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Verde lim

Muito bem, turminha, vamos começar hoje com um ?case?. Não é chique ficar falando ?case? em vez de ?estudo de caso?? Então hoje eu vou ser chique. Aliás, este é uma história real, mas os nomes foram mudados para a proteção dos envolvidos e coisa e tal.

Era uma vez um açougue especializado na venda de carnes nobres que resolveu dar uns tapas no visual e contratou uma agência especializada em tapas no visual. Os espertos designers da agência fizeram uma bela pesquisa sobre açougues de luxo em Nova York e na Europa, leram um bocado sobre o ramo, buscaram a concorrência (do açougue, não deles) e viram que poderiam realmente criar um espaço carnívoro?consumista diferenciado que seria colocado anos?luz em termos de ambientação e luxo dos demais estabelecimentos da região. Retiraram os clássicos espelhos das paredes e as peças de carne penduradas substituindo tudo aquilo por uma decoração ?clean? e peças de carne já cortadas e pesadas, embaladas individual e higienicamente. Os velhos açougueiros receberam novos uniformes, com gorros e aventais negros como está na moda, ganhando o novo cargo de ?especialista em atendimento de comestíveis? ou coisa assim.

Inauguração feita, linda festa, o dono do açougue, ou melhor, da boutique de carnes sorrindo de orelha a orelha já imaginando o aumento no faturamento, já que com aquele visual moderno e elegante ele também poderia aumentar o preço dos produtos. E pimba! Os clientes sumiram em peso e o faturamento caiu quase em 30%.

UÊPA! Como assim? Um estabelecimento diferenciado, com um design estiloso refletindo uma mercadoria de alta qualidade e tudo o mais acabou causando um prejuízo? Pois é, nossos gênios do design simplesmente utilizaram toda uma linguagem visual devidamente extraída de Nova Iorque ou da Zona Sul do Rio de Janeiro em um açougue em Brás de Pina. Subúrbio do Rio de Janeiro. Resultado: rejeição do público?alvo.

Passada a consternação geral, vamos entender o que houve.

A turma do escritório de design, estúdio, coletivo, ou seja, qual o nome da moda cometeu um erro que é muito mais comum do que se pensa, tanto no mercado de design quanto no publicitário. Eles ignoraram solenemente o padrão cultural do público?alvo. Partiram do princípio que, sendo pessoas de refino cultural e bom gosto seria natural que seus próprios padrões estéticos fossem reconhecidos como superiores pela plebe ignara do subúrbio fluminense. Ledo engano, Joãozinho, ledo engano.

Coleginhas designers, vamos estabelecer que essa história de que ?eu tenho bom gosto e você não? não passa de uma baita arrogância. Cada grupo sócio?cultural tem a sua linguagem estética própria, com símbolos e códigos específicos. E esses códigos têm de ser respeitados e utilizados, por mais que se choquem com os nossos. Como prestador de serviço, o designer não está ali para comunicar seus padrões pessoais e sim para comunicar o que o cliente quer que chegue ao público?alvo. Se essa comunicação falha, por mais lindo e maravilhoso que o projeto de design seja, é um projeto falho. Portanto, se o seu público?alvo é brega, caro designer de estilo europeu?modernoso?contemporâneo, você tem de usar uma estética brega. Mas espere um instante! Utilizar uma linguagem estética brega não é fazer as coisas de qualquer forma. Contenha seus ímpetos e lembre?se que, antes de tudo, você é um profissional que sempre busca a melhor qualidade de seus trabalhos (espero). Toda linguagem estética ainda segue as leis da Gestalt, da Forma e da Semiótica/Semiologia. Seguidos esses princípios, seus projetos terão harmonia, legibilidade e eficiência. E o mesmo vale para qualquer padrão estético de qualquer público?alvo.

O pessoal que avacalhou o açougue de nosso case não levou em consideração o que o público de Brás de Pina entende como um bom açougue de qualidade e com isso transformou o estabelecimento em algo que o público ?leu? como um local esnobe e com preços extorsivos. Os empregados não eram mais vistos como os açougueiros que entendiam do assunto e iriam ajudar amigavelmente na compra da carne para o churrasco, mas como atendentes esnobes, ainda que fossem os mesmos de dois meses antes. Esse foi o motivo da redução da clientela. Ao não respeitar os códigos locais, transmitiram uma mensagem totalmente distorcida.

Lição do dia? É simples. Prestem atenção à linguagem de seu público?alvo. Deixem seus preconceitos para a mesa do bistrô chique que vocês frequentam e respeitem toda e qualquer forma de linguagem visual e cultural, aprendendo a trabalhar com o máximo de qualidade dentro de todas elas, não se prendendo apenas ao último modismo de design, seja de identidades visuais, cartazes ou websites. Garanto que assim terão acesso não apenas a uma clientela muito mais ampla como também conseguirão abrir seus horizontes de percepção para toda uma gama de novas possibilidades de criação.

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