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O paradoxo das RT’s.

RT’s, para quem não conhece, são as controversas Reservas Técnicas que empresas e fornecedores premiam os profissionais em “agradecimento” à fidelidade. Falando bem popularmente, são comissões destinadas aos profissionais por preferirem uma determinada loja ou fornecedor. Elas surgiram há muito tempo quando empresas de grande porte começaram a garantir suas vendas junto aos profissionais presenteando-os com comissões após o fechamento das vendas.

Até aqui podemos dizer que “tudo bem” uma vez que, em um primeiro momento, parece não haver problema algum sobre este assunto. No entanto, creio que seja preciso analisar mais profundamente os aspectos éticos e profissionais que envolvem a questão do pagamento das RT’s e avaliar qual o caminho percorrido pelas empresas e pelos profissionais com relação a isso.

Recentemente fui ao cinema assistir o filme “Tropa de Elite”, venerado por alguns e odiado tantos outros. Quanto a mim, posso dizer que cada detalhe me surpreendeu. A cada diálogo ao longo do filme colocava o dedo nas feridas comuns que todos nós carregamos e na maioria das vezes, consciente ou inconscientemente não damos a devida atenção. Mas o que mais me surpreendeu com relação ao filme foram os comentários comuns que eu ouvi, tanto na saída do cinema quanto nas ruas e fóruns, foram de pessoas que pretendiam passar no camelô comprar um exemplar pirata para ter em casa.

Fico me perguntando: será que essas pessoas são capazes de sair da superficialidade sanguinolenta e truculenta do filme e enxergar o que tem mas abaixo da superfície? Creio que não! Dentre as várias e mais significativas cenas a que mais me chamou a atenção foi curta e pouco explorada, com diálogos que ficaram perdidos e soltos, pois ou nao foram devidamente trabalhadas ou foram censuradas. Refiro-me à cena da passeata. Nela o filme retrata a contradição hipócrita daqueles que gritam pela paz quando no seu cotidiano alimentam o narcotráfico e a violência que condenam.

Pois bem, pode parecer estranho ao leitor, mas essa contradição denunciada me fez refletir sobre as RT’s, com relação as quais devemos também ter esta capacidade de mergulhar e sair da superficialidade do dinheiro fácil e garantido que esta nos garante. De fato, há profissionais trabalhando sistematicamente com estas, porém cabe considerar que os meios com os quais estes o fazem são distintos. Penso que a possibilidade de trabalhar com as RT’s ocorrem de tres maneiras:

1 – o profissional deixa o cliente ciente da existência das RT’s e, para que se possa baixar o valor do projeto faz um acerto entre as partes de que o cliente fará as compras sempre com a presença do profissional para garantir a este o recebimento dessas comissões como forma de compensação pelo valor menor cobrado no projeto.

2 – O profissional fecha o contrato com o valor normal do projeto e junto ao fornecedor exige que o valor de sua RT seja repassado ao cliente na forma de um desconto extra, além do já oferecido pelo fornecedor. Neste caso o cliente está também ciente da existencia das RT’s e esta negociação com o fornecedor é feita na presença das tres partes: cliente, profissional e fornecedor. Claro que esta não é muito aceita pelos fornecedores.

3 – O profissional não expõe ao cliente sobre a existencia das RT’s. Cobra o valor normal do cliente e recebe paralelamente as RT’s dos fornecedores. Creio que, em relaçao aos demais, este é o pior tipo e mais anti-ético procedimento uma vez que, por meio dele, o profissional faz o cliente pagar duas vezes pelo trabalho: de um lado, pela via contratual, portanto lícita, o cliente paga o valor do projeto e, de outro lado, o cliente sem o saber paga as RT’s ao profissional embutidas no valor de equipamentos e serviços adquiridos. E não me venham alguns querer afirmar que a grana onvestida pelos fornecedores para o pagamento das RT’s provém da verba destinada ao marketing.

Com efeito, o que mais se vê são profissionais usando a terceira alternativa. Mas ainda se pode cogitar uma quarta alternativa que vem se tornando comum no mercado e que é, sem sombra de dúvida, a principal responsavel pela prostituição de nossa profissão: numa visão insana e individualista de competitividade, muitos profissionais estão dando os projetos de graça para os cliente em troca da negociata das RT’s. Isso destrói qualquer pretensão que se espera de profissionais honestos com relação à seriedade comercial e à credibilidade de sua atividade profissional.

Gostaria de mergulhar mais fundo na problemática que envolve as RT’s. Tudo bem! Ela é só um dinheirinho extra que entra no final do mês nos bolsos de alguns. Ótimo! Afinal hoje em dia tudo está muito caro, muito dificil de manter, contas e mais contas a pagar. Porém, aí vem outra questão que tem a ver com o título deste artigo: O paradoxo das RT’s. Quero aqui brincar seriamente com este paradoxo da realidade das RT’s com o filme Tropa de Elite?

O leitor pode estar se perguntando sobre a estranheza desta colocação com relação a este tema. Afinal de contas a Tropa de Elite é um organismo sério. Por isso mesmo, quero que todos entendam a partir dete ponto quando me referir à Tropa de Elite Profissional, com um “às avessas” na sequência.

O problema das RT’s começa na disparidade de sua oferta para cada categoria profissional. Normalmente, o percentual oferecido pela RT para os arquitetos é maior daquele oferecido aos designers ou decoradores. Algumas lojas aqui em Londrina oferecem 15% para arquitetos e 3% para designers e decoradores. Formata-se então, a Tropa 1.

Outro problema sério gerado por ela é a tal fidelização. Através dela formata-se um cartel entre loja/profissional desconsiderando o cliente. O profissional rasga seu vocabulário e argumentos para impor ao cliente que os móveis ou materiais dessa empresa são melhores que os das outras, o que nem sempre é verdade. A verdade é que a RT paga por A é maiorr que a paga por B, C ou D. Isso sem contar as empresas que dão aos principais parceiros profissionais RT’s de clientes que apareceram do nada na loja, sem acompanhamento profissional, e acabam pagando a RT dessa venda, para aquele “queridinho”. Temos então a Tropa 2.

O destaque desses dois exemplos se orientam apenas para breves colocações acerca da seriedade pela qual as RT’s afetam o mercado tanto do lado ético-profissional, quanto do lado do cliente que acaba sendo sempre o maior lesado.

Entretanto, não posso deixar de explanar aqui o fato mais sério das RT’s. Em sua grande maioria, este é um dinheiro não computado e declarado tanto pelas empresas quanto pelos profissionais. Torna-se então, uma espécie de lavagem de dinheiro. Com a conivência tanto das empresas, quanto dos profissionais. Raras são as empresas que fazem o profissional assinar um recibo deste recebimento.

Este dinheiro não entra nos custos embutidos declarados pelas empresas para a finalização do custo final e, poucos são os profissionais que depositam este dinheiro em suas contas bancárias e declaram tais rendimentos à Receita Federal. Em grande parte, os profissionais trocam o valor das RT’s por mercadorias do fornecedor. Algo de errado? Sim, tudo errado neste ponto.

Neste caso, de forma análoga, ambos estão agindo exatamente como os traficantes e usuários de drogas do filme Tropa de Elite. No final das contas, quem “morre” por uma bala perdida é o cliente. O traficante/fornecedor e o usuário/profissional nem de longe estão preocupados com os civis.

Não posso deixar aqui de alfinetar nossa digníssima ABD. Recebi no dia 13/11/2007 mais um e-mail da série “Vem com a gente”, mesmo não sendo associado. Interessante ressaltar que, na parte que trata dos benefícios em ser associado, o primeiro em destaque é justamente esse: “Carteira de associado reconhecida pelos fornecedores no pagamento das RT’s”.

Como se não bastasse isso, a grande formatação de uma Tropa de Elite às avessas promovida pela ABD estimula e reforça a prática desenvolvida por empresas como a Tok&Stok, Etna e outras que oferecem RT somente para quem é associado à ABD. Como se não bastasse isso, alguns núcleos municipais de decoração só aceitam entre seus membros portadores da tal carteirinha. Quer maior formação de quadrilha que essa? De modo algum, pretendo afirmar que essas lojas por sua seriedade no mercado possam ser responsabilizadas diretamente pois duvido que saibam realmente das ações tácitas ou manifestas da ABD contra os designers que supostamente pretendem representar.

Bom meus leitores, expus aqui o básico para mostrar a vocês que existe sempre muito mais coisas quando saímos da superfície. Reflitam bastante sobre isso e suas práticas profissionais e decidam que tipo de profissional você quer ser: em profissional ético e sério ou um profissional bandido?

Publicado por LDDA Paulo Oliveira

Paulo Roberto Gonçalves de Oliveira Designer de Ambientes e Light Designer - Formado em Design de Interiores pela UNOPAR orientando sua pesquisa na área de Light Design. - Especializado em Ensino Superior pela UNOPAR orientando sua pesquisa para a formação e mercado de trabalho do Designer de Ambientes. - Participou de diversos cursos específicos em Light Design, entre eles os da PHILIPS - Participou de Mostras de Decoração - Ministrou palestras em universidades como CESUMAR, UNOPAR, UNIVEM, entre outras. - Ministra cursos e mini-cursos (extensão) sobre Light Design e Design de Ambientes, - Associado à AsBAI (Associação Brasileira dos Arquitetos de Iluminação) desde o ano de sua fundação. - Associado à ABIL (Associação Brasileira de Iluminação), Cart n° 056. - Mantém na internet um blog pessoal - http://paulooliveira.wordpress.com/ - onde mantém informações e dados específicos sobre as áreas de Design de Interiores/Ambientes, Light Design e Edcação voltada ao Design e é colunista fundador deste blog (www.design.com.br) - Sua atuação na área teve início com trabalhos de iluminação cênica e cenografia a partir de 1998. - Colunista da revista Mary in Foco - Curitiba-PR. Participação na matéria jornalística “Elimine as armadilhas” publicada no dia 09/03/2008 na AT Revista, parte do jornal A Tribuna, de Santos-SP. http://jornaldigital.atribuna.com.br/reader/default.asp?cp=3

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