Você achava que sabe o que é design? Pense de novo. Lembro de quando publicamos, lá em 2005, o artigo “A Moda dos X-Designers“. Naquela época, a gente estranhava e até achava engraçado os títulos como “hair designer” ou “designer digital”. Parecia que o design estava se “anexando” a tudo que aparecia.
Hoje, a coisa saiu completamente do controle e virou tsunami designer. Estamos, de fato, na era do “X-Designer”, onde cada canto da internet virou palco para uma nova “profissão” que, sejamos honestos, mal existe no dicionário.

Lembra da manicure? Agora é “nail designer”. O confeiteiro virou “cake designer”. A moça que faz sobrancelha é “eyebrow designer”. Sério, até quem penteia cachorro é “dog designer”! É como se o sufixo “designer” fosse um pó mágico que, ao ser jogado em qualquer coisa, elevasse a moral da profissão e, de quebra, contribuísse para a monetização nas redes sociais.
Afinal, um termo em inglês na cabeça do brasileiro sempre chama mais atenção, não é?
O Dia em que a IA Disse: “Segura Minha Cerveja”
E agora estamos na era da Inteligência Artificial. A IA generativa não está batendo à porta; ela já entrou, sentou no seu sofá e pediu a senha do Wi-Fi. Aquela arte “exclusiva” que levava horas? Agora rola em segundos com um prompt de texto. Quer um logo? Uma ilustração? Uma campanha inteira? A IA está lá, pronta para entregar.
Então, pergunto: Se a máquina faz a forma, o traço, o “bonito” em um piscar de olhos, o que sobra para o designer? Onde fica o valor? Viramos meros operadores de prompt? Digitadores de IA? O futuro revela pessoas afirmando que ser designer também é a capacidade de gerar algo na IA?
O Design na Corda Bamba: Velhas Batalhas em Novos Tempos
Enquanto a gente assiste a essa popularização desenfreada do termo “designer” nas ruas e nas redes sociais. A profissão de designer no Brasil continua um tema de debate acalorado. Em um cenário onde a própria identidade profissional é tão fluida, discussões sobre seu reconhecimento formal, seus limites e responsabilidades ganham novos contornos na política e na regulamentação da profissão de designer.
Movimentos como a PEC das Domésticas ou as recentes conversas sobre a regulamentação dos motoristas de aplicativo mostram como as categorias profissionais evoluem e buscam seus lugares. Para o design, a conversa não é diferente. Curiosamente, essa discussão já tramitou na última década, e apenas a categoria de designers de interiores conseguiu, meio de surpresa, a possibilidade de assinar projetos sem o aval de um arquiteto, garantindo que a profissão não fosse subjugada e tivesse seu devido reconhecimento. Mas e os outros? Em meio a tantas mudanças, como definir quem é, o que faz e qual o valor de um designer de verdade? É um papo complexo.
O Futuro do Design: Quem Se Adapta, Sobrevive?
O design sempre foi sobre resolver problemas. Mas e se o maior problema agora for a própria definição de quem somos?
Será que o designer do futuro é um curador de IAs? Um estrategista de prompts? Um filósofo da interface? Ou o termo “designer” vai se esvair de vez, e teremos que inventar um novo nome para quem realmente pensa, planeja e executa soluções complexas?
A “moda dos X-Designers” de 2005 era só o começo. Hoje, estamos em um turbilhão. A pergunta não é mais o que é design, mas sim: O que será o “Design” amanhã ?
A resposta ainda está sendo desenhada. E olha que talvez não seja por um “designer”.