Todo mundo conhece história da arte/design e mesmo a história “pura” trata da mudanças ocorridas na sociedade durante diversos períodos, os modos de vida, as relações de poder, etc.
As pessoas e os significados das coisas mudam com o tempo e os acontecimentos, o rio Ipiranga não seria muito conhecido fora de sua região e nem o 7 de setembro teria lá muita importância perante os outros dias se não tivesse ocorrido um certo grito. Por causa deste grito um tipo de corte de barba ganha título de imperador por aí, e mais ou menos no mesmo raciocínio usar um pequeno bigode central logo abaixo do nariz pega muito mal, principalmente se aconpanhado de uma franjinha emo.
Buenas.
Muita gente infinitamente mais abalisada do que como Maristela Ono e Rafael Cardoso já falaram sobre fetichismo do objeto e cultuma material (aconselho que procurem conhecer seus trabalhos), mas venho aqui tocar neste assunto com uma teoriazinha.
A muitos e muitos anos atrás, quando a humanidade era jovem, os objetos eram rústicos e de ardua fabricação, estou falando de pedaços de pedra entalhados por outros pedaços de pedra. Com a inventividade humana na criação/utilização de ferramentas são confeccionadas peças em madeira, couro com o tempo metal.
Devido a vários fatores, mas acredito que principalmente por escasses de recursos e demasiado tempo para a fabricação de um utensilho, os objetos eram poucos, e por sua vez, duráveis (se é tão difícil e demorado fazer um desses é melhor que ele dure, até pq a encomenda é para este meu vizinho e se a coisa quebrar semana que vem ele ficará uma arara).
A qualidade de um objeto era extremamente ligada a sua durabilidade, posso dizer até pouco tempo atrás esse valor ainda era de alta estima. Noentanto desde de que lá pelos idos de 1950 os americanos criaram o conceito de “obsolecencia programada”, que nada mais é do que fabricar um objeto de modo que ele se torne lixo o mais rápido possível, porém não tão rápido que a pessoa nunca mais compre nada da marca, temos o crescimento do emporcalhamento do mundo.
Nesse processo vem o material que mudou tudo, o termo-plástico. A principal característica do plástico é a capacidade de adotar praticamente qualquer forma e de uma maneira rápida, sendo injetado em molde adiquire um desenho que levaria anos para ser feito em outros materiais, ou simplismente não poderia.
Agora as coisas podem ser fabricadas de forma rápida e descartadas mais rápido ainda.
Raciocínio paralelo
Antigamente (agora tratando apenas dos últimos séculos) os relacionamentos entre Marido e Esposa eram duradouros, o costume era casar apenas uma vez na vida e ter apenas um parceiro por toda ela.
A mobilidade não era tão facilitada, viagens curtas levavam dias, semanas, meses. A região geográfica conhecida/habitada por uma pessoa era infinitamente menor. É óbvio que nessa situação também era comum viver na mesma cidade, conviver com as mesmas pessoas a vida toda.
E
Usar os mesmos objetos…
Hoje os relacionamentos são, digamos, mais efêmeros. Estamos a um clique de ser amigo de qualquer um no orkut, a algumas digitadas de mandar aquele email, a facilidade de contactar e ser contactado é imensa, e isso a qualquer hora, em qualquer lugar.
Você não conhece seus vizinhos, eles não te conhecem.
A atendente do banco não é a Ana, a aninha, filha da dona tereza, mulher do seu Tito da rua de baixo, é apenas uma atendente de banco que está ali para lhe prestar um serviço, durante aquele tempo e ponto final.
Agora o relacionamento amoroso evidencia bem isso. A uns 15, 20 anos o termo “ficar” se quer era conhecido e utilizado pq o próprio conceito era estranho as pessoas. Você namorava, noivava e casava, com a bênção de Deus. Coisas que demoravam a ser construídas, anos de namoro e noivado, uma vida de casamento.
Integrando
Minha teoria é que a evolução na fabricação de objetos e a relação que as pessoas tinham com eles, bem como o tipo de vantagem que os produtos passaram a fornecer para a humanidade mudam a forma como nos relacionamos e como a sociedade funciona.
Essa ladainha toda é pra dizer que este certo desprezo que sentimos por pessoas que não conhecemos (a indiferença com o garçom do bar, o gerente do banco, a atendente da loja) pode ser fruto do nosso modelo mental gerado pela utilização de produtos e máquinas, onde vc comanda o ligar/desligar, onde ela funciona executando uma tarefa específica de forma programada em um tempo exato estimado.
Aí vem os relacionamentos amorosos.
Se antes eram necessários anos de convivência, conhecimento, companheirismo, hoje temos a opção do ficar, leve, desimpedido, rápido e que caso ocorra algo fora do planejado simplesmente se livra e vai pra outra.
Assim, acho que o fato dos objetos terem se tornado mais facilmente descartáveis, graças, entre outras coisas, a fabricação barata e acelerada, influenciou a humanidade de forma a tornar o relacionamento entre pessoas com um objetivo simples, puro e pragmático um hábito comum. Ou seja, talvez o copinho plástico é que tenha matado o romance.
PS:. Talvez o próprio relacionamento duradouro tenha sido “criado” por um universo onde ele fosse necessário, mas isso são outros quinhentos…