixo), que possuía uma página dedicada a negar a realização de concursos de “Concorrência Especulativa”, o que, segundo Felipe, é o nome dado aos concursos de votação aberta.

Cita ainda como problema a recorrência desse tipo de concurso e a participação de grandes nomes do design, como Aloísio Magalhães e Alexandre Wollner em concursos do gênero.

Conclusão

Ao final do debate, podem-se extrair as seguintes conclusões:

  • Concursos com votação aberta ao público privilegiam participantes populares e engraçadinhos, e não necessariamente os participantes cujos trabalhos atendam com qualidade aos critérios dos referidos concursos;
  • Os participantes do debate, de modo geral, repudiam a realização de concursos com votação aberta ao público e recomendam aos designers que apenas participem de concursos com critérios de avaliação bem definidos e com comissão julgadora adequada a avaliar os trabalhos segundo tais critérios.

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