All posts by Ricardo Martins

Ricardo Martins é professor de tipografia, metodologia visual, projeto de embalagens e design avançado de identidade visual da Universidade Federal do Paraná. Além de professor na UFPR, atua como designer gráfico freelancer desde 1993. É diretor institucional da ProDesignPR (www.prodesignpr.com.br), membro do Type Directors Club de Nova Iorque (EUA), da Sociedade Brasileira de Design da Informação (SBDI) e do Communication Research Institute, em Melbourne (Australia).

Como o design pode ajudar o marketing?

Para aqueles que tem dificuldade em justificar a importância do design gráfico, do ponto de vista do marketing ou da gestão empresarial, aí vão algumas idéias (o texto é uma tradução-resumo de um texto em inglês, da Associação dos Designers Gráficos da Austrália):

DIVULGAÇÃO:

O Design afeta a consciência que os clientes tem do produto, através das mensagens visuais na propaganda. É importante que o consumidor saiba que você existe, e sem design isso vai ser mais difícil. Diante da concorrência isso é mais importante ainda, caso contrário as mensagens dela podem diminuir o impacto da sua comunicação.

MOTIVAÇÃO DE CONSUMO:

A intenção de compra, ou predisposição, é afetada pelas características do produto e pelo preço, e não apenas pelas ofertas da concorrência.

MEMORIZAÇÃO:

O design pode ajudar a criar consciência e adicionar impacto emocional e lembrança para uma proposição comercial básica. Não importa quantas vezes você joga uma mensagem pro mercado, se ela não for percebida ou lembrada, de nada vai adiantar. Aí entra o design.

ALINHAMENTO COM MERCADO ALVO:

O design também transforma o conhecimento da marca em motivação para compra, por alinhar o produto com o mercado alvo, falando com ele no seu próprio idioma visual. Uma churrascaria e um banco falam para públicos muito diferentes. Cada projeto de design faz o público perceber que a marca entende suas necessidades básicas.

PERCEPÇÃO DE VALOR:

O design também afeta o preço, ou ao menos a percepção do valor naquele preço, por posicionar o produto visualmente em relação a outros produtos concorrentes com preço mais alto.

COMBATE À CONCORRÊNCIA:

O design ajuda a anular as ações dos concorrentes, por criar fortes diferenças visuais entre o produto e os demais.

TRADE MARKETING:

O design também contribui para as estratégias de marketing por dar aos vendedores ferramentas promocionais poderosas para convencer os distribuidores a estocar o produto.

DESTAQUE NO PONTO DE VENDA:

E, uma vez que o produto esteja estocado no Mercado, o design trabalha novamente para garantir que o produto se destaque nas gondolas, em relação aos outros milhares de produtos que lotam as prateleiras.

AUMENTO DE LUCRO:

Além de tudo isso, os designers também podem afetar o lucro, reduzindo custos. Os materiais utilizados adicionam custos por unidade, e aqui o designer também pode fazer uma grande diferença, por escolher cuidadosamente como ganhar máximo impacto a partir dos materiais, número de cores e capacidades do processo de impressão.

Original, em inglês: http://archive.agda.com.au/dm/observations/Marketing102.html

Logotipo x logomarca > Coando o mosquito e engolindo o camelo

“Coar o mosquito e engolir o camelo” é uma expressão que foi usada por Jesus Cristo, para indicar que alguns às vezes ficam se preocupando com coisas mínimas, enquanto aquilo que realmente deve ser evitado continua sendo aceito e praticado. Conforme eu já expliquei num post, aqui nesse site, essa discussão sobre se o certo é logotipo ou logomarca, não toca no real problema: a ignorância de alguns designers sobre o que é identidade visual, marca, branding, expressão visual de marca, expressão sonora, expressão tátil, expressão olfativa e expressão gustativa. Essa ignorância é o real “camelo” que continua sendo engolido, enquanto ficamos cuidando de mosquitos.
Essa discussão em torno de qual o melhor termo para designar a junção de “símbolo + logotipo” revela algumas incoerências, tanto na profissão do designer gráfico, quanto na dos diretores de arte/publicitários:

  • 1) Algumas pessoas se preocupam tanto com símbolo e logotipo, pois na cabeça delas, esses são os únicos elementos que compõem a identidade. Mas não são. Um produto, por exemplo, pode ser identificado mesmo sem a presença desses elementos. Eu posso diferenciar um refrigerante pelo formato da sua embalagem (Coca-Cola). Posso identificar um chocolate pela padronagem de fundo com retângulos vermelhos e amarelos presente na embalagem (Chokito). Consigo perceber uma empresa de telefonia celular pelo estilo das fotografias que ela usa nos materiais gráficos (Vivo). Posso identificar um banco pela presença de um gesto num comercial de TV, que lembra o @ com a letra “i” (Itaú). Se eu for mais longe, consigo identificar até um parque temático por usar um idioma próprio, o “hopês”, onde bom dia é “bom bini” e tchau é “chauí” (Hopi Hari), diferencio uma empresa pelo uso frequente de uma textura de céu azul na propaganda (Claro), uma marca de processador apenas pelo som (Intel), um jornal apenas pelo tipo de letra utilizado no corpo do texto (Folha de S. Paulo), um achocolatado pelo seu cheiro (Toddy) ou um sorvete pelo gosto que tem (Häagen-Dazs).
  • 2) Essas pessoas pensam que identidade é só símbolo e logotipo, pois leram isso em um monte de livros que repetiam essa bobagem, ou aprenderam numa faculdade com um professor desatualizado que ensina identidade visual como se ensinava há quase 60 anos atrás (no tempo da vovó), ou porque simplesmente a maioria fala assim, então deve ser verdade. Da mesma forma, as pessoas saem por aí repetindo que se deve tomar 2 litros de água todo dia (isso não tem comprovação científica) ou que armas são a coisa mais perigosa que se pode ter em casa (sendo que piscinas matam muito mais crianças por ano). Ainda se ensina identidade como na década de 50, num tempo em que os produtos não tinham tanta concorrência, e a única coisa que precisava ser diferenciada era a “corporação”, que levou ao que se chama identidade corporativa. Acontece que identidade corporativa não é o mesmo que identidade de marca, identidade de produto, identidade experiencial.
  • 3) Como muitos “acham que identidade é só símbolo e logotipo” (estou sendo repetitivo para enfatizar), o que se vê por aí é a famosa identidade-carimbo: se o fulano fizer um papel de carta, um envelope, um uniforme, um totem de fachada, uma embalagem, uma sinalização de carro, dentre outros, ele vai sair carimbando a dupla “símbolo e logotipo” em tudo que aparecer pela frente, com seu carimbo-mágico-aplicador-de-identidades. Isso explica porque muitos clientes acham um absurdo pagar 10.000, 100.000 ou 3 milhões de reais por um “sistema de identidade”, pois se for pra sair carimbando um desenho, o sobrinho dele faz isso por muito menos. Carimbo por carimbo, não precisamos de um designer para fazer. O que precisa mesmo de um designer é pensar de que maneira podemos identificar um “produto, marca, serviço, pessoa, empresa, experiência” sem ficar repetindo um símbolo acompanhado de um logotipo.
  • 4) Logo, nós designers gráficos podemos criar uma identidade de maneira multi-sensorial, usando a cor, tipografia, padronagens, texturas, grafismos, materiais, estilo fotográfico, gestos, e com a ajuda de outros profissionais, criar a identidade pelo som, cheiro, gosto e superfície, conforme ilustra Marc Gobé, no seu livro “Design Emocional”.

Portanto, quando estivermos projetando identidades completas, que diferenciem através de vários sentidos, e que não precisem depender da receitinha ultrapassada de “símbolo e logotipo”, essa preocupação sobre chamar de “logomarca” ou não, vai ser inócua.

Prof. Ricardo Martins
Depto. de Design
Universidade Federal do Paraná

Uma análise da quantidade de faculdades de Design no Brasil

Há algum tempo eu tenho a curiosidade de saber quantas faculdades de design existem no Brasil, quais são os tipos de curso oferecidos, em quais cidades e regiões. Lendo um post no site DesignBR (obrigado Marcia Nassrallah!), eu descobri um link (http://www.educacaosuperior.inep.gov.br/funcional/busca_curso.stm) que aponta para um site do Governo Federal que tem essas informações. Eu fiz uma busca por faculdades que tivessem a palavra Design ou Desenho Industrial no nome e tirei da lista os cursos de Design de Interiores e Moda. Incluí apenas os cursos de Design Gráfico, Design de Produto, WebDesign, Design de Jogos, Design de Animação e Design de Interfaces. A listagem às vezes parece confusa, com algumas faculdades oferecendo cursos de Design e Desenho Industrial ao mesmo tempo. Eu tentei limpar a listagem final, para tornar os resultados mais confiáveis, mas os dados finais ainda não são 100% confiáveis, de modo que são apenas uma estimativa aproximada. O resultado da análise pode ser visto a seguir.

Análise

O total de cursos de Design no Brasil, segundo as estatísticas do Ministério da Educação, é de 336.

No Brasil há 100 cidades que possuem faculdades de Design, sendo que o município com a maior quantidade de cursos superiores de Design é São Paulo, com 66, seguido pelo Rio de Janeiro (19), Curitiba (18), Florianópolis (11), Salvador (9) e Belo Horizonte (9). As demais cidades, tem 8 faculdades ou menos.

Em termos de estado, São Paulo também possui a maior quantidade de faculdades que ensinam design (122 faculdades), seguido de Santa Catarina (42), Rio Grande do Sul (36), Rio de Janeiro (24), Paraná (24), Minas Gerais (16) e Pernambuco (10), para citar apenas alguns. Outros estados tem menor quantidade de instituições, como é o caso do Mato Grosso do Sul (1), Alagoas (1), Roraima (1), Sergipe (1), Rio Grande do Norte (2), Amapá (2), Paraíba (3) e Maranhão (3). Portanto nota-se que há uma grande concentração de faculdades de design no sudeste e sul do país, e poucos cursos disponíveis no Norte, Nordeste e Centro-Oeste.

No Brasil o Design (incluindo Design Gráfico e Produto juntos) é o curso de design mais ofertado pelas instituições, somando um total de 151 opções disponíveis. Em segundo lugar vem o Design Gráfico (110), seguido de Design de Produto (46), WebDesign (21), Animação (2), Design de Interfaces (1), Design de Jogos (1) e Gestão do Design (1). Visto que as interfaces digitais crescem a cada dia, seja por causa da Internet ou mesmo dos celulares, percebe-se que essa é uma área pouco atendida pelas faculdades de design no Brasil.

Se fizéssemos uma projeção por baixo, estimando que cada um dos 336 cursos formasse 40 designers por turma, teríamos um número de 13.440 profissionais formados por ano. Numa projeção média, se cada curso formasse 60 alunos, teríamos 20.000 novos designers. Para fins de comparação, os Estados Unidos formam 40.000 designers gráficos por ano e a China forma 1 milhão de designers (tanto gráfico quanto produto) nesse mesmo período.

Quando comparamos a quantidade de cursos superiores de design, com o de outras áreas, podemos perceber que temos mais faculdades de Design do que de Jornalismo, Arquitetura, Filosofia, Odontologia, Biologia, Relações Públicas e Fonoaudiologia. Mas ainda temos menos cursos do que Administração, Engenharia, Ciências Contábeis, Direito, Psicologia, Farmácia, Medicina, dentre outros (veja a tabela a seguir).

Curso

Quantidade

Administração (incluindo marketing)

3.424

Engenharia

2.023

Letras

1.309

Física

1.158

Ciências Contábeis

1.098

Direito

1.094

Matemática

899

Educação Física

844

Enfermagem

751

Turismo

714

Psicologia

585

Computação

567

Farmácia

523

Medicina

512

Fisioterapia

510

Design (incluindo moda e interiores)

463

Jornalismo

368

Arquitetura

220

Filosofia

208

Odontologia

204

Biologia

201

Relações Públicas

127

Fonoaudiologia

115

Isso gera algumas perguntas:

Porque áreas com menor quantidade de profissionais formados, como arquitetura, odontologia e fonoaudiologia já são regulamentadas?

Se formos comparar as faculdades de Design com as de Fisioterapia, formamos em ambas quase a mesma quantidade de profissionais por ano (18 mil para design, 20 mil para fisioterapia, aproximadamente). Por que os fisioterapeutas conseguiram a regulamentação, mesmo brigando com a turma da medicina (e o famoso ato médico), ou competindo com milhares de “massoterapeutas” que alegam fazer tratamentos como eles? Hoje, pela Lei Federal, para virar um paciente de posição, num leito de UTI, é preciso chamar um fisioterapeuta, pois esse tipo de manobra pode trazer danos ao paciente. Se eles conseguiram se impor até mesmo em detalhes como este, porque os designers não conseguem fazer o mesmo?

Até mesmo na área da psicologia, que pode ser considerada tão subjetiva quanto o próprio design, eles conseguiram se regulamentar e definir sua área de atuação. Porque o design não consegue o mesmo?

Gostaria de ouvir os comentários de vocês, sobre esses resultados, e trocar idéias sobre a situação em que se encontra o ensino do design no Brasil. Aqueles que tiverem interesse em receber a planilha Excel com os dados, podem me solicitar por email ([email protected]).

Não trate estudantes de design como crianças

O ser humano evolui, passando pela infância, adolescência e fase adulta. No entanto, muitas faculdades de design continuam tratando os estudantes adultos, de design, como se ainda fossem crianças, usando as mesmas técnicas didáticas que se usavam no ensino fundamental e no ensino médio. Alguns professores chegam a se orgulhar do uso de técnicas “pedagógicas”. Isso só revela sua ignorância no assunto, pois a palavra pedagogia se refere ao ensino de crianças (pedagogia vem de paidós = criança).

Nesse artigo vou abordar o tema do ensino do design, sob o ponto de vista do ensino de adultos. Para isso, irei me basear no artigo escrito pelo professor e médico Roberto Cavalcanti, fazendo alguns comentários e aplicando as informações no dia-a-dia das faculdades de design.

As características do estudante adulto de design

Segundo Malcolm Knowles*, ao contrário das crianças, o estudante de design adulto:

  • É independente (não gosta de ficar dependendo dos outros).
  • Tem experiência de vida (não é apenas um cérebro vazio esperando para ser preenchido com regrinhas de design).
  • Interessa-se em desenvolver habilidades para usar no design.
  • Quer aprender algo que possa aplicar imediatamente, no dia-a-dia de um designer.
  • Quer aprender para resolver problemas reais de design e não simplesmente “aprender por aprender”, ou porque papai mandou.
  • Tem motivações internas (auto-realização, vencer desafios, por ex.) e menos motivação externa (estudar para ganhar nota).

Sob esse ponto de vista, podem-se apontar as principais diferenças entre pedagogia (tratar estudantes de design como crianças) e andragogia (tratar como adultos), conforme a tabela a seguir:

Características da Aprendizagem Pedagogia Andragogia
Relação Professor/Aluno de Design O professor de design é o centro das ações, decide o que ensinar, como ensinar e avalia a aprendizagem A aprendizagem adquire uma característica mais centrada no aluno de design, na independência e na auto-gestão da aprendizagem. O estudante quer conduzir os rumos do seu próprio estudo.
Razões da Aprendizagem O aluno de design deve aprender o que a sociedade espera que saibam (seguindo um curriculo padronizado) Pessoas aprendem o que realmente precisam saber. Neste caso, os estudantes de design não gostam de ficar aprendendo coisas inúteis, que não sabem onde vão usar ou que não tem relação nenhuma com o design em si.
Experiência do Aluno de Design O ensino é didático, padronizado e a experiência do aluno tem pouco valor. Os alunos de design aprendem as mesmas coisas e saem todos iguais no final da faculdade. A experiência é rica fonte de aprendizagem, através da discussão e da solução de problemas em grupo. O aluno pode escolher as matérias que quer estudar, dando ênfase ao que mais lhe interessa (unindo design e música, design e mangá, design e a Bíblia etc).
Orientação da Aprendizagem Aprendizagem por assunto ou matéria. Aprendizagem baseada em problemas, exigindo ampla gama de conhecimentos para se chegar a solução. Ao invés de pedir um “trabalho sobre teoria da cor”, o professor pede que os alunos resolvam um problema da vida real, usando o conhecimento sobre cores (Qual a relação entre a cor na sinalização de um carro e a temperatura dessa uma superfície? Como a tipografia afeta a leitura de uma placa de trânsito?)

Como usar os princípios da andragogia para melhorar o ensino do design?

A seguir, são apontadas algumas sugestões que podem melhorar o ensino dos estudantes das faculdades de design, no Brasil:

Tirando proveito da Experiência Acumulada pelos Alunos. Não trate os alunos de design como se a falta de conhecimento em design significasse falta de conhecimento em tudo. Ele pode saber pouco de design, mas pode saber muito sobre cultura geral, história, quadrinhos, internet, tecnologia, religião, política. Use esse conhecimento para ajudar os alunos a criar pontes com o que já sabem e deixá-los motivados. Uma forma de fazer isso é fazendo uma pesquisa no começo do ano e perguntando ao aluno quais são os assuntos que lhe interessam, o que eles conhecem sobre outras áreas, e planeje sua aula levando isso em conta.

Propondo Problemas, Novos Conhecimentos e Situações sincronizadas com a Vida Real. Procure aplicar o design no cotidiano dos alunos, trazendo problemas reais, briefings verdadeiros, levando os alunos para a rua e mostrando como o design pode resolver problemas que eles nunca imaginaram. Por exemplo, colocar o valor da moeda dos dois lados evita que na hora de receber o troco seja preciso desvirar a moeda para saber o valor dela. Multiplique isso por cada pessoa, em cada fila, em cada caixa, no país inteiro, e veja o tempo que seria poupado (aprendi isso com o prof. Sawada). Ou ainda, a cor pode resolver um problema de contraste que impede que uma placa ser lida à distância ou uma mudança de material pode eliminar um reflexo que dificulte a visualização.

Justificando a necessidade e utilidade de cada conhecimento. Não fique enchendo linguiça ou dando conteúdo só porque “todo mundo ensina isso” ou porque “eu aprendi isso na faculdade, mesmo sem saber pra que serve, logo tenho que repetir esse conteúdo também”. Se você não sabe porque um assunto é ensinado, procure descobrir, ou então pule essa parte, pois se nem você entende para que serve aquele conceito de design, não vai haver milagre que faça seus alunos adivinharem isso. Aprenda primeiro, entenda o que você vai ensinar e daí mostre qual a utilidade desse conhecimento no dia-a-dia do designer.

Tirando proveito da Experiência Acumulada pelos Alunos. Faça os alunos de design colocarem para fora suas experiências e trocarem informações entre si, por meio de atividades práticas como discussões de grupo, exercícios de simulação, aprendizagem baseada em problemas e discussões de casos. Como o design é uma atividade multidisciplinar, ele é amplamente beneficiado de conhecimentos vindo dos alunos e de outras áreas do conhecimento. Se a aula não for planejada levando isso em conta, os alunos não terão como contribuir com o que já sabem, empobrecendo o ensino do design.

Estimulando e utilizando a Motivação Interna para o Aprendizado. Ao invés de motivar o aluno de design dizendo que se ele fizer o trabalho vai tirar uma nota mais alta, ou se não fizer, vai tirar uma nota mais baixa explore motivações mais fortes como ficar satisfeito pelo trabalho realizado, melhorar a qualidade dos projetos de design, aumentar suas chances de obter um bom emprego, conseguir clientes melhores, salários mais altos, ou mesmo maior auto-estima.

O professor Cavalcanti ainda dá outras dicas sobre como ensinar alunos adultos (adaptadas aqui para o ensino do design):

  • Estudantes de design não gostam de passar vergonha na frente de outras pessoas. Assim sendo, quando for pedir a opinião de um aluno, faça isso de modo a deixar claro que ele não será humilhado. Quando for fazer uma pergunta, não pergunte “quem sabe a resposta?”, mas sim “quem pode iniciar uma resposta?”, pois assim é menos intimidador.
  • A sala de aula de algumas faculdades de design continua com o mesmo aspecto de salas do primeiro grau, ou seja, em fileiras. O ensino de adultos depende da discussão em pequenos grupos, e isso sugere uma forma diferente para dispor as cadeiras e mesas, ou seja, em pequenos grupos, ou em círculos.
  • O Professor de design nunca deverá dizer que a resposta de um adulto está errada. Cada resposta sempre terá alguma ponta de verdade que deve ser trabalhada. O professor deverá se desculpar pela pergunta pouco clara e refazê-la de modo a aproveitar a parte correta da resposta anterior. Fará então novas perguntas a outros estudantes, de modo a correlacionar as respostas até obter a informação completa.
  • Adultos de design podem se concentrar numa explanação teórica durante 07 minutos. Depois disso, a atenção se dispersa. Este período deverá ser usados pelo Professor para estabelecer os objetivos e a importância do assunto a ser discutido, enfatizar o valor deste conhecimento e dizer o quanto sente-se motivado a discutí-lo. Vencidos os 07 minutos, é tempo de iniciar uma discussão ou outra atividade, de modo a diversificar o método e conseguir de volta a atenção. Estas alternâncias podem tomar até 30% do tempo de uma aula teórica de design, porém permitem quadruplicar o volume de informações assimiladas pelos estudantes.

O professor Cavalcanti afirma ainda que

“nos Cursos Universitários, geralmente recebemos adolescentes como calouros e liberamos adultos como bacharelandos. Estamos portanto trabalhando no terreno limítrofe entre a pedagogia e andragogia. Não podemos abandonar os métodos clássicos, de curriculos parcialmente estabelecidos e professores que orientem e guiem seus alunos, nem podemos, por outro lado, tolher o amadurecimento de nossos estudantes através da imposição de um curriculo rígido, que não valorize suas iniciativas, suas individualidades, seus ritmos particulares de aprendizado. Precisamos encontrar um meio termo, onde as características positivas da Pedagogia sejam preservadas e as inovações eficientes da Andragogia sejam introduzidas para melhorar o resultado do Processo Educacional.”

Se os professores de design, no Brasil, continuarem a achar que o modo de ensinar é o mesmo método pedagógico que foi usado com eles, enquanto eram alunos do primeiro e segundo grau, teremos muitos designers aprendendo pouco, sem motivação e sem fazer pontes com o que já conhecem. Pior ainda, vão se tornar profissionais medíocres, ganhando salários medíocres, sem conquistar o respeito que o design merece no Brasil. E com isso, todo mundo sai perdendo. Mas, se mais professores entenderem que o ensino de adultos é diferente, e levarem isso em conta na hora de planejar suas aulas, teremos a chance de evoluir o ensino do design no Brasil, com efeitos diretos na qualidade projetual, tanto a curto, médio e longo prazo. E todo mundo vai sair ganhando.

Cavalcanti, R. ANDRAGOGIA: A APRENDIZAGEM NOS ADULTOS. Revista de Clínica Cirúrgica da Paraíba, Nº 6, Ano 4

* Para quem se interessar pelo tema da Andragogia, poderá ler o livro “The Adult Learner – A Neglected Species” (1973), de Malcolm Knowles. O termo “andragogia” refere-se ao ensino de adultos, levando em conta suas diferenças em relação às crianças.

Reflexões sobre o projeto gráfico de jornais impressos

1. Qual a importância do projeto gráfico?

Falar da importância do projeto gráfico é o mesmo que falar da importância da linguagem, ou seja, é imprescindível. Não se pode imaginar a comunicação visual sem o uso da linguagem para poder expressar as mensagens. A linguagem visual, assim como a verbal, é composta de elementos (formas, cores, tipografia) e de uma sintaxe (convenções que definem como arranjar os elementos entre si, de forma a gerar um discurso compreensível numa cultura). Pode-se dizer que o projeto gráfico é o conjunto de decisões conscientes que tem visam organizar os elementos visuais, dentro de um suporte adequado, usando uma retórica voltada para atingir um objetivo de comunicação, levando em conta o ponto de vista de quem emite a mensagem, e do leitor. Sem um projeto gráfico, a possibilidade de atingir um objetivo comunicacional ficaria dependendo exclusivamente da sorte, do acaso, e isso diminuiria muito as chances de êxito.

Uma curiosidade é que até o início do século 20, a tarefa de comunicar dependia exclusivamente do texto em si, independentemente da apresentação visual. Mas a partir de 1925, com o movimento Nova Tipografia (New Typography), isso mudou e percebeu-se que o aumento crescente da complexidade da informação exigia novas maneiras de apresentá-la. Essa apresentação passou a se dar através do design da informação, que procurou encontrar maneiras de transformar uma mensagem complexa em algo simples. Desde então, esse tipo de design se tornou um dos pilares que sustenta um projeto gráfico (o outro pilar é o design da identidade visual).

2. Como utilizar o projeto gráfico num jornal, para chamar a atenção do leitor?

Vale a pena lembrar que, em alguns casos, o projeto gráfico não deve chamar a atenção para si e sim para o conteúdo verbal. Já em outros casos, os elementos não-verbais podem e devem ser protagonistas da mensagem, como no caso de um infográfico, que informa não através de texto apenas, mas usando elementos visuais e suas relações, para informar, explicar ou persuadir. Logo, um projeto gráfico bem-sucedido procura equilibrar essas diferentes abordagens, usando o que cada uma delas tem de melhor, seja para chamar a atenção para si, ou para atuar em silêncio, dando destaque ao conteúdo textual.

É importante dizer que chamar a atenção e suscitar o interesse do leitor depende de muitos outros fatores, além do projeto gráfico em si. Seria inocência afirmar que um projeto gráfico consegue chamar a atenção de todas as pessoas, pois isso implicaria em dizer que as pessoas são iguais e funcionam como máquinas automáticas que respondem do mesmo jeito, ao mesmo estímulo.

3. O que deve se levar em conta para formular a diagramação de um jornal?

O que define a melhor abordagem é o objetivo da mensagem, o tipo de conteúdo e as características do leitor. Portanto, não há um regra rígida que diga como se deve fazer um projeto gráfico, pois cada caso é um caso. A diagramação de uma página é o resultado de um planejamento que envolve diferentes pessoas, como o editor do conteúdo, o redator, o designer gráfico, o fotógrafo e o leitor. Quando um designer tenta forçar um modelo de página que desconsidera essas outras pessoas, aumenta a chance de conflitos e diminui a chance de êxito na comunicação. É o respeito a todas essas funções que cria páginas únicas, funcionais, interessantes, compreensíveis e, o mais importante, relevantes.

No que diz respeito às decisões específicas do designer gráfico, algumas perguntas que devem ser respondidas antes de projetar uma página são:

  • Qual o conteúdo que deverá ser apresentado?
  • De que partes/segmentos esse conteúdo é feito? Como eles se relacionam/agrupam entre si?
  • Quais partes são mais importantes e quais são secundárias?
  • O tipo de conteúdo exige a presença de um infográfico? Quem irá produzir esse infográfico?
  • Quanto tempo está disponível para produzir o material solicitado?
  • Que tipo de expectativas o leitor possui sobre este assunto?
  • Qual o conhecimento prévio do leitor sobre a matéria?
  • Como as demais editorias/páginas do jornal já estão abordando o tema? O conteúdo faz parte de uma sequência? Ele irá ser apresentado de uma única vez ou aos poucos, periodicamente?
  • Que tipo de equipamento/software está disponível para produzir esse layout?
  • O projeto deverá ser feito em equipe? Quais pessoas vão fazer parte dela?
  • Como o material será reproduzido? Ele terá uma versão digital ou on-line?

Essas são apenas algumas questões, mas que já fornecem subsídios para as decisões sobre o projeto gráfico em si.

4. Qual o cenário do projeto gráfico de jornais no Brasil?

Exceto pelos grandes jornais das capitais, que foram influenciados por jornais estrangeiros, o projeto gráfico ainda é uma área do conhecimento pouco explorada pelos jornais brasileiros. Principalmente nas cidades do interior, o projeto gráfico ainda é visto como um “mal necessário”, uma prática que tem mais uma função técnica de produção do que de comunicação. Isso reflete a formação deficiente dos jornalistas que ora trabalham, ora conduzem esses jornais. Reflete também a reduzida oferta de cursos de design gráfico voltados para os meios editoriais, o que faz com que haja menos profissionais disponíveis para executar essa função, colocando essa tarefa na mãos de pessoas despreparadas.

É importante dizer que, quando eu me refiro a “projeto gráfico”, eu estou falando de design gráfico associado a design da informação e design da identidade visual. Algumas pessoas podem utilizar um software gráfico e organizar visualmente os conteúdos (matérias, anúncios, fotografias) numa página, chamando isso de “projeto”. Mas, isso não é um projeto gráfico em si, na medida em que não é fruto de decisões informadas sobre como organizar adequadamente o conteúdo, levando em conta aspectos formais, funcionais, metódicos e simbólicos. Muitos podem se orgulhar ao dizer que fazem projeto gráfico, já que o resultado final parece ser o mesmo: uma página com todo o conteúdo exigido, impressa e distribuída para os leitores. A diferença entre um projeto amador e profissional aparece com força não apenas no layout final impresso: ele se faz notar nos problemas dos bastidores, no jeito confuso como funciona o departamento de redação, nos resultados finais de venda, na dificuldade de leitura dos leitores e na consequente imagem negativa percebida. Enquanto um jornal não perceber essas diferenças, o projeto gráfico-editorial no Brasil ainda terá muito o que melhorar.

Como Designers Podem Mudar o Mundo

do-good-design1

Dia 2 de janeiro de 2009, a editora Peachpit anunciou a publicação do livro “Do Good Design: How Designers Can Change the World (Faça Bom Design: Como Designers Podem Mudar o Mundo)”, um livro provocativo que explica como as maiores crises que estamos enfrentando hoje tem o design no centro do problema.

Os designers criam muito do que nós vemos, usamos e experimentamos. Como o design ajuda a escolher um presidente? Por que as pessoas estão comprando casas que não podem pagar? Porque os fabricantes de automóveis estão se debatendo numa competição? Porque estamos tendo uma crise ambiental? O Design importa. Como nunca antes.

Faça Bom Design é um convite para a ação: Ele alerta os designers sobre o papel que eles desempenham no convencimento dos públicos ao redor do mundo sobre a satisfação das necessidades que são inventadas. David Berman descreve uma abordagem mais sustentável tanto para a prática quanto para o consumo do design. Todos os profissionais podem se inspirar nessa mensagem seobre como uma indústria pode se sentir melhor sobre si mesma por se agarrar aos seus princípios. Hoje, todo mundo é um designer. E o futuro da civilização é nosso projeto em comum de design.

O livro pode ser comprado na livraria online da Amazon.

(Texto retirado e traduzido do informativo Icograda)

Discussões sobre o termo “logomarca” são perda de tempo? Podem ser.

O nome pode ter um papel importante, quando se trata de um diálogo entre 2 designers, 2 médicos, 2 advogados, que se sentem mais confortáveis ao perceberem que falam das mesmas coisas, pois usam os mesmos termos. É frustrante quando um designer diz “logo”, outro diz “logomarca”, outro diz “símbolo gráfico”, outro diz “marca gráfica”, outro diz “icotipo”, outro diz “desenho”, quando no fundo todos querem falar dos elementos de expressão visual da marca.

Quando se discutem termos de design com clientes e leigos no assunto, isso não é muito produtivo. Questionar o uso do termo “logomarca”, é desperdício de energia, enquanto outros problemas no processo de construção da identidade visual passam desapercebidos. Sim, você pode ensinar para o seu cliente o uso corrente dos termos de design, mas desde que tenha se ocupado em tratar das coisas mais importantes primeiro (“first things first”).

O que eu vejo é muita gente debatendo o uso da expressão “logomarca”, enquanto outras perguntas mais importantes continuam sem resposta. Debater sobre nomes antes de questionar os aspectos essenciais na construção da identidade, é o mesmo que coar o mosquito e engolir o camelo. Ou seja, ficamos nos preocupando com assuntos pequenos, enquanto coisas mais importantes, que merecem consideração, passam batido. Dentre essas questões estão:

  • Qual a forma mais adequada de se refletir visualmente os atributos e a personalidade da marca?
  • De que maneiras é possível expressar visualmente a identidade da marca sem precisar usar o símbolo ou logotipo em tudo?
  • Como evitar a identidade “carimbo”, onde um símbolo gráfico é aplicado em todos os pontos de contato e impacto de marca?
  • Como medir o impacto da identidade visual na formação do patrimônio de marca (brand equity)?
  • É possível generalizar o resultado/efeito de um programa de identidade para diferentes clientes do mesmo segmento?

Outra razão pela qual a discussão sobre termos de design com leigos é inócua, pode ser exemplificada na medicina. Nós não vemos médicos corrigindo pacientes que dizem “dor de cabeça”, ao invés de cefaléia, ou corrigindo pessoas que dizem “pomadinha”, ao invés de “agente tópico”, por mais apropriado que seja, do ponto de vista médico. As pessoas querem saber dos resultados efetivos dos remédios que tomam, independente dos nomes que são utilizados pra descrever o seu problema ou solução. Falando da importância relativa dos nomes, Shakespeare disse: “Nomes não são importantes: mesmo que rosas que não se chamassem rosas, ainda exalariam o mesmo perfume.” Obviamente, isso não é uma regra geral, mas indica que a prioridade está nos resultados, que às vezes ficam de lado, diante de questionamentos sobre o nome das coisas.

Se você entra nesses debates sobre “logomarca”, pergunte a si mesmo se já discutiu temas mais importantes como maneiras de melhorar o processo de desenvolvimento da identidade, como fazer um levantamento da realidade institucional do cliente, como fazer um raio-x adequado dos problemas de identidade/imagem/reputação, como documentar melhor um sistema de identidade e educar funcionários a obedecer esse sistema no dia-a-dia etc. Gastar energia com essas questões é uma forma mais produtiva de contribuir para o amadurecimento do design e consequente aumento do respeito por parte dos clientes e da sociedade.

Quando o design é feito adequadamente, desaparecem os designers, os termos e jargões técnicos, os processos. Ficam os resultados positivos, os bons relacionamentos com os clientes, o respeito e a admiração mútua.

Designers: como ajudar os que sofrem com as enchentes, em Santa Catarina?

De que maneira os designers gráficos poderiam ajudar as pessoas que estão sofrendo com as enchentes em Santa Catarina? Que pequenos ou grandes gestos os designers gráficos poderiam realizar, colocando em prática suas competências e habilidades, para ajudar nossos vizinhos de estado? 

Ou será que temos mesmo de assistir tudo em silêncio? Será que os designers podem ajudar de alguma forma?

Você que mora em Santa Catarina, ou conhece pessoas de lá, e a situação pela qual eles estão passando, pode nos dar algum sinal de como podemos ser úteis?

É a primeira vez que vejo uma calamidade desse nível acontecendo, de modo que me sinto congelado, imóvel, sem saber por onde começar, para ajudar. Eu me pergunto: será que o design gráfico é tão supérfluo a ponto de não servir pra nada nessas horas?

Gostaria de ouvir o que vocês tem a dizer.

Sinceramente,

Ricardo Martins

Quero ser diretor de arte. Devo cursar Design Gráfico ou Comunicação Social?


Tanto propaganda, quanto jornalismo, quanto design gráfico, quanto relações públicas, quanto artes cênicas, quanto artes plásticas, e quanto outro montão de áreas, são da área da comunicação. Podemos dizer que temos a

  • comunicação escrita,
  • comunicação ilustrada,
  • comunicação falada,
  • comunicação em grupo,
  • comunicação em massa,
  • comunicação consigo mesmo,
  • comunicação por ação,
  • comunicação impressa,
  • comunicação química,
  • comunicação pelo tato,
  • comunicação por símbolos,
  • comunicação por sons,
  • comunicação por cultura material,
  • comunicação por imagens,
  • comunicação pelas artes
  • etc
  • etc
  • etc

Se você é jornalista, deve ter estudado Teoria da Comunicação, e deve ter aprendido que diferentes áreas dão diferentes enfoques ao que se entende como comunicação. Uma coisa é certa: comunicação é condição para que exista a sociedade, comunicação dá dinheiro e comunicação todo mundo quer fazer.

Os meios como podemos comunicar, o tipo de mensagens que enviamos, o código utilizado, a escolha do conteúdo, o tratamento dado à mensagem, e assim por diante, mudam de área pra área.

O que diferencia o design gráfico de outras áreas, é o enfoque visual dado à comunicação e não apenas o verbal. Tanto o jornalismo, a propaganda e o design gráfico se aproximam, quando se trata da preocupação com a apresentação visual da informação. Isso gera esse tipo de disputa, onde um acha que tem mais direito ou primazia no tratamento visual da mensagem. Alguns profissionais formados nas faculdades de comunicação social querem ser diretores de arte. Os designers gráficos também. Quem deve ser responsável pela comunicação visual, dentro de uma agência de comunicação?

Eu defendo que você pode cuidar da apresentação visual, independente da sua profissão. Você pode ser pipoqueiro, cuspidor de fogo, publicitário, médico ou advogado e pode emitir mensagens visuais desde que você tenha competência pra isso. E a competência para emitir esse tipo de mensagem depende de alguns requisitos, dentre eles:

Conhecimento fundamental sobre

  • objetivos de comunicação
  • emissores de mensagem (incluindo suas habilidades de comunicação, atitudes, nível de conhecimento, posição no sistema social e no contexto cultural)
  • receptores da mensagem (idem acima)
  • canais utilizados
  • mensagem (elementos e estrutura do código visual, conteúdo, tratamento visual da mensagem)
  • codificação e decodificação de mensagens através da percepção visual
  • processos de previsão da reação comportamental à mensagem visual, usando empatia, papéis sociais e contexto cultural
  • processos de interpretação de mensagens visuais e seus condicionantes culturais (semiótica)
  • técnica de representação visual (por meio de computadores, softwares gráficos ou por outros instrumentos)
  • técnicas de produção gráfica

Dentro do conhecimento fundamental sobre a mensagem, podemos alistar também conhecimentos sobre

  • elementos visuais (ponto, linha, plano, formas, cor, tipografia, texturas, padrões, imagens de toda natureza)
  • princípios de composição (unidade, ritmo, harmonia, escala, proporção, equilíbrio, figura/fundo, enquadramento, hierarquia, modularidade, grid, diagramas, tempo)

Quando possível, é desejável que também tenha conhecimentos sobre

  • história da arte e da comunicação por imagens
  • antropologia cultural
  • sistemas de informação visual
  • imagem sequenciada
  • desenho e ilustração
  • interação humano-computador
  • mercadologia

Se uma pessoa tem essas competências, ela tem toda liberdade pra emitir mensagens visuais e até participar de um concurso público que exija esse tipo de habilidade.

Então, qual a diferença entre um curso de publicidade/propaganda e um curso de design, se nos 2 cursos, as competências “fundamentais” são ensinadas? A diferença principal é o tempo. Numa faculdade de publicidade (tomando a Universidade Federal do Paraná como exemplo), os alunos tem 2 disciplinas para aprender sobre elementos visuais e princípios de composição. Isso significa 180 horas no total (4 créditos de 45 horas). No curso de design gráfico, da UFPR, os alunos gastam 1260 horas (28 créditos de 45 horas) para aprender esse mesmo conteúdo, podendo se dedicar a ele com mais profundidade e detalhe.

Em compensação, o curso de Publicidade tem conteúdos que o design gráfico não tem, como

  • Sociologia,
  • Filosofia,
  • História Contemporânea,
  • História da Mídia,
  • Sociedade e Cultura,
  • Comunicação e Tecnologia,
  • Planejamento em Comunicação e Marketing, Comunicação Integrada,
  • Introdução à Publicidade e Propaganda
  • Psicologia do Consumidor
  • Língua Portuguesa I
  • Redação Publicitária
  • Produção Publicitária em TV, Áudio e Cinema
  • Técnicas de Veiculação (Mídia)
  • Técnicas Básicas de TV

Como pode se notar, esses conteúdos são essenciais para um publicitário, mas no que diz respeito à construção de mensagens visuais gráficas, eles não são suficientes. Como algumas pessoas preferem trabalhar como diretores de arte, pode ser necessário complementar a faculdade de publicidade com um curso de design, ou estudando como auto-didata.

E o contrário também pode acontecer: um profissional formado em design gráfico, que queira trabalhar em agência de propaganda, também pode precisar estudar conteúdos que são dados em faculdades de comunicação social, para entender a relação entre as mensagens visuais e os demais fatores da comunicação, como contexto cultural, objetivos, suporte/mídia, atitude, conhecimento e habilidade do receptor etc.

Essa comparação que eu fiz, foi baseada na realidade da UFPR, universidade da qual faço parte. Se vocês conhecerem outras realidades, e quiserem contribuir para a discussão, fiquem à vontade, seria legal ter outros pontos de vista, mesmo discordantes, pra crescermos juntos =)

Ricardo Martins

Retoque Mágico de Fotografias!

Para quem gosta de enfrentar desafios no retoque digital de imagens, aí vao uns brinquedinhos interessantes: Retouch Pilot (para tirar partes indesejadas – cuidado com o umbigo da moça!), Wire Pilot (tire fios de energia elétrica e postes das suas imagens), My Perfect Picture (faça imagens de rostos ficarem perfeitas) e Akvis Retoucher (para ajudar a recuperar fotos antigas, com menos esforço). Se você estiver atrás de algum outro programa para design, e não souber onde encontrar, deixe um comentário no final deste post, e quem sabe acharemos pra você. =)

Retouch Pilot

Elimine partes indesejadas!

Para quem precisa eliminar partes indesejadas das imagens com um pincel super poderoso, o Retouch Pilot é a solução. Usando inteligência artificial, ele detecta elementos fora de padrão e ajuda a removê-los por meio de retoque manual.

Clique aqui para baixar.

Wire Pilot

Eliminador de fios Tabajara!

Para quem já precisou apagar fios de energia elétrica ou postes, carros e qualquer coisa que atrapalhasse a beleza das fotos, sabe como é chato ficar com o carimbo no Photoshop, copiando e colando partes da foto para fazer desaparecer esses ruídos visuais. Seus problemas acabaram! Com o removedor de fios Tabajara, você pode fazer isso com muito mais facilidade, sem precisar pagar muito mais por isso =)

Clique aqui para baixar.

My Perfect Picture

Um embelezador de rostos quase instantâneo!

Também utilizando inteligência artificial, este plugin consegue reconhecer imagens problemáticas de rostos, e faz ajustes em apenas alguns segundos. Para quem precisa de correções simples, e lida com muitas imagens, é uma boa pedida. Ele ajusta a pele, a iluminação, tira sardas, corrige deformações na geometria da face, retira olhos vermelhos, branqueia os dentes, enfim, faz uma verdadeira escultura em cima do rosto!

Clique aqui para baixar a versão demo.

Akvis Retoucher

Restaure fotos danificadas num passe de mágica!

Este plugin para Photoshop permite que você restaure fotos antigas ou danificadas, bastando que você indique as áreas problemáticas. O programa faz o resto pra você, praticamente sozinho. Ficam restando apenas alguns retoques mínimos, mas que podem ser feitos no Photoshop. Na página do programa você pode ver um tutorial explicando como isso é feito.

Clique aqui para baixar.

“Identidade visual” da Azul – O Retorno: é pior do que parece

Parecia impossível, mas a “tentativa de identidade visual” da Azul Linhas Aéreas tem uma história pior do que se podia imaginar. O “designer-diretor-de-arte-redator-especialista-em-branding-e-tambem-em-marketing” Gianfranco Beting, nas palavras dele, puxou “um trabalho que tinha feito já há mais de três anos, quando trabalhava na agência DM9DDB”. Ou seja, pegou a “tentativa de identidade visual” feita pra uma companhia aérea que ia se chamar “Samba”, deu uma requentada e re-apresentou pra Azul! Confiram a tentativa de identidade original aqui (preste atenção no mapa colorido, ele já existia há três anos!)

Pra quem está curioso pra saber todos os bastidores dessa história, pode ler a própria versão do Beting no site dele. Clique nesse link e, quando abrir a página, escolha o item no menu à direita, chamado “Azul: bastidores do branding da empresa”.

O resultado final é o fraco projeto de identidade que irá se manifestar nos novos aviões da Azul Linhas Aéreas. Meio samba, meio azul, solução pela metade. Talvez nem metade.

Novidades do Adobe Illustrator CS4

Para quem gosta de trabalhar com o Adobe Illustrator e está curioso para saber quais são as novidades da versão CS4, estou colocando aqui as 15 principais melhorias. Algumas delas são recursos totalmente novos, outras são pequenos avanços em recursos que já existiam, mas que vão fazer toda a diferença no dia-a-dia do designer gráfico. Confira!

1.       Várias pranchas de trabalho. Nossas preces foram atendidas! O Illustrator era conhecido como o programa chato que não trabalhava com várias páginas. Agora no Illustrator é possível trabalhar com várias pranchas de projeto (artboards), como se fossem várias páginas no mesmo arquivo. Mas a novidade não pára por aí. Agora é possível fazer com que cada página tenha um tamanho diferente, ou seja, você pode montar um projeto de papelaria no mesmo arquivo, com uma prancha no tamanho de um cartão de visita, outra para o papel de carta, outra pro envelope etc. Qual a vantagem disso? Você pode exportar seu trabalho como um PDF com páginas diferentes e montar uma apresentação pro seu cliente ou mesmo um portfolio com seus melhores trabalhos! Ou apenas se exibir pros seus amigos que usam Coreldraw =) Além disso, agora o Illustrator aceita marcação de sangria nas pranchas (não, não se trata de assassinar ninguém, isso não tem nada a ver com sangue rsrs).

2.       Pincel Blob. Agora você pode pintar no Illustrator com um pincel que espalha “tinta”, mas em formato vetorial. Usando um tablet (que não é de chocolate), você pode espalhar mais ou menos tinta de acordo com a pressão da caneta. E também pode apagar, girando a caneta do tablet ao contrário. Se você não sabe o que é um tablet, saia da pré-história e descubra o que é isso.

3.       Interface comum. Os programas da Adobe (Illustrator, Photoshop, Indesign, After Effects, Flash, Dreamweaver etc.) tem uma nova interface melhorada, que tira proveito de dois monitores e mostra vários arquivos como se fossem “abas” (assim como já acontecia no Flash). Ninguém vai precisar mais adivinhar qual o nome dos arquivos que estão abertos e isso é uma mão na roda.

4.       Degradês. Santa comemoração, Batman! Finalmente é possível editar degradês diretamente no objeto, acrescentando cores, movendo os pontos de transição e colocando transparência em pontos do degradê. A transparência no degradê já existia no Coreldraw, mas no Illustrator há uma diferença: ela não é promessa de campanha e nem faz sua impressora levar 10 anos pra imprimir um simples desenhinho.

5.       Máscaras de recorte (Clipping Masks). Antes, fazer uma máscara (como o Powerclip do Coreldraw) era complicado. Sim, você me ouviu dizer que o Coreldraw era superior nisso. Mesmo quando o objeto estava “embutido” numa máscara, ainda era possível selecionar as partes invisíveis. Isso pode ser interessante em alguns casos, mas se torna um problema quando tudo que você quer NÃO É selecionar a parte invisível. Isso me dava nos nervos e me fazia perguntar “o que será que eu fiz de mal pra Adobe”. Agora finalmente o comportamento é similar ao Coreldraw. Você pode entrar e sair da forma que contém os objetos embutidos, como acontece no Flash, quando se pede pra editar um símbolo ou movie-clip. A Adobe tem dessas coisas mesmo. Às vezes demora mais que a concorrência pra colocar um recurso, mas quando coloca, bota pra quebrar. Aconteceu isso com as camadas. Em 1994, já haviam programas que permitiam o uso de camadas, mas eram lentos e viviam dando pau. A Adobe só lançou o recurso em 1996, na versão 3.0, mas era mil vezes melhor do que a concorrência. Ou seja, demora, mas vale a pena esperar!

6.       Painel Appearance (Aparência). Agora as palhetas se chamam “painéis”. Esse painel é o coração do Illustrator. Ele centraliza todas as informações sobre o objeto (como cor de preenchimento, contorno, efeitos, características tipográficas etc). Com esse painel é possível adicionar mais contornos ao objeto, sobrepor um preenchimento em cima de outro, tudo sem precisar de NOVOS objetos. Agora no CS4 é possível editar as características dentro do próprio painel. Se você não sabe o poder disso, nem tente descobrir. Você pode gostar, e daí, bye bye Coreldraw…

7.       Estilos Gráficos. Depois de criar uma “aparência” no painel Appearance é possível gravá-la como um estilo gráfico (Graphic Style). Na nova versão, podem-se aplicar estilos gráficos diferentes no mesmo objeto, sem anular o estilo anterior. Assim podem-se criar estilos para adicionar apenas um drop shadow ou ajustar a transparência, sem destruir os estilos que já estavam aplicados anteriormente.

8.       Guias Inteligentes (Smart Guides). Agora as Guias não enchem mais a paciência no Illustrator. Elas ficaram espertinhas e só aparecem na hora certa (e não na página inteira). Quando um objeto é girado, o ângulo também aparece do lado.

9.       Comportamento de Grude (Snap Behavior). Antes, apenas o cursor colava em outros objetos. A partir da versão CS4, os limites do objeto também “grudam” em outros objetos facilmente. Pra entender como isso funciona, imagine que os objetos agora são magnéticos e quando um se aproxima do outro, eles encostam bem juntinho um do outro, numa linda cena de amor. Mas só se você quiser. =)

10.   Pathfinder. Não é mais preciso expandir um objeto depois de “soldar, aparar” ou fazer outras operações nesse painel. Se você quiser que o objeto continue editável, sem ser expandido, basta clicar com ALT nos botões. Antes, isso era ao contrário. Mas, atendendo a pedidos, agora não precisa mais expandir nada depois. Pra quem não sabe o que é “expandir” um objeto, imagine algo parecido com o “Converter para Curvas”, do Coreldraw. Agora imagine uma coisa que funcione e também resolva um monte de problemas pra você. Pronto, você sabe o que é o comando “expandir” do Illustrator agora.

11.   Text on path. A partir da versão CS, o sistema tipográfico do Illustrator foi reconstruído e ficou muito mais rápido. No entanto, a partir daí, quando um texto era colocado num path, o espaçamento entre as letras ficava tosco. Agora ele ficou melhor (e quem vai adorar isso é quem faz mapas, onde os textos seguem curvas de rios, por exemplo).

12.   Filter menu. O menu Filter foi pro espaço. As opções que estavam ali foram recolocadas em outros menus e o comando Crop Marks agora está no menu Effects.

13.   Separation Preview. Agora é possível conferir as separações de cores CMYK e Pantone direto na tela do Illustrator. O Corel já fazia isso, é verdade, mas era em outra janela, e isso não servia pra muita coisa, já que não era possível prever o comportamento da soma de duas ou mais tintas, ao mesmo tempo. Assim como no Photoshop e InDesign, no Illustrator isso também será possível, e irá economizar nosso rico dinheirinho, quando descobrirmos que nosso layout “tá pra lá de bão” sem a tinta ciano. Só o pessoal das gráficas é que não vai ficar feliz. 

14.   Simulação de cegueira cromática (color blindness). Esse recurso é genial. Com ele é possível simular como uma pessoa com daltonismo (ou outras limitações visuais) veria as cores do seu layout. Isso é útil para quem projeta sites de internet ou mesmo sinalização. A cegueira para cores é um assunto sério, já que 7% dos americanos sofre desse tipo de problema.

15.   ConnectNow. Nos programas da Adobe agora é possível compartilhar a tela do programa com outros. Digamos que você quer mostrar o resultado de um layout para um cliente, ou quer pedir a opinião para outro designer. Com esse recurso, basta enviar um convite pra outra pessoa e ela irá ver no computador dela o que está aparecendo no seu Illustrator. Se você tiver uma conexão rápida o suficiente, você vai poder até deixar alguém mexer no seu layout, via Internet! Uau! Fenfafional! (Não conte isso pra todos os clientes! Alguns podem querer brincar no seu brinquedinho novo rs).

Se você quiser saber mais sobre as novidades do Illustrator e dos outros programas da coleção Creative Suite 4, visite o link da Adobe. =)

Identidade Visual da Azul: Resultado dos 7 erros

A Azul Linhas Aéreas Brasileiras vem para mexer no setor de aviação civil e esquentar a briga entre as poucas operadoras existentes no Brasil. A princípio, isso é uma notícia boa, quando lembramos o estágio em que se encontra a qualidade dos serviços de transporte aéreo nacional. A empresa promete elevar o nível do atendimento, oferecendo vôos sem escalas pra muitas cidades não atendidas, colocando TV em todos os assentos e até quem sabe oferecendo algo melhor do que amendoim, pra quem paga R$ 300  por uma passagem. O nome Azul é simpático, simples, foi escolhido por votação popular e abre um leque muito amplo de possibilidades de exploração visual do conceito, tal qual foi feito pela operadora de celular Orange, na Inglaterra.

Depois de conhecer o nome, fiquei esperançoso de que a Azul fizesse algo melhor do que a concorrência tem feito, em termos de expressão visual de marca. Quando vi o resultado, fiquei da mesma cor da empresa: azul. Depois amarelo. Depois vermelho. Nunca uma identidade visual provocou tantas sensações coloridas em mim. Azul de passividade. Amarelo de enjôo. Vermelho de vergonha. Como uma empresa que se propõe ser moderna, honrar nosso país e aumentar o nível da aviação faz ISSO?

A seguir, coloco as 7 razões que justificam minha reação. Elas se baseiam no texto que está no site da companhia, na seção Imagem Corporativa (sic).

Erro nº 1: “A criação é de Gianfranco Beting, diretor de marketing da Azul.”

Começamos muito bem, com um diretor de marketing assumindo a tarefa de fazer um sistema de identidade visual (SIV). Na verdade não apenas diretor de marketing, mas um diretor-de-marketing-de-arte-arquiteto-faz-tudo. Não estou querendo dizer que somente designers podem fazer esse tipo de tarefa. Se um pipoqueiro, um cuspidor de fogo, um jornalista, um médico quiser fazer esse sistema, ele pode fazê-lo. Qualquer um pode, desde que tenha as “competências” para isso. E, amigos, as competências para construir um SIV não são poucas. Construir e eleger elementos de marca que sejam memoráveis e atraentes, tenham significado, sejam transferíveis e adaptáveis, possam ser protegidos legalmente, tenham resistência à aplicação em diferentes pontos de contato e impacto, atendam exigências ergonômicas etc., não é nada fácil. É um quebra-cabeças difícil. E não é daqueles para crianças de 3 anos. É para gente grande, com maturidade suficiente para combinar as peças nos lugares certos, sem afetar as que já estão posicionadas. 

Um diretor de marketing é uma peça essencial no processo, assim como a alta cúpula de empresa, visto que eles conhecem muito bem a natureza do negócio, sua posição atual, seu direcionamento, valores e crenças, enfim, aquilo que compõe a sua essência. Mas seu papel termina aí. Começar a projetar SIVs exige mais do que boa vontade e conhecimento administrativo, exige habilidades projetuais, que incluem a manipulação e gestão de recursos visuais, algo que não está ao alcance de quem não foi preparado pra isso. O diretor de marketing da companhia aérea Azul, que também já foi diretor de arte, deveria ser o primeiro a delegar essa tarefa para equipes de especialistas no assunto. O que acharia um diretor de marketing ao ver um designer tentando fazer estratégias de marketing, sem ter competência para isso?

Erro nº 2: “Este mapa “pixelizado” é a peça central da imagem corporativa.”

Quem conhece gestão de marcas sabe muito bem que imagens não são construídas ou controladas pela empresa, de modo que ninguém pode afirmar que a imagem será isso ou aquilo. O que é passível de ser controlado é a identidade, que é um conceito de emissão. A imagem é um conceito de recepção, e como tal não pode ser controlada, mas apenas influenciada. Essa imagem é como um quebra-cabeças que será formado com muitas das peças que a identidade fornecer. Se forem escolhidas as peças certas, a imagem formada poderá ser parecida com aquela que a empresa deseja. Mas não há como prever que imagem irá surgir, pois as peças vêm de muitos lugares, não apenas da identidade.

Erro nº 3: “A logomarca escolhida homenageia nosso país.”

Os erros presentes nessa frase vão desde o uso de expressões vagas como “logomarca”, que nada dizem, a problemas sutis de significado, como achar que identidade visual é um desenho. Ao invés de construir o sistema de identidade baseando-se primeiro no DNA da marca, depois na linguagem e estilo corporativo e por fim no código visual, o processo todo girou ao redor de “logomarcas” poderosas que definiriam um dos ativos mais importantes da empresa, que é sua identidade. Esse é um erro primário, de quem desconhece o papel vital de um sistema de identidade visual na formação de brand equity.

Além de demonstrar falta de conhecimento sobre princípios de construção de identidade, essa frase esconde uma premissa questionável: que vontade louca é essa de “homenagear” nosso país, vinda de um estrangeiro? Posso encarar isso como sendo sincero? Um empresário americano pode vir aqui, montar uma companhia aérea, estimular a competição no setor, preencher uma lacuna de mercado (viagens diretas entre cidades), enfim, tudo isso pode ser ótimo e representar um avanço na infra-estrutura do país. Mas agora dizer que a empresa Azul tem intenções nobres e sinceras de homenagear o Brasil, já é demais. Como vamos acreditar que um empresário estrangeiro norte-americano veio de longe pra homenagear o país dos outros? Santa inocência hein! O objetivo dessa empresa é o lucro em primeiro lugar, e esse papo de homenagem é apenas para criar simpatia nos brasileiros, para que eles enxerguem com bons olhos tudo que a Azul Linhas Aéreas faz.

Erro nº 4: “O uso intensivo da cor, aliado a traços modernos, aponta para nossa visão deste País no futuro: moderno, vibrante, inserido num contexto global, mas sem perder sua exuberância e alegria, traços marcantes de nossa nação.

Traços modernos? Vamos acordar hein! Aí tem de tudo, menos traços modernos, tio. Essa abordagem de quadradinhos é o que eu conheço como síndrome de Coreldraw, onde tudo fica com cara de quadradinho, retângulo, bolinha e círculo. Até a palheta de cores usada nesse mapa se parece com a do Coreldraw (reparem nos azuis).

Um mapa fragmentado não é coerente com a idéia da companhia de “integrar as regiões”, ligar cidades, enfim “unir” o país. Ficou tudo com cara de compartimentos isolados que, mesmo sobrepostos, ainda passam a idéia de caixas separadas, contradizendo a essência principal da Azul, que é a ausência de barreiras, de limites. Tudo o que vejo nesse mapa são limites!!

A escolha das cores é um capítulo à parte, não menos incoerente do que os demais. Empresas low-fare se orgulham de cortar custos, oferecendo passagens mais baratas por conta da economia que fazem. Daí vem um diretor de marketing (o mesmo da falida Transbrasil) e cria um símbolo gráfico que tem todas as cores. Cadê a economia? Qualquer pobre designer sabe que cada cor adicional no processo significa mais custos. Mais uma cor? Outra passagem de máquina. Mais uma cor? Mais um vinil de recorte. Mais uma cor? Mais uma linha no bordado. Mais uma cor? Mais uma mão de tinta. Custos, custos, custos, sem falar na questão ambiental, onde mais cor pode representar mais componentes voláteis orgânicos liberados na natureza, e lá vem super aquecimento. O dono da Azul se preocupa com o aquecimento das suas aeronaves, mas não se preocupa com o aquecimento do planeta.

Erro nº 5: A logotipia emprega uma clássica família tipográfica, a Helvética. Sempre atual, ela transmite segurança, solidez e seriedade, fundamentais numa empresa aérea como a nossa, focalizada primordialmente na segurança e na qualidade operacional”.

Além de um desenho incoerente com a visão do empresário, cores escolhidas sem critério, o diretor de marketing se orgulha da “logotipia” escolhida, a saber, Helvética. Em primeiro lugar, que história é essa de logotipia? Eu já ouvi falar de logotipo, icotipo, zootipo, geotipo, fitotipo, logo (como os franceses e norte-americanos usam), mas “logotipia”?

Em segundo lugar, usar Helvética, a família tipográfica símbolo da Suíça é “homenagear o Brasil”? Ei, cadê o conhecimento histórico tipográfico? A própria palavra “helvetia” significa “Suíça” em latim, e vem me dizer agora que usaram um símbolo nacional suíço pra homenagear nosso país?

Mesmo que não tivesse relação com outro país, o tipo Helvética é um tipo que perdeu sua personalidade, por ter sido associada com praticamente tudo no período modernista, principalmente na década de 70. Sabonetes pra cachorro, águas minerais, órgãos do governo federal, hidrelétricas, caneta de R$ 1,99, enfim, muitas marcas dividiram o uso dessa família tipográfica, do mesmo jeito que fizeram com AvantGarde, Futura, Times New Roman, Arial, dentre outras.

Imagine várias emissoras de TV que, querendo parecer diferentes, utilizassem a voz do Cid Moreira na maioria dos programas. Ou se todos os locutores imitassem a voz do Silvio Santos na Record, na Globo, na Bandeirantes ou MTV. Que personalidade eu poderia atribuir a esses locutores que se preocupam em imitar os outros? Nenhuma. Pois é isso que acontece quando se usa uma família tipográfica desgastada pelo uso. A identidade perde personalidade, a voz se torna comum e, ao invés de posicionar a marca como sendo única e especial, eu digo a todo instante que ela é tão igual quanto todas as outras. Igual à Webjet, que também é companhia aérea brasileira, e que usa um tipo sem-serifa estilo Helvética. Por acaso a identidade não é aquilo que identifica você, que lhe torna diferente? Faz sentido fazer uma identidade igual à de outros?

Mas como um tipo de letra tem tanta importância assim numa identidade? A família tipográfica é parte do que se chama “sugestão periférica”, que afeta a maneira como elaboramos as mensagens que recebemos via sistema de identidade visual. A teoria que explica como associamos determinada tipografia a uma marca, idéia, pessoa ou nome é a mesma do condicionamento clássico. Segundo ela, toda vez que apresentamos um determinado estímulo (ENC) acompanhado de outro (EC), obtemos uma reação não-condicionada (RNC). Quando sempre utilizamos Helvetica, acompanhada de um estímulo positivo, nos momentos em que não tiver mais esse estímulo, a família tipográfica sozinha é capaz de despertar as reações emocionais que o estímulo original gerava. Só que quando usamos Helvetica com estímulos diferentes, esse condicionamento simplesmente some, seja por habituação (estímulos repetitivos perdem efeito com o tempo) ou por falta de isolamento da relação tipografia-reação, que reduz a reação cognitiva esperada.

O diretor de marketing também defende a escolha da Helvética por acreditar que ela transmite segurança, solidez e seriedade. Esse é um discurso vazio, de quem quer justificar uma escolha sem critérios. Reflete também falta de conhecimento sobre o papel da identidade visual, pois não é a tipografia que significa isso ou aquilo. É o contexto que fornece significado, de modo que mesmo a melhor identidade visual pode se tornar inútil se for mal aplicada ou se o contexto for contraditório. Esse fenômeno tem o nome de dissonância cognitiva, que ocorre quando o argumento diz uma coisa, mas as sugestões periféricas dizem coisas diferentes.

Erro nº 6: O processo de criação e aprovação levou ao redor de oito semanas para ser concluído. Foram cinco rodadas distintas na criação da imagem e sua aplicação nas aeronaves, com opiniões vindas de todos os principais executivos da empresa.

De novo, não se criam imagens, elas são resultado do sistema de identidade. Uma identidade visual do porte de uma companhia aérea, criada em 2 meses, só podia dar nisso. Dois meses é o que se gasta no mínimo para fazer o levantamento da realidade institucional e comunicacional da empresa. “Cinco rodadas distintas na criação” é um nome chique para algo que lá em Barbacena tem outro nome: projeto mal-feito, que precisa ser refeito 5 vezes. A escolha dos elementos visuais de marca é um processo, e não um resultado. Quando feito da maneira correta, o sistema de identidade visual recebe o código adequado (cores, tipografia, símbolos, nome, logotipo, grafismos etc) sem precisar ser refeito, pois cada nova etapa do processo só acontece quando a anterior foi aprovada.

Erro 7: “Mais de 80 layouts diferentes foram examinados. O processo foi facilitado por um fator: David tinha certeza absoluta do que queria. Portanto, havia sempre um parâmetro claro para julgar as diferentes opções apresentadas”.

Apresentar oitenta layouts me parece mais insegurança do que um resultado de estudo fundamentado em escolhas adequadas. ”Já que vai ser na base da tentativa e erro, vamos dar vários tiros, pois quem sabe um deles acerta o alvo?” O que você pensaria de um arquiteto, médico ou advogado que precisasse de 80 tentativas pra atingir um objetivo?

Mostrar tantas opções e ficar esperando que o presidente da empresa faça a escolha, pode ser encarado como uma atitude positiva, de quem quer ter certeza de que todas as alternativas foram esgotadas e haverá menos chance de erro. Mas, também pode ser visto como o reflexo de um processo amador, onde houve tudo menos competência, juízo e responsabilidade, para lidar com algo tão importante quanto a identidade visual.

Jogo dos 7 erros: Identidade visual da Azul Linhas Aéreas.

Não sei se rio ou se choro. Vi a nova “identidade visual” da companhia aérea Azul e li o seguinte texto no site da empresa. O que vocês acham disso?

O trabalho foi desenvolvido ao cabo de três meses e contou com a participação direta do Chairman David Neeleman e de Trey Urbahn, vice-presidente de marketing da empresa. A criação é de Gianfranco Beting, diretor de marketing da Azul.

A marca da empresa é a representação do mapa brasileiro, revisitado através de uma livre interpretação dos Estados que compõem a República, mostrados de forma estilizada. No conjunto, mostram a imagem de um Brasil moderno, unido, exuberante, através da aplicação de uma cor-símbolo para cada um dos 26 Estados da União. Este mapa “pixelizado” é a peça central da imagem corporativa.

“O mapa é a representação clara, expressa, de nosso orgulho em servir o Brasil”, afirmou David Neeleman. “Ele sinaliza claramente nossa intenção em não apenas servir, como integrar todo o País.”

Como não poderia deixar de ser, as cores predominantes são distintos tons de azul, empregados através da ampla gama de utilizações da marca. Das aeronaves aos uniformes, de materiais impressos ao website, o azul de nossos céus é presença dominante, em contraponto à exuberância do mapa colorido.

“Queríamos uma imagem alegre, distinta, contemporânea, mas, sobretudo, eminentemente brasileira. Acredito que alcançamos nosso objetivo. A logomarca escolhida homenageia nosso país e nosso povo, sem, contudo, ter uma conotação ufanista. É o Brasil do amanhã, um Brasil moderno, que ajudaremos a construir e unir através de nosso trabalho”, resumiu David Neeleman.

Gianfranco Beting comentou alguns aspectos da nova logomarca: “O uso intensivo da cor, aliado a traços modernos, aponta para nossa visão deste País no futuro: moderno, vibrante, inserido num contexto global, mas sem perder sua exuberância e alegria, traços marcantes de nossa nação. A logotipia emprega uma clássica família tipográfica, a Helvética. Sempre atual, ela transmite segurança, solidez e seriedade, fundamentais numa empresa aérea como a nossa, focalizada primordialmente na segurança e na qualidade operacional”.

Esse orgulho ganha destaque na aplicação da nova imagem nas aeronaves. Gianfranco Beting explica as definições básicas: “Em primeiro lugar, ficou acertado o emprego da cor azul num tom mais escuro na parte inferior da fuselagem, que valoriza a esguia silhueta do Embraer 195. A parte superior na cor branca foi uma imposição de David, preocupado em facilitar a manutenção, diminuir a temperatura interna da aeronave e passar uma imagem de pureza, limpeza. O destaque do mapa na cauda valoriza a logomarca, ponto focal da imagem corporativa”.

Como toque final, as aeronaves ganharão faixas auxiliares em cores distintas, aplicadas na deriva, naceles dos motores, winglets e na fuselagem, de maneira a criar um diferencial para cada aeronave. Um aspecto que mostra que até mesmo pequenos detalhes foram pensados e discutidos exaustivamente, como explica Beting: “David e Trey foram fundamentais na definição das diretrizes básicas. O processo de criação e aprovação levou ao redor de oito semanas para ser concluído. Foram cinco rodadas distintas na criação da imagem e sua aplicação nas aeronaves, com opiniões vindas de todos os principais executivos da empresa. Mais de 80 layouts diferentes foram examinados. O processo foi facilitado por um fator: David tinha certeza absoluta do que queria. Portanto, havia sempre um parâmetro claro para julgar as diferentes opções apresentadas”.

Esse processo correu em paralelo com a escolha de nomes, mas Beting explica que a logomarca agradou de imediato. “O mapa do Brasil foi uma das primeiras propostas apresentadas e foi aprovado quase instantaneamente. Depois, uma vez escolhido o nome Azul, ele foi retrabalhado para se adequar à cor predominante.”

O primeiro emprego prático da nova identidade está neste website e entrou no ar simultaneamente com a entrevista coletiva de apresentação da nova imagem realizado dia 28/05. Nos próximos meses, o trabalho de normatização de uso e aplicação da imagem será concluído, a tempo de ser empregado em uniformes, impressos e nas aeronaves, que começam a ser entregues em dezembro próximo. A previsão de início de operações está prevista para o começo de 2009.”