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Designers gráficos: salvem o planeta! (ou pelo menos a sua cidade)

“Ninguém comete erro maior do que não fazer nada porque só pode fazer um pouco.” – Edmund Burke.        As decisões tomadas pelos designers gráficos tem grande impacto ambiental, na medida em que afetam o uso de recursos materiais e naturais para o atendimento das suas necessidades de projeto e produção. Dentre esses recursos estão o papel, as tintas, os plásticos usados no projeto de peças gráficas e embalagens. Dentre os recursos naturais influenciados direta e indiretamente pela produção desses objetos, estão a madeira, a água, a energia, o subsolo, o ar, somente pra citar alguns.

Este trabalho pretende mostrar um breve panorama do uso atual irresponsável dos recursos naturais e depois discutir como os designers gráficos podem ajudar a usá-los de modo ecoeficiente.

Tintas

Há muito já se sabe do fascínio que o homem tem pela cor. Tentando imitar a natureza e sua abundância de cores, o homem extraiu pigmentos mineirais, sintetizou outros quimicamente, sempre com o objetivo de reproduzir a cor que ele aprendeu a apreciar na natureza.

Mas o uso da cor não é motivado apenas pelo fascínio que elas causam no ser humano. Cor vende, e vende muito. Sabendo disso, as empresas que conhecem o poder da cor e da imagem usam e abusam das cores em seus produtos, visando tirar proveito da atração que elas exercem sobre a emoção humana.

No entanto, a cor tem seu lado vilão. Para produzir cor, o preço que se paga é o dano à natureza, mais especificamente, à água, ao solo, ao ar e aos seres vivos.

Segundo o livro “50 pequenas coisas que você pode fazer para salvar a terra”, de acordo com as autoridades especializadas da cidade de San Francisco (EUA), a tinta de parede e seus assemelhados são responsáveis por 60% dos dejetos potencialmente poluentes lançados no meio ambiente por pessoas (não pelas indústrias). Estão incluídos nessa lista as tintas a óleo, os thinners, os solventes e os produtos para polimento. O pigmento que dá cor à tinta a óleo é produzido quase sempre a partir de metais pesados, como o cádmio e o dióxido de titânio.

Não apenas a tinta a óleo é tóxica; são tóxicos também os elementos a partir dos quais a tinta é produzida, além dos dejetos do processo de fabricação. Sempre que o dióxido de titânio é usado, por exemplo, resultam detritos líquidos, e este “lixo” contém ácido sulfúrico, metais pesados e hidrocarbonetos clorados.
Os americanos consomem 12 milhões de litros de tinta por dia, enquanto o consumo brasileiro é de aproximadamente 2,4 milhões de litros por dia.

A tinta usada em sacos plásticos (como sacolas de supermercado) contém cádmio, um metal pesado e altamente tóxico. Cada vez que um saco plástico impresso à tinta é incinerado, gases tóxicos são liberados na atmosfera. Com respeito ao uso da cor e vernizes em materiais impressos, isso torna sua reciclagem mais difícil.

Embalagens

Além da cor, outro objeto usado na sociedade e que tem impacto direto na questão ambiental são as embalagens. Seu uso pode ser benéfico a curto prazo, no entanto seu descarte tem implicações sérias na natureza, levando-se em conta os possíveis prejuízos causados ao ar na sua incineração, à água quando são jogadas em rios, aos peixes quando poluem seu habitat e os matam engasgados ao engolir plásticos, ao subsolo quando seus compostos químicos são depositados ali e permanecem por centenas de anos.

Em 1988, no Brasil foram distribuídos 80 mil toneladas de sacos plásticos e de papel. Quase 30% do plástico produzido nos EUA é usado em embalagens.
De cada 11 dólares que os americanos gastam em comida, 1 dólar corresponde à embalagem. Gasta-se mais na embalagem do que no pagamento aos agricultores pelos seus produtos.

A embalagem de isopor usada em alimentos é totalmente não-biodegradável. Ficará 500 anos sujando o planeta. O isopor também ocupa um volume alto em relação ao seu peso, congestionando ainda mais os lixões urbanos, já saturados.

No Brasil, são fabricadas 720 milhões de latas de alumínio por ano (510 mil toneladas de latas), mas apenas um terço disso é recuperado. A energia economizada com a reciclagem de uma única lata de alumínio é o suficiente para manter ligado um aparelho de televisão durante três horas.

Papel

Outro vilão silencioso na questão ambiental é o papel.
Os sacos de supermercado são feitos de papel virgem, não reciclado, porque os fabricantes afirmam que é necessário empregar papel de fibra longa, mais resistente, para o transporte de mercadorias mais pesadas. Isso implica em maior agressão ao meio ambiente, visto que exige árvores virgens. É preciso uma árvore de 15 a 20 anos de idade para se fazer apenas 700 sacos de papel.

Se fosse produzido papel a partir de papéis usados, o consumo de energia seria 50% menor do que se fosse produzido a partir de árvores virgens, o consumo de água seria 5.000% menor e a poluição do ar seria reduzida em 95%. O papel virgem poderia ser substituído pelo reciclado em vários produtos, sem comprometer a qualidade; porém, como no Brasil a demanda do papel reciclado é pequena, seus preços tendem a ser superiores aos do papel virgem. Desta maneira, sua produção não chega a ser comercialmente interessante. Infelizmente, no Brasil apenas 30% da produção anual de papel (4.700 toneladas) é reciclado.

Se o mundo reciclasse metade do papel que consome, 40 mil km quadrados de terras seriam liberados do cultivo de árvores para a indústria de papel.
Muitos ainda argumentam dizendo que a madeira é um recurso natural renovável e que todo ano são replantadas milhões de árvores. No entanto, ninguém diz que devido ao alto consumo de papel em todo o planeta, florestas estão sendo destruídas para em seu lugar serem plantados eucaliptos, utilizados na produção de papel. Porém, os eucaliptos absorvem muita água da terra, afetando o equilíbrio do solo. Isso pode causar erosão e danos ecológicos, pois incontáveis espécies de animais deixarão de existir com o fim das matas. Além disso, as árvores absorvem grande parte do gás carbônico presente na atmosfera; sem as árvores, o gás carbônico permanecerá no ar, contribuindo para o efeito estufa.

A degradação das florestas, visando a produção irresponsável de papel, afeta o equilíbrio biológico. Numa área de 6 quilômetros quadrados de floresta tropical é possível encontrar: mais de 750 espécies de árvores, mais de 1500 espécies de plantas que dão flor e podem servir como remédios (70% das plantas classificadas como indicadas para o tratamento do câncer só existem em florestas tropicais), 125 mamíferos diferentes, quatrocentos tipos de pássaros, cem répteis, sessenta anfíbios e inúmeros insetos, inclusive 150 tipos diferentes de borboletas. E apenas 1% dessas espécies foram estudadas!

Plastificação de impressos

Uma prática comum em capas de revistas e outros impressos gráficos é a plastificação que confere aspecto brilhante à impressão e aumenta sua resistência mecânica. No entanto, a presença de componente plástico nestes impressos dificulta a reciclagem na medida em que muitas vezes é quase impossível desvincular o plástico da celulose do papel.

Desperdício de papel nas empresas
Outro desperdício brutal de papel acontece debaixo do nariz de todos nós. 50% de papel é desperdiçado quando não se usa o verso do papel no momento das impressões, seja em impressoras a laser, a jato de tinta e principalmente em copiadoras xerox.

Anualmente os americanos jogam fora papel para datilografia e folhas pautadas em quantidade suficiente para construir um muro de 3,5 metros de altura e 4.500 quilômetros de comprimento.

Além desse desperdício evidente de papel, outros modos de desperdiçá-lo é na ocupação inconseqüente e desproposital de espaço nas folhas, em parte devido à ignorância no seu uso e falta da consciência sobre o impacto que isso tem no volume de papel necessário para cumprir tarefas documentais. Normas como a ABNT e outras, sugerem o uso de regras técnicas no que diz respeito ao uso de espaço nas folhas, como o espaçamento exagerado entre as linhas de texto, larguras de coluna desnecessárias, margens e tamanhos de letra superestimados, etc.

Como os designers podem usar os recursos de modo ecoeficiente?

Designers gráficos podem contribuir para o uso mais inteligente e ecoeficiente dos recursos por meio de 3 passos simples: desenvolvendo uma consciência do impacto ambiental causado pelas suas decisões, educando seus clientes e a sociedade para a importância do desenvolvimento sustentável e, logicamente, re-avaliando seus próprios processos, lembrando que design ecologicamente correto não implica em grandes decisões, mas pequenas escolhas feitas com consciência ambiental.

PRIMEIRO

Antes de apoiar o desenvolvimento sustentável, os designers gráficos tem que se convencer plenamente da urgência em defender o uso responsável e ecologicamente comprometido, criando uma auto-consciência sobre o assunto. Tomar decisões a favor do atendimento das necessidades presentes, levando em conta as necessidades futuras, muitas vezes significa comprar uma briga com interesses imediatistas. Se o designer não estiver pessoalmente convencido do impacto das suas decisões na questão do desenvolvimento ambiental, pode ser difícil colocá-las em prática, de modo efetivo.

SEGUNDO

Conforme diz o segundo capítulo do livro “PRODER-Especial: um vetor de sustentabilidade econômica em processos de desenvolvimento local integrado e sustentável”, um dos requisitos para esse desenvolvimento, sem o qual torna-se muito difícil realizá-lo, “é despertar a população para as possibilidades e para as vantagens de um processo mais solidário de desenvolver e aplicar estratégias de comunicação social e de marketing compatíveis”. Pode-se incluir nessa população, os empresários e clientes dos designers, e nas estratégias que precisam ser compatíveis, o design gráfico. O desenvolvimento sustentável, que leva em conta o impacto ambiental das atividades econômicas, depende de um processo que eduque sobre a importância da responsabilidade social e também ambiental, visando preservar o direito ao atendimento das necessidades das gerações que ainda virão.

TERCEIRO

O terceiro passo que os designers podem dar é a reavaliação dos seus processos e o questionamento das suas escolhas, julgando suas decisões atuais tendo um modelo ecologicamente ideal como referência.

A principal atividade do designer gráfico é a comunicação visual, que é a transmissão de mensagens visuais que podem se apoiar em diferentes suportes, como papel, plástico, madeira, materiais de relevância ambiental. Os designers ainda se valem de recursos gráficos que tem implicações ecológicas, como a plastificação e aplicação de vernizes em papéis, o uso de materiais não-biodegradáveis em embalagens e tinta com COV (componentes orgânicos voláteis). Outros profissionais de comunicação também abusam do uso do papel, desperdiçando-os de modo inconseqüente.

Cito abaixo algumas maneiras como os designers gráficos poderiam ajudar a reduzir os prejuízos decorrentes das suas decisões ligadas à prescrição e solicitação do uso de papel, plástico e tinta em seus trabalhos:

Tinta

Os designers deveriam usar a cor de modo responsável, somente nos lugares onde seu uso fosse imprescindível. Já foi provado que a cor tem grande influência persuasiva e efeito emotivo sobre o ser humano. No entanto, muitas pessoas usam cor pelo simples prazer de usá-la ou ainda porque é um recurso disponível e aparentemente não-prejudicial, o que é um engano. Muitos materiais com cunho meramente informativo seriam ótimos candidatos a terem suas exigências de cor revistas. Os designers devem aprender que a cor tem um preço  (poluição por metais pesados) e que, embora pago a longo prazo, não aceita calote.

Papel

Os designers aprendem que a única preocupação na escolha de formatos de papel é a financeira. Alguns formatos permitem um aproveitamento maior da área útil. Muitos designers escolhem esses formatos porque isso tem um reflexo no preço pago às gráficas e não porque usar menos papel é uma prática ecoeficiente.
Os designers também poderiam estudar maneiras de reaproveitar, por exemplo, o verso branco de materiais já impressos, seja para rascunhos, seja para novas impressões, como no caso de grandes cartazes que usam enormes áreas de papel e desperdiçam seu verso.
A impressão de documentos só na frente das folhas deveria ser questionada e repensada. É muito cômodo usar apenas a frente do papel, já que não é necessário virá-los para serem impressos no verso. Em apenas um ano 260 milhões de folhas tamanho carta são jogados fora nos EUA. Se o verso fosse usado, a economia seria de 130 milhões de folhas, sem contar a redução do volume ocupado pelos documentos, que obriga a construção de mais móveis e novamente mais consumo de madeira.
Os designers gráficos poderiam aumentar seu consumo de papel reciclado, de modo a reduzir o consumo de árvores virgens, o consumo de água dos rios, a poluição do ar.
Normas como a ABNT poderiam ser revistas sob o ponto de vista ecoeficiente, de modo a estipular regras alternativas que aproveitassem melhor o espaço nas folhas de papel. Ao invés de usarem linhas em apenas 1 coluna, com corpo 12 e espaço duplo, poderia se usar 2 colunas em muitos documentos, com corpo 9 em letras com altura-x equivalente a tipos de corpo 10, e com entrelinhas igual a 10,8 pontos, e se possível usar letras com dimensão horizontal reduzida e fazer a impressão em frente e verso, de modo a economizar espaço. Essa configuração mantém a legibilidade do texto e proporciona uma economia de espaço que pode chegar a 80% em alguns casos, como neste artigo, que nas normas da ABNT ocuparia 12 páginas e agora ocupa apenas 2. Também contribuiria muito para a economia de papel, a redução do número de palavras, obtida por uma redação mais concisa e que não procure impressionar pelo volume de texto.

Embalagens

O projeto de embalagens para acondicionamento de produtos deveria ser encarada pelos designers como uma atividade de grande responsabilidade. Seu uso deveria ser comedido e vinculado a interesses ambientais, atitude justificada pela redução dos riscos de contaminação e dano à ecologia.

Conclusão

São inúmeras as possibilidades de uso ecoeficiente dos recursos, considerando-se todo o ciclo de vida dos produtos, ou seja, sua criação, uso e descarte. Este é um excelente campo para estudo por parte de todos os profissionais, principalmente os designers gráficos cujas atividades tem tão grande relevância econômica e ambiental dentro do desenvolvimento sustentável.
Visto que este desenvolvimento deve ser local, as iniciativas regionais, partindo de pequenas regiões, ou pequenos grupos, podem ter reflexo positivo e crescente. Esperar que os outros façam sua parte primeiro, ou que apenas o governo e o Estado tomem a iniciativa, é tão ruim quanto achar que por podermos fazer só um pouco então não devemos fazer nada.
Alexander Manu, designer canadense e participante do grupo Design for the World, que defende o design socialmente responsável, prega que design social não é um privilégio para países desenvolvidos e que mesmo países em desenvolvimento podem praticá-lo, pois design social não se faz com idéias mirabolantes, mas sim nas pequenas decisões tomadas no dia-a-dia. Do mesmo modo, podemos dizer que o design ecologicamente responsável, base para o desenvolvimento sustentável, não se faz com grandes passos, mas com pequenas atitudes que podem contribuir e muito para a sustentabilidade.

Referências Bibliográficas

50 pequenas coisas que você pode fazer para salvar a terra. The EarthWorks Group. Editora Best Seller: 1989.
Franco, Augusto et alli. PRODER-Especial: um vetor de sustentabilidade econômica em processos de desenvolvimento local integrado e sustentável. SEBRAE Nacional, Brasília, 1999.

Publicado por Ricardo Martins

Ricardo Martins é professor de tipografia, metodologia visual, projeto de embalagens e design avançado de identidade visual da Universidade Federal do Paraná. Além de professor na UFPR, atua como designer gráfico freelancer desde 1993. É diretor institucional da ProDesignPR (www.prodesignpr.com.br), membro do Type Directors Club de Nova Iorque (EUA), da Sociedade Brasileira de Design da Informação (SBDI) e do Communication Research Institute, em Melbourne (Australia).

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