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Admiro o trabalho da filósofa Márcia Tiburi há anos, desde que comecei a assistir às suas palestras no programa Café Filosófico, da TV Cultura. Por isso, fiquei muito feliz quando ela passou a integrar o time de damas do Saia Justa, da GNT. Infelizmente, não assisto ao programa tanto quanto gostaria (não tenho TV a cabo), mas toda vez que me hospedo em um hotel com esse recurso, não deixo de acompanhar o papo da mulherada.

Há algum tempo, o shopping Iguatemi promoveu no seu vão central um Saia Justa ao vivo aqui em Florianópolis, e não pude deixar de assistir. Gostei de tudo, mas fui para casa com uma frase da Márcia na cabeça. Falando sobre compras, moda e roupas, ela declarou que há anos se veste de preto porque para usar outras cores é preciso escolher, combinar, harmonizar. Tem que pensar muito, tomar decisões difíceis. Ela acha que usar roupa colorida não é para qualquer um. Está certa a moça.

Escolher preto é confortável, pois desconheço uma mulher que não fique bem com essa cor (ou não-cor, como queiram). Preto não deixa aparecer sujeira, é prático, elegante, afina a silhueta e dá um ar de discrição misteriosa, principalmente se a bela em questão caprichar na maquiagem.

Mas será que vale a pena apelar para a monocromia em nome do conforto e da elegância fácil? Não estaríamos abrindo mão de uma ferramenta de expressão importante para a nossa saúde mental? Uso bastante preto pelos motivos expostos acima, mas não consigo me imaginar assim numa linda manhã ensolarada de verão ou numa gloriosa tarde de primavera. Penso ser necessário estar em sintonia com o universo, e as cores são muito poderosas para traduzir bem nosso estado de espírito e essa comunhão com o ambiente.

Essas questões me lembraram do trabalho do suíço Johannes Itten, professor de Teoria da Cor da antológica Bauhaus, uma das primeiras e mais importantes escolas de Design do mundo.

Itten acreditava que as preferências pessoais pelas cores revelavam não apenas o gosto subjetivo da pessoa, mas também muito de seu temperamento e das suas limitações. Entender mais sobre as cores prediletas era, para ele, um importante exercício de auto-conhecimento. Essas associações pessoais entre cores harmônicas diferentes para cada indivíduo sofrem também influências culturais, sociais, conscientes e inconscientes.

Anos depois do trabalho de Itten, pesquisadores de psicologia conseguiram relacionar a escolha das cores com estados emocionais e com a estrutura da personalidade. Os estudos foram tão bem sucedidos que alguns países utilizam testes de preferências cromáticas como auxiliares nos diagnósticos clínicos dos pacientes.

Em suas pesquisas, Itten descobriu que os talentos das pessoas são bem traduzidos pelas cores de sua preferência. O pesquisador separou duas características distintas que as cores têm. A primeira é o agente cromático, que refere-se à constituição do pigmento, sua realidade físico-química. A segunda é o efeito cromático, que traduz o impacto que a cor tem sobre nós, a realidade psicofisiológica da nossa percepção.

Levei um tempo para gostar de azul claro porque um dia, quando criança, ouvi a minha mãe comentar que era cor de cemitério. Tem quem não goste de vermelho porque esse tom traz lembranças desagradáveis sobre alguma fase da vida. Nossa história é completamente colorida, não há como negar a presença marcante das cores em cada cena. Assim, o cérebro de alguém tem motivos para preferir usar azul com detalhes vermelhos, enquanto outra pessoa jura que azul só combina mesmo é com marrom. Isso sem contar que o tom de pele e cabelo também precisam ser levados em consideração se estamos falando de roupas. É complicado, trabalhoso, e, como diz a nossa filósofa, tem que pensar muito.

Itten já dizia, em 1961, que “as pessoas juntam cores complementares ou combinações que estão na moda em vez de refletirem-se a si mesmas”. Outras gentes, como a Márcia, elegem uniformes pessoais que as liberam de buscar a difícil sintonia entre a roupa e o humor do dia.

Por tudo isso, o estudo das cores deve ser um exercício divertido e revelador para os designers, uma vez que só a prática constrói a excelência. Descobrir e analisar suas próprias predileções deveriam ser itens obrigatórios na formação de um bom profissional da área.

Penso que, conhecendo-se melhor do ponto de vista cromático, os designers saberiam distingüir melhor suas preferências das dos seus clientes, e, principalmente, estariam mais preparados para eleger os tons mais adequados a cada projeto, independente do seu gosto ou o do cliente, posto que, muito além das combinações pessoais, há que se considerar estudos sobre psicodinâmica das cores e outros aspectos importantes, tanto objetivos como subjetivos, essenciais para uma composição competente.

Designers, são por definição, pessoas coloridas. Uniformes monocromáticos são perfeitamente aceitáveis e convenientes para qualquer outro profissional. Porém, na minha opinião, designers que só andam de preto nada mais são do que uns grandessíssimos preguiçosos…

Ligia Fascioni | www.ligiafascioni.com.br

Publicado por Lígia Fascioni

Lígia Fascioni é engenheira eletricista, especialista em marketing, mestre em automação e controle industrial e doutora em engenharia de produção na área de gestão integrada do design. Publicou "Quem sua empresa pensa que é?" (2006), "O design do designer"(2007), "Atitude profissional: dicas para quem está começando" (2009) e "DNA Empresarial" (2010). Atua como consultora empresarial e palestrante. Ministra disciplinas em cursos de graduação e pós-graduação (MBA) em marketing, inovação e design. Mantém o site www.ligiafascioni.com.br e www.atitudepro.com.br. É colunista do portal Acontecendoaqui.com.br e colabora com diversos sites e blogs sobre marketing e design.

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